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| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Uma polícia mais humana e compreensiva. É a proposta principal do policial canadense Ward Clapham, responsável por desenvolver um trabalho modelo na cidade de Richmond, região metropolitana de Vancouver. Por meio do policiamento comunitário, ele conseguiu estreitar as relações com os moradores, reduzir denúncias contra jovens delinquentes e custos processuais.

Ward esteve em Curitiba nesta semana para falar sobre suas experiências:

Quais são as lições que o senhor extraiu da experiência de Richmond e que agora partilha em suas palestras?

É importante dizer que não acredito que todas as ideias usadas no Canadá podem funcionar aqui ou em outros lugares. O nosso trabalho é uma espécie de evolução do policiamento de comunidade, e consiste em travar parcerias com ela. A aplicação da lei é apenas uma das muitas estratégias, e embora seja necessária, não é exatamente a coisa certa a fazer em todas as situações. A outra lição é a confiança. Mais do que nunca, quando a comunidade confia na polícia e vice-versa, muitas coisas podem acontecer rapidamente.

E como é construída essa relação de confiança?

Uma das coisas que percebemos é que essa estrutura e esse gerenciamento de comando não funciona quando você está tentando desenvolver um relacionamento e resolver problemas em uma comunidade. Você precisa de algo que nós chamamos de liderança compartilhada. Obviamente a estrutura tradicional é importante em situações de crise, porque você precisa conduzir uma investigação e coletar evidências com precisão. Mas em 80% dos casos a polícia não está lidando com crises. Todos do meu departamento foram treinados para serem líderes, e ao mesmo tempo instruímos a população sobre o policiamento comunitário. A população sugere soluções e nós estudamos a possibilidade de implementá-las.

A flexibilização das leis não é prejudicial?

Eu acho que não. Toda situação é analisada sob a melhor forma de prevenir o crime, de maneira que ele nunca mais ocorra. E há situações em que o reforço da lei é o melhor. A gente tinha muitos jovens cometendo crimes, e nós resolvemos instaurar a Justiça Restaurativa, um modelo adotado na Austrália [em que as partes envolvidas no crime decidem juntas como vão resolver os casos]. 95% dos jovens que passaram por isso nunca mais cometeram crimes, e muitos eram reincidentes.

Cooptar a juventude parece ser um trabalho difícil para um policial. Como vocês conseguiram fazer isso?

Simples: distribuindo coisas grátis. A gente tem esses tíquetes positivos, dados para jovens fazendo coisas boas, e que davam acesso a mini-golf, skate, natação, pizza grátis. Os jovens nos procuravam pelas coisas grátis, mas eu não me importava, era um bom quebra-gelo. Depois da quinta ou sexta vez eles falavam "Bom dia, Ward" ou "Olá, oficial Ward, como você está?". E eu respondia "E aí, Johnny, o que você está fazendo hoje?", e a gente começava a conversar com eles. Quando você só entra em contato com os jovens quando eles estão fazendo algo ruim, você cria uma relação negativa com eles. Eu quis tentar uma abordagem positiva.

E isso ajudou nos resul­tados?

Tivemos uma redução de 50% nas denúncias contra jovens delinquentes, mas isso não foi só por causa dos tíquetes. Fizemos uma tonelada de intervenções, e já fazemos esse trabalho há 12 anos. E quando tivemos uma crise de violência em 2009 e Richmond resistiu, foi porque as crianças cresceram junto de nós, e nós já conhecíamos todas elas. Claro, elas pensam duas vezes antes de fazer uma besteira nessa situação. E quando você tem esse tipo de relacionamento com a garotada, quem vem de braços abertos para parcerias? Os pais, proprietários de estabelecimentos. Porque todos nós queremos cuidar das crianças, que são o futuro.

Essas iniciativas reduziram o custo da polícia?

A Justiça Restaurativa custa um décimo do valor de uma sessão de tribunal tradicional. Os contribuintes sempre gostam quando você gasta menos o dinheiro deles, ou quando gasta de maneira mais inteligente. A polícia é cara, você precisa usá-la de modo inteligente. São profissionais inteligentes e muito bem treinados para fazer trabalhos que um civil poderia fazer. Não quero ser desrespeitoso, mas você precisa realmente de todos os policiais atendendo um call center? Por quê não um só policial só supervisionando o trabalho de 20 civis?

O que é preciso para repensar o trabalho policial e promover mudanças?

Tudo isso é ótimo para os que estão começando agora porque pra eles é fácil. Mas para os que estão fazendo a mesma coisa há 20 anos e que agora são impelidos a fazer algo diferente é difícil. Alguns são muito resistentes à mudança, especialmente se são mais velhos, ou se estão mais confortáveis em suas posições. A mudança não é fácil, mas continuar fazendo a mesma coisa não está funcionando. É preciso paciência, coragem, compaixão e principalmente, tempo.

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