Os tapumes que ocupam algumas esquinas de Curitiba podem esconder riscos para a população. Atualmente há pelo menos 30 postos de gasolina abandonados na cidade e não há garantia de que as bombas tenham sido totalmente esvaziadas e lavadas. O perigo de vazamento e explosão existe, até porque os tanques não passam por manutenção e muitas vezes os estabelecimentos abandonados são ocupados por moradores de rua, que fazem fogueiras para se aquecer.
Em julho, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) revogou a autorização para revenda de combustíveis de 229 postos do Paraná, 9% do total de 2,7 mil estabelecimentos no estado. As irregularidades envolviam venda de combustível adulterado, cadastro vencido junto à ANP, falta de alvará ou licença ambiental e sonegação fiscal. Só em Curitiba, 28 postos foram impedidos de operar.
Um levantamento do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Derivados de Petróleo e Lojas de Conveniência do Paraná (Sindicombustíveis-PR) indica que, dos 28 postos que tiveram o registro cassado em Curitiba, 27 fecharam as portas. Antes, já havia alguns desativados na cidade para reformas ou manutenção.
Vapor
Segundo especialistas, o que aumenta o risco no caso dos postos abandonados são os tanques com pouca gasolina, que acumulam gás e podem se transformar em verdadeiras bombas caso sofram alguma fissura. "O risco existe, porque na verdade o perigo é o vapor. Se tem pouco combustível no tanque, tem vapor", explica o professor Carlos Itsuo Yamamoto, do Laboratório de Análise de Combustíveis da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Tem que cuidar para que não haja nenhum vazamento no tanque, mas se ficar muito tempo abandonado ele pode furar."
Em relação aos postos de combustíveis, o Corpo de Bombeiros só atua na expedição e na renovação do alvará. Mas, de acordo com o tenente Fabrício Frazatto, os estabelecimentos abandonados podem ser uma fonte de problemas. "O grande risco de combustão é quanto aos gases, porque tanque cheio só explode em filme. Um tanque abandonado, com pouco combustível, pode sofrer atrito. Se alguém joga pedras nele, já há risco", afirma. "Para que haja combustão deve haver um fator de ignição, que pode ser até um telefone celular."
Para o inspetor Maurício Hugolino Trevisan, especialista em produtos perigosos da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Paraná, o ideal seria que os tanques fossem lavados depois de esvaziados. "Geralmente o líquido é retirado, mas o gás permanece", diz ele. "Situações como essa podem gerar explosões de grandes proporções, porque sempre haverá gás no tanque." Segundo Trevisan, há três condições para que ocorra uma explosão. "É preciso um tripé: o combustível, o comburente (corpo que mantém a combustão) e o calor. O calor vem do fogo, o combustível é o gás e o comburente é o oxigênio", explica. "O combustível tem a parte líquida e a parte gasosa. O gás se torna mais perigoso, porque escapa por qualquer fissura."
Fiscalização
Em Curitiba, a fiscalização das condições de segurança em edificações e estabelecimentos comerciais é feita pela Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi), órgão ligado à Secretaria Municipal de Defesa Social. Segundo o coordenador da Cosedi, Hermes Peyerl, a orientação em relação aos postos abandonados é para os proprietários colocarem tapumes e contratarem vigias. "Mantemos a vigilância, mas os piores problemas foram resolvidos", afirma Peyerl. "Já tivemos o registro de explosões, mas os proprietários estão mais cuidadosos. Não tivemos mais reclamações de vazamentos ou cheiro de gasolina."
A Cosedi não tem nenhuma vistoria programada nos postos. "Presumo que o combustível não fique, porque ele se deteriora e causa prejuízo. A princípio não existe risco (de explosão). Só se a bomba for violada", diz Peyerl. A Cosedi pode ser acionada pelo telefone 156, da prefeitura de Curitiba.
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