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Atividade física

Postura castigada pelo tempo tem recuperação

Márcia Takai (ao centro) e as alunas Ingrid (esq.) e Benedita: realinhamento postural com alongamento e trabalho de força para eliminar dores e garantir mais autonomia | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Márcia Takai (ao centro) e as alunas Ingrid (esq.) e Benedita: realinhamento postural com alongamento e trabalho de força para eliminar dores e garantir mais autonomia (Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo)

Segurar uma panela ou um copo, fechar o sutiã ou coçar as próprias costas são ações corriqueiras que podem significar grandes sacrifícios para quem tem comprometimento motor por causa de doenças degenerativas ou vícios de postura. A idade avançada é um dos fatores que contribuem para essa condição: osteoporose, artrites, artroses, problemas de coluna, sobrepeso, problemas neurológicos, ortopédicos e anos de má postura geram efeitos cumulativos que alteram o funcionamento músculo-esquelético do indivíduo. "O idoso sofre com a perda de elasticidade e tônus muscular. Essas condições podem ser agravadas por maus hábitos físicos e alimentares, além do se­­­dentarismo", observa o médico ortopedista Celso Mendonça, do Hospital das Nações, de Curitiba. A perda de massa óssea, por exemplo, estimada em 1% ao ano em mulheres após a menopausa, está diretamente ligada à saúde dos ossos e, consequentemente, aos efeitos disso sobre a postura. Deformidades severas na coluna, como a cifose senil – aquela corcunda mais acentuada nos velhinhos –, e mesmo o achatamento da coluna vertebral, que provoca a redução na altura em idosos, são causadas pela osteoporose. "São microfraturas nos ossos que alteram a curvatura da coluna. Há compactação das vértebras e redução do espaço entre elas", explica o médico.

As doenças degenerativas também têm impacto na postura, mesmo que seus efeitos não sejam sobre o esqueleto ou grupos musculares, porque podem desencadear um mecanismo de compensação. O paciente sente dor ou desconforto ao realizar um movimento, por exemplo, e altera o alinhamento postural para compensar a sensação ruim. Isso muda todo o equilíbrio físico e compromete as demais articulações. Um joelho afetado pela artrite, por exemplo, pode alterar o padrão da caminhada, o alinhamento do quadril, da coluna e até o movimento dos braços. "É como o amortecedor de um carro. Se ele está com problemas ou desalinhado, acaba interferindo em todo o veículo", diz. Outro risco desse mecanismo de compensação é a interação medicamentosa. Para conseguir alívio de dores crônicas, provocadas por desajustes posturais, o paciente pode consumir analgésicos, nem sempre com indicação médica. Combinado com outros medicamentos que fazem parte da rotina do idoso, o bolo químico pode ser perigoso para a saúde.

Mexa-se!

A regra para prevenir problemas de saúde é conhecida: alimentação equilibrada, sem fumo e bebida alcoólica, e com exercícios físicos. "O sedentarismo deixa articulações ainda mais rígidas. O exercício moderado constante, ao longo da vida, ajuda a adiar essa degeneração", diz o médico.

Se já passou o tempo para prevenir, o exercício pode ser usado como tratamento. O realinhamento postural, por exemplo, trabalha com fortalecimento muscular e alongamento para promover a consciência corporal. Isso ajuda o praticante a observar situações em que o corpo está sendo penalizado por algum sintoma que provoca dor, e corrigi-lo o mais rápido possível. A educadora física Márcia Takai, coordenadora do programa Maturidade Ativa, da Academia Gustavo Borges, em Curitiba, explica que os desvios posturais podem alterar movimentos de braços, ombros, pernas e causar problemas na coluna cervical e lombar. "Muitos idosos perdem a sensibilidade na planta dos pés, porque já caminham de maneira errada. Essa atitude simples pode afetar todo o alinhamento, provocando dores e limitando movimentos do restante do corpo", diz. O trabalho que Márcia desenvolve também valoriza as três fases da respiração, que acabam negligenciadas no dia a dia. "É preciso usar o abdômen, o diafragma e o peitoral para respirar. Isso muda toda a percepção corporal da pessoa." O programa de realinhamento que coordena usa técnicas de Pilates associadas ao alongamento consciente. "É preciso saber como o corpo funciona, desde a distribuição do peso nos pés até a respiração", diz.

A violinista aposentada Ingrid Berge, 79 anos, sabe bem como as dores no corpo podem comprometer a autoestima. Antes de frequentar as aulas de realinhamento postural, sofria para cumprir tarefas simples, como vestir-se sem ajuda. "Ago­­ra consigo coçar minhas costas e fechar meu sutiã", brinca. Uma ação banal que tem importantes reflexos também na autonomia. "Antes não saía de casa por causa das dores nas pernas e na coluna. Hoje cumpro meus compromissos no conservatório e pego ônibus para ir a todos os lugares", conta.

Aos 64 anos, Benedita Luiza Menna Gonçalvez Kinoshita sabe que a rotina diária de atividades físicas é o que mantém a fibromialgia e a artrose sob controle. A bancária aposentada ia trabalhar a pé, e caminhava uma média diária de três quilômetros. Mas desde a aposentadoria, em 1994, intensificou a prática de exercícios. "Tanto que a minha médica pediu para eu reduzir o ritmo. Agora, faço hidroginástica três vezes por semana e realinhamento postural nos outros dias", conta. Benedita ainda caminha meia hora por dia na esteira ergométrica que tem em casa. A dedicação aos exercícios tem fundamento. "Já sofri muito com as dores e nunca fui sedentária. Imagina se não fizesse ginástica. Só o que eu ganho em disposição já compensa."

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