Pouco anos de estudo têm reflexos na balança e, consequentemente, na saúde da população. Como mostra a pesquisa Vigitel 2014, divulgada em abril pelo Ministério da Saúde, a prevalência de obesidade e sobrepeso no país é maior entre as pessoas que estudaram menos anos.
Veja mais detalhes da pesquisa Vigitel no infográfico
Conforme o levantamento, a prevalência de excesso de peso entre os que frequentaram a escola por até oito anos é de 58,9% . No outro extremo (os que têm 12 anos ou mais de escolaridade), o excesso de peso corresponde a 45% . Em Curitiba, a prevalência da obesidade é de 19% e de excesso de peso, 54%.
Mulheres
A influência da escolaridade na balança é mais acentuada entre as mulheres. Pesquisa Vigitel 2013 mostra que, no grupo feminino com menos anos de estudo, o excesso de peso chega a 58,3% . Entre as mulheres com 12 anos ou mais de escolaridade, a prevalência é de 36,6%. Entre os homens, essa diferença é inferior a 1 ponto porcentual.
Quando se trata da obesidade, a frequência é de 22,7% entre a população com pouco estudo e de 12,3% no grupo com maior escolaridade (veja mais no gráfico ao lado).
Os números só expõem mais uma vez um problema de saúde pública que começou a ser detectado na população brasileira em 1989: o aumento da obesidade e excesso de peso entre os indivíduos sem escolaridade ou com poucos anos de estudo. Pesquisas mostram que esse quadro ocorre, principalmente, na área urbana e em países de maior Produto Nacional Bruto per capita.
Dificuldade de acesso a alimentos in natura, falta de conhecimento para escolhas saudáveis, pouco acesso a locais para se exercitar e até falta de tempo para se dedicar a uma alimentação mais balanceada e a exercícios físicos. São muitas as hipóteses para esse fenômeno. E são muitas também as frentes de combate ao problema, que pesa nas contas do Sistema Único de Saúde (SUS) e no orçamento familiar.
No SUS, cerca de 2% dos gastos com tratamentos de média e alta complexidade são relacionados a problemas causados pela obesidade. Na tese de doutorado defendida na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), a nutricionista Daniela Silva Canella mostra que famílias com indivíduos obesos apresentam um gasto privado com medicamentos 11% maior em relação às que não têm pessoas nessa situação
Para o médico cardiologista Edevar Daniel, professor do setor de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná e coordenador do Mais Médicos no estado, o combate ao problema vai além de ações em saúde. Um dos caminhos citados por ele é que a educação alimentar passe a ser abordada em sala de aula. “Dessa forma, o estudante pode se tornar um agente transformador dentro de casa.”
Os jovens também são foco do Ministério da Saúde. Em 2011, a pasta lançou um plano para reduzir a prevalência da obesidade entre crianças e adolescentes e deter o crescimento da doença em adultos. O programa envolve ações que vão desde o incentivo ao aleitamento materno até um acordo com as indústrias de alimentos para reduzir os teores de sódio, gorduras e açúcares nos alimentos.
Diretor de atenção primária à saúde de Curitiba, o médico Paulo Poli defende atitudes mais amplas. Para Poli, são necessárias ações que interfiram na cultura de pouco movimento e muita comida. “Quem está abaixo do peso hoje, tende a engordar com o tempo. Isso porque estamos inseridos em uma sociedade que te faz comer muito e se locomover pouco, isso precisa mudar.”
Grupo ataca obesidade em diferentes frentes
- Guarapuava
- Mariana Rudek, especial para a Gazeta do Povo
Em 2013, um sinal de alerta acendeu em Guarapuava, nos Campos Gerais: um levantamento feito em escolas do município detectou mais de 800 alunos com obesidade infantil. Como resposta ao número,o Núcleo de Apoio à Saúde da Família da cidade criou o Grupo Mais Saúde.
Atualmente, cerca de 50 pessoas participam do programa, que trata da obesidade em crianças e adultos. Divididos em subgrupos, por faixas etárias, os participantes têm acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, que envolve nutricionista, psicóloga, fisioterapeuta e fonoaudióloga.
“A obesidade pode vir de vários fatores. O trabalho com as diferentes áreas apresenta melhores resultados. Além da dieta, os pacientes têm orientações de mastigação, exercícios físicos e acompanhamento psicológico. Além disso, todos têm acompanhamento no posto de saúde. Os enfermeiros aferem a pressão arterial e acompanham de perto a evolução de cada caso”, relata a nutricionista Daniella Taborda, integrante da equipe.
No caso do Mais Saúde infantil, todas as crianças participantes praticam natação num centro de atividades aquáticas mantido pela prefeitura da cidade. Os adultos são direcionados para outros programas de esporte oferecidos na rede pública.
Para Emily Kingerski de Campos, de 7 anos, além da perda de peso, o programa ajuda a diminuir os sintomas da bronquite e da asma. “Agora eu consigo correr sem cansar muito rápido e pular corda”, diz Emily.
A mudança comemorada na rotina tem relação com novos hábitos à mesa. De bolacha recheada a garota confessa que nunca gostou, mas frutas e verduras eram raridade no prato até pouco tempo. “Sabe de uma coisa? Como pode a pimenta ser tão pequena e tão ardida? E o pimentão que é enorme ser uma delícia?”, diz a agora conhecedora de vegetais.
Enquanto isso, Thallyta Vitória Penteado Vieira, de 9 anos, observa. Depois de explicar em poucas palavras a pirâmide alimentar, ela confessa. “Antes eu comia muito desses aqui”, indicando a parte mais alta da pirâmide, onde estão um sorvete, um bom-bom e um refrigerante. “Agora eu como muito mais desses”, completa apontando os legumes e carboidratos.
“Todo esse ensinamento serve para nós também. Nós que de certa forma deixamos que comessem de mais as coisas que fazem mal”, diz a mãe de Thallyta, Jorgete Penteado Vieira.
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