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Mundo moderno

Por que somos aficionados por rankings, listas ou “top 10”?

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É cada vez mais relevante entre jornalistas, com o boom de acessos a matérias nos sites de jornais, saber o ranking das reportagens mais lidas na web. O interesse, presente em qualquer redação do mundo, está atrelado a uma busca interna por confirmação. Quanto mais alto na lista estiver o material, inocentemente raciocina-se, melhor é o assunto e a forma como foi coberto.

O referendo das listas – mais afetivo que racional – poderia ser entendido apenas como um tique da comunicação de massa. Mas sua presença se tornou um fenômeno em si mesmo. Perceba como é comum o uso de expressões como "top 10", "campeão" ou "o melhor" em conversas informais, quando obviamente não há uma análise de todos os elementos em questão. Se algo que nos agrada (ou repugna) não está em uma lista, criamos um rol imaginário no qual o precioso objeto possa despontar, ainda que solitariamente.

Atualmente, Curitiba participa de uma competição que definirá as Sete Melhores Cidades do Mundo. A lista está sendo elaborada pela mesma fundação que apontou as Sete Novas Maravilhas Naturais do Mundo – as Cataratas do Iguaçu saíram eleitas. A capital paranaense agora disputa o título com 300 cidades de diferentes países, após eliminar outras 900 na primeira fase.

A estratégia de selecionar sete cidades em meio a 1,2 mil, de certa forma, aponta às demais o que lhes falta. O processo remete a uma primitiva forma de erudição, quando a humanidade ainda tinha uma imagem amplamente imprecisa do universo. O escritor italiano Umberto Eco lembra em seu livro A Vertigem das Listas, lançado em 2010 no Brasil, que definir e enumerar elementos é uma forma de estabelecer conhecimento. Eco, especialista em Idade Média, aponta as enciclopédias e sumas teológicas como uma proposta para fornecer formas definitivas ao universo material e espiritual. Santo Enódio, no século V, define Cristo a partir de uma longa lista de substantivos: "fonte, via, direita, pedra, leão, lucífero, cordeiro, porta, esperança" e por aí vai.

Do esforço de definição plena na alta Idade Média, a lista se revigora após o Renascimento, quando o Barroco apresenta à humanidade, pela primeira vez na história, a noção de excesso. A partir de então, o esforço não é por montar um corpo de conhecimento definido, mas retirar tudo o que não é essencial e atrapalha o entendimento.

Tudo pronto

A história das listas chega ao final do século 20 com a pretensão de refilar a enorme quantidade de informação disponível, principalmente a partir do advento da internet. O elenco pré-fabricado do que é essencial em uma área se torna necessário quando é impossível descobri-lo pelo método tradicional de pesquisa (recolhimento, análise e seleção do material). "Isso é reflexo de uma necessidade de orientação. As pessoas estão se acostumando a receber o conteúdo pronto e pasteurizado, se livrando da obrigação de escolher – um processo onde existe a possibilidade de ocorrerem experiências ruins", analisa o coordenador do curso de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Naim Akel Filho.

Para ele, o fenômeno é uma característica da sociedade contemporânea, forçada – e acostumada – a absorver cada vez mais informação. "É uma questão neurofisiológica. O cérebro se acostuma a determinados estímulos e passa a necessitar deles. O excesso de dados disponíveis cria a necessidade de sempre se estar sabendo das coisas. Ainda que aquilo seja inútil", explica.

Escolhas e gostos padronizados pelo outro

Uma entrevista concedida pelo presidente norte-americano Barack Obama à revista Rolling Stone, em 2010, rendeu comentários dos analistas políticos daquele país durante semanas. A polêmica, entretanto, não estava relacionada à crise econômica, à guerra no Afeganistão ou ao vazamento de petróleo no Golfo do México. A parte mais interessante de sua fala surgiu após a pergunta: "o que tem em seu iPod?"

Os analistas perceberam que o catálogo de artistas preferidos de Obama era tão político quanto o próprio presidente. Cui­dadosamente, Obama citou um músico saído da cultura negra absorvido pelos brancos (Stevie Wonder) e logo depois um branco crítico e engajado à luta pelos direitos civis (Bob Dylan). Roqueiros hedonistas e estrangeiros (Rolling Stones) e jazzistas introspectivos (Miles Davis e John Coltrane). As escolhas musicais sempre apontam para a convergência e o consenso, assim como a postura política do dono do aparelho.

Pertencimento

O presidente norte-americano replica um comportamento amplamente identificável na sociedade. O rol dos gostos pessoais funciona, sobretudo, como mecanismo de pertencimento. "Os padrões se impõem muito fortemente entre nós. Temos uma necessidade em saber o que os outros vestem, ouvem, leem, comem, enfim, o que consideram normal. Porque não queremos ficar de fora", explica o coordenador do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Ca­­tólica do Paraná (PUCPR), Naim Akel Filho.

Com a amplitude de informações e o consequente aumento nas possibilidades de escolha, até a adoção de padrões exige esforço, pois começa a ganhar escala. Em 2006, a editora Sextante, famosa por publicar os best-sellers de Dan Brown no Brasil, publicou um guia intitulado 1000 Lugares para Conhecer antes de Morrer. Devido à boa resposta do público (270 mil exemplares vendidos), a editora investiu em outros títulos da série. Seguiram-se Filmes, Discos, Vinhos, Dias que Mudaram o Mundo, Invenções que Mudaram o Mundo, Comidas, Maravilhas Naturais e Cervejas.

A venda somada desses títulos ultrapassa os 600 mil exemplares. "As listas nos ajudam muito em meio a essa enxurrada de lançamentos. São importantes para encontrar clássicos que nunca perdem o interesse e que a pessoa não descobriria simplesmente saindo por aí", destaca um dos sócios da editora Tomás Pereira. "Acredito que o principal consumidor seja o público leigo, que quer ter alguma referência."

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