O Paraná registrou em 2008 um aumento no número de pessoas libertadas de trabalho escravo no campo, mas há divergências quanto ao crescimento. Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgados ontem, foram soltas 391 pessoas que estavam em situação de escravidão no ano passado contra 130 em 2007, o que coloca o estado em 5º lugar no ranking nacional. Já os números da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), apontam 163 trabalhadores. No país os dados mostram que o número de libertação de trabalhadores em situação de escravidão reduziu em 708 casos. Foram 5.266 em 2007 contra 4.558 neste ano.
De acordo com o membro da coordenação estadual do CPT, Rogério Nunes da Silva, em apenas uma operação foram encontrados mais de 200 funcionários na cidade de Porecatu, portanto, diz, não tem como o número da DRT estar correto. Os números divulgados pela comissão são do Ministério do Trabalho em conjunto com o Ministério Público do Trabalho. A auditora fiscal do trabalho e chefe substituta da seção de inspeção do trabalho da DRT, Marileide Nonato, explica que as ações fiscais de trabalho escravo cresceram bastante, inclusive pela unidade móvel que percorre o país, mas que ainda assim não são suficientes para dar conta de tudo. Mesmo assim, ela acredita que o número aumentou em relação ao ano passado pela melhora da fiscalização. Para o presidente nacional da CPT, o arcebispo de São José dos Pinhais, dom Ladislau Bienarski, os dados indicam que o trabalho escravo tem crescido no país, inclusive no Paraná, mas que também a fiscalização melhorou.
Conceito
A professora de sociologia do trabalho da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Benilde Motin, diz que hoje o conceito de trabalho escravo é mais abrangente e por isso os números são maiores e podem divergir. "Claro que podemos sim ter um aumento, mas hoje há uma enorme quantidade de subempregos, e isso também é contabilizado", explica. Ela não descarta a possibilidade de uma melhora na fiscalização, mas acredita que se houvesse mais, com certeza seria encontrado mais trabalho escravo no estado.
Bienarski explica que no Paraná a maior parte do trabalho escravo se concentra na produção de cana e celulose, mas que existe um esforço da sociedade em denunciar. "Esse tipo de trabalho está ligado ao crescimento do agronegócio no estado".
O levantamento da CPT também mostra que o número de conflitos no campo diminui em relação a 2007, de 89 para 54 casos, e que a quantidade de ocupações também reduziu de 25 para 14, o que colocou o Paraná em 6º lugar no país em relação a ocupações.