Análise
Para especialista, escola fica mais impessoal no ensino médio
Especialista em avaliação educacional, o matemático Ruben Klein afirma que, embora reformas curriculares sejam necessárias, um professor atuante e consciente é fundamental para melhorar os índices do ensino médio público brasileiro. "Quem lida com o aluno é o professor. É preciso mudanças para acabar com as repetências absurdas, sobretudo na primeira série."
De acordo com Klein, os índices do ensino médio são piores porque a defasagem do conhecimento vai aumentando progressivamente com a série. Além disso, acrescenta, a escola tende a ficar cada vez mais impessoal e menos acolhedora. "Nos anos iniciais é um professor por turma, escolas menores. Depois, do 6.º ao 9.º ano, vai ocorrendo um distanciamento, um professor por matéria. No ensino médio, esse choque é maior ainda."
Para mudar essa realidade, Klein defende a conscientização do professor e da administração escolar. "A direção precisa criar esse ambiente mais amigável, que acolha, ofereça atividades de reforço. Também é preciso mudar a maneira da aula, procurar uma maneira mais moderna de atrair o aluno. Só expositiva não funciona." Embora a capacitação do docente seja necessária e importante, o especialista acredita que é fundamental um controle de como o resultado é aplicado em sala de aula. "Tem de ter um material para usar com o aluno, testes formativos para verificar esse retorno em sala, senão, tudo pode acontecer."
Temáticas
Segundo a chefe do departamento de educação básica da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Telma Faltz Valério, a formação será dividida em três horas presenciais e outras três individuais, dentro das horas-atividade remuneradas dos docentes. A formação será feita com o apoio de cadernos temáticos. "A Seed também já vinha diagnosticando as defasagens no ensino médio. Nossa ideia é casar esse material com produções de universidades estaduais, para refletir sobre as respostas que o ensino médio não está dando. As propostas se agregam", defende. Os cadernos de formação da primeira etapa estão no site do Observatório do Ensino Médio, da professora Mônica Ribeiro da Silva: http://observatorioensinomedio.wordpress.com/cadernos-de-formacao/
Dez entre 100 alunos que se matricularam no ensino médio em escolas públicas brasileiras, em 2012, abandonaram as aulas antes do fim do ano letivo, e outros 13 reprovaram. Os piores índices foram registrados na primeira série, quando 13% dos alunos desistiram de frequentar a escola e quase 18% não avançaram para o segundo ano. No Paraná, segundo o Censo Escolar da Educação Básica, o índice de abandono durante todo o ensino médio foi um pouco menor (7%), mas o de reprovação superou o nacional (14%). A melhoria dos chamados indicadores de fluxo é uma das metas do Pacto Nacional para o Fortalecimento do Ensino Médio, um programa federal com foco na formação continuada de professores, lançado oficialmente ontem no estado.
INFOGRÁFICO: Veja qual a iniciativa para melhorar o ensino médio no Brasil
Coordenadora nacional do pacto, a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Mônica Ribeiro da Silva explica que a contenção do abandono escolar e a universalização do ensino ainda são os maiores desafios na área. "É preciso que a escola faça sentido para a vida desse jovem, não só para o vestibular, senão, ele acaba abandonando. Além disso, o ensino médio ainda nem é visto em nosso país como um direito, apesar de previsto na Constituição Federal", acrescenta. Segundo ela, uma das medidas mais importantes para lidar com o problema é envolver o professor na discussão de como o conhecimento escolar pode ser reorganizado, de maneira a fazer sentido para os jovens.
O pacto, portanto, é uma ação do Ministério da Educação junto às secretarias estaduais. "A ação prioritária é a formação continuada de professores, por meio das secretarias estaduais, em parceria com as universidades locais", detalha Mônica.
Como funciona
Na prática, cada professor da última etapa da educação básica cadastrado no Censo Escolar 2013 que aderir voluntariamente ao programa receberá uma bolsa mensal de R$ 200 e participará de seis horas semanais de atividades de formação na escola onde trabalha. Os demais professores incluindo os temporários também podem participar, mas sem a bolsa.
As atividades serão divididas em três etapas, com início em maio e término em 2015. Cada diretor de escola deve cadastrar os professores interessados em uma plataforma criada para esse fim, o SisMedio. A ideia é que um grupo de 30 a 40 professores seja acompanhado por um professor orientador da própria escola , preparado por um grupo de formadores regionais. No Paraná, cerca de 36 mil professores devem aderir ao pacto.
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