O ministro da Saúde, Marcelo Castro, anunciou que o governo federal passará a oferecer nas unidades de saúde, a partir do mês que vem, testes rápidos que poderão diagnosticar, em uma só análise e em poucos minutos, dengue, chikungunya e zika. De acordo com Castro, a ferramenta será importante para confirmar o diagnóstico, uma vez que as três doenças têm sintomas semelhantes. Serão encomendados, até o fim do ano, 500 mil kits para fazer os três diagnósticos. A prioridade para a realização dos testes serão as mulheres grávidas, já que o zika vírus está associado à microcefalia, má formação do crânio dos bebês.
“O Instituto Bio-Manguinhos, que é da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), órgão do Ministério da Saúde, desenvolveu um kit diagnóstico que vamos provavelmente distribuir agora em fevereiro”, declarou o ministro. O vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico do Instituto Carlos Chagas, Marco Krieger, explicou que o resultado dos exames sairá em duas ou três horas.
Atualmente, o diagnóstico da doença é feito por meio do teste PCR, disponível apenas em alguns hospitais particulares e em laboratórios públicos de referência, como o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Em média, o resultado demora de uma a duas semanas para sair.
Atualmente, não há nenhum produto comercial feito especialmente para a identificação do vírus zika, que chegou ao Brasil no ano passado, já atinge 20 estados e é relacionado como provável causa da explosão de casos de microcefalia no país. Até agora, os diagnósticos de zika têm sido realizados por meio de metodologias que têm por base a busca do genoma do vírus, como o exame PCR. Tais exames não podem ser feitos em larga escala, pois são demorados, trabalhosos e caros.
Segundo a Fiocruz o custo para a realização do diagnóstico por meio dos kits será de US$ 20 (R$ 80) por teste, contra cerca de R$ 900 em laboratórios privados. O desenvolvimento do kit para diagnóstico simultâneo dos três vírus foi um trabalho conjunto do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e do Instituto Oswaldo Cruz, com apoio do Instituto Carlos Chagas, do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães e do Instituto Bio-Manguinhos, da Fiocruz.
Além do teste específico para zika, outros cinco kits comerciais estão em análise na agência. Todos estão sendo avaliados em caráter prioritário. Dois dos produtos servem para diagnóstico de arboviroses (doenças transmitidas por artrópodes, como insetos) em geral, dois para dengue e outro, para chikungunya.
Como não há um exame específico para zika, não há ao certo como saber quantas pessoas já tiveram a doença no país. A estimativa é de que pelo menos 500 mil pessoas tenham se infectado pelo vírus no ano passado. Cerca de 80% dos infectados não apresentam sintomas.
Imunizante só em três anos
Um imunizante contra a doença, no entanto, só deverá estar disponível, na previsão mais otimista, em um período de três a cinco anos, conforme informou o diretor do Instituto Butantã, Jorge Kalil. “A gente acredita que consegue chegar aos testes em macacos em um ano. Se eu conseguir isso e tiver um produto que seja um bom candidato para testar em humanos, vou levar seis meses para fazer a fase 1, mais seis meses para a fase 2 e mais seis meses para a fase 3. Eu estou cortando tudo em prazos mínimos. Se conseguirmos cortar todos os passos, acredito que, em três anos, a gente tenha alguma coisa. Com algum atraso, pode chegar a cinco anos”, disse.
O período de três anos, porém, não considera todos os prazos necessários para trâmites burocráticos, como a aprovação na Anvisa do início da pesquisa em humanos e de cada fase do estudo. “Em condições normais, o desenvolvimento de uma vacina demora, em média, de 10 a 12 anos”, disse Kalil. A ideia do Butantã para tornar o desenvolvimento da vacina contra o zika mais rápido é usar o vírus atenuado da dengue, que já foi desenvolvido pelos pesquisadores da instituição, e inserir um gene do zika vírus para testar se ele confere imunidade.
Repelente
O ministro da Saúde ainda recuou em sua promessa de distribuir repelentes para todas as gestantes brasileiras. No mês passado, ele havia anunciado a medida como certa, contando com a parceria do laboratório do Exército, que declarou não ter capacidade para produzir o produto. “O Exército e todos os laboratórios do país juntos não estão preparados para produzir essa quantidade de repelente que nós precisamos de imediato. Então essa possibilidade de distribuir para todos não vai haver, infelizmente.”
Viagens dos EUA
Ao ser questionado sobre a recomendação das autoridades de saúde dos Estados Unidos para que grávidas evitem viagens ao Brasil e a outros países onde o vírus zika está se espalhando, o ministro da Saúde considerou o alerta prudente. “Não foi uma recomendação para não virem, mas para tomarem certos cuidados. Não podemos achar exagero se estão recomendando o mesmo que nós”, afirmou, mencionando cuidados como o uso de repelente e roupas que evitem a exposição ao mosquito. “Estamos vivendo uma epidemia de microcefalia e a gestante deve fazer tudo para não ser picada.”
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