| Foto:

Público-alvo

Aluno deve ter maturidade para trabalho

Apesar de haver uma banalização do corpo na mídia, sexo ainda é tratado como um tema tabu, evitado por famílias e escolas, por isso o trabalho sobre a pornografia teve tanta repercussão. Essa é a opinião de Rodrigo Nejm, psicólogo e coordenador da ONG Safernet. Para ele, a escola deve trabalhar com urgência com o tema da sexualidade, assim como a sexualidade na internet. "Os adolescentes já usam a internet para tudo e quem usa a net está sujeito a encontrar todo o tipo de informação." Segundo pesquisa feita pela Safernet, 12% dos adolescentes publicam fotos íntimas, 22% namoraram pela web e 40% já tiveram acesso a conteúdo impróprio para sua idade. "Cada professor tem de saber se os alunos têm ou não maturidade para fazer uma pesquisa como esta [sobre nu artístico e pornografia] na internet, ou isso se torna um risco muito grande. Os alunos podem ter má interpretação", diz.

CARREGANDO :)

Um pedido de pesquisa durante uma aula de Educação Artística colocou o Colégio São Vicente de Paulo, em Araucária, região metropolitana de Curitiba, no centro de uma polêmica com repercussão nacional. A professora Carla Cardoso, que abordava com os alunos a presença do corpo nu na arte, pediu que, em duplas, os estudantes de uma turma de 7.ª série entregassem um trabalho escrito com a explicação da diferença entre nu artístico e pornografia. A ideia não agradou aos pais dos alunos, que reclamaram no próprio colégio e procuraram a imprensa.Segundo a coordenadora pedagógica da escola, Beatrice Mora, às 7 horas de ontem, assim que houve a primeira reclamação de um pai, a professora foi chamada e foi decidido que o trabalho, com o tema "Erotização e Pornografia", seria redirecionado. "Somos uma escola católica, que trabalha valores, e admitimos a falha da professora em pedir uma pesquisa muito ampla. Realmente faltou um direcionamento específico para o trabalho e entendemos que, ao pesquisar o tema pela internet, podem surgir informações e imagens impróprias", diz.

Ainda ontem, os alunos, que têm em sua maioria 12 e 13 anos, foram informados de que o tema continuará a ser trabalhado, mas com pesquisa em endereços de sites específicos. "Hoje, 95% das pesquisas são feitas pela internet e sempre indicamos os endereços de referência. Desta vez essa lista ficou faltando, mas os alunos já a receberam", conta Beatrice, que no fim da tarde de ontem publicou no site da escola uma nota de esclarecimento aos pais. De acordo com a coordenadora, ao menos cinco famílias procuraram o colégio, algumas para pedir explicações, outras para reclamar do que os filhos encontraram na internet ao pesquisar pelas palavras-chave.

Publicidade

Adolescentes

Como o sexo sempre foi assunto discutido dentro de casa, o filho da pedagoga Adriane Kokubo contou com naturalidade aos pais sobre o trabalho que faria com um colega. "Para eles, que já são adolescentes, o tema não tem nada de mais. Mesmo assim, ficamos preocupados com o que poderiam encontrar na internet. Por isso eu e meu marido fizemos a pesquisa junto com eles, para saber selecionar as informações", conta Adriane. Ela foi uma das mães que foi até a escola ontem para pedir esclarecimentos. "Fomos atendidos na mesma hora, e muito bem. A professora viu que foi um erro dela e foram tomadas as medidas necessárias sem nenhum problema", diz a pedagoga.Segundo a escola, o tema nu artístico e pornografia continuará sendo abordado em sala de aula e em trabalhos por se tratar de um tema que faz parte do currículo pedagógico. "Esse trabalho é feito há vários anos, abordando o nu desde a Pré-História, com vários artistas. O que houve foi um mau encaminhamento. O objetivo final era a discussão sobre o uso da imagem do corpo pela arte e sobre a exploração apelativa que o nu tem na mídia, para venda de produtos ou em novelas. Eu entendo a preocupação dos pais, mas também sabemos que eles assistem televisão ao lado do filho e têm contato com imagens cada vez mais erotizadas. É uma hipocrisia. Vamos continuar falando no assunto porque ele é importante, mas mudamos o direcionamento", diz a coordenadora.