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João José (esquerda) parou de fumar duas vezes, mas voltou e não pensa mais em parar. Seu cunhado, José, não gosta: “O que ele gasta por mês em cigarro (cerca de R$ 100) eu gasto em comida” | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
João José (esquerda) parou de fumar duas vezes, mas voltou e não pensa mais em parar. Seu cunhado, José, não gosta: “O que ele gasta por mês em cigarro (cerca de R$ 100) eu gasto em comida”| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Lei estadual entre em vigor à meia-noite

A lei estadual que proíbe o consumo de tabaco em locais fechados ou mesmo em locais abertos com grande aglomeração de pessoas entra em vigor à meia-noite deste domingo em todo o Paraná. No caso de não cumprimento, a Lei 16.239 prevê uma intimação para o proprietário do estabelecimento e multa de 100 unidades fiscais de referência (Ufir), ou cerca de R$ 5,8 mil, no caso de reincidência, valor que será dobrado caso haja nova desobediência. Em Curitiba, a lei municipal que proíbe o fumo em locais públicos fechados entrou em vigor no dia 19 deste mês.

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Temporão admite falhas

Rio de Janeiro - O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, admitiu ontem que há falhas no atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) para quem quer parar de fumar. "Um dos gran­­des desafios é ampliar a oferta de tratamento. A pesquisa mostra que mais da metade dos fumantes quer parar de fumar. No entanto, muitas vezes, essas pessoas não en­­contram espaço terapêutico para isso", afirmou Temporão. "Pre­­ci­­sa­­mos qualificar e aprofundar essa estratégia (de combate ao fumo) cada vez mais."

Ao analisar a Petab, o ministro afirmou, com base em levantamento da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição realizada em 1989, que houve uma queda de 50% no número de fumantes no Brasil nos últimos 20 anos. "Um da­­do divulgado recentemente pelo Ministério da Saúde mostra redução (nos últimos 20 anos) de 20% das mortes por doenças cardiovasculares, já como reflexo de uma queda de 50% da proporção de fumantes."

Folhapress

  • Veja pesquisa do IBGE que mostra o perfil dos fumantes no Brasil

O Brasil tem 24,6 milhões de fumantes e o Paraná ocupa a sexta posição no país quando o assunto é o número de pessoas que ainda insistem em acender e tragar seus cigarrinhos. Os dados da Pesquisa Especial sobre Tabagismo (Petab), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados ontem, mostram que, em 2008, 18,4% da população paranaense, ou 1,4 milhão de pessoas, eram fumantes. O levantamento indica ainda que 93% dos fumantes brasileiros têm consciência dos males que o cigarro pode causar, como câncer ou derrame, mas que somente 52,1% pensam em abandonar o vício. Ao mesmo tempo, a pesquisa mostra que há mais ex-fumantes no Brasil do que adeptos do tabaco – 26 milhões de pessoas responderam que já abandonaram as tragadas.

Os estados brasileiros com mais fumantes que o Paraná são São Paulo (5,3 milhões), Minas Gerais (2,6 milhões), Rio de Janeiro (1,9 milhão), Rio Grande do Sul (1,7 milhão) e Bahia (1,6 milhão). Em relação ao total da população, o Paraná fica em oitavo lugar. O estado com o maior índice é o Acre (22,1%), seguido do Rio Grande do Sul (20,7%). Somados, os dados referentes aos gaúchos e aos paranaenses colocam a Região Sul como a mais "enfumaçada" do Brasil: 19% dos sulistas disseram ser fumantes, índice mais alto do país. Foi a única região a superar a média nacional, que ficou em 17,2%. Entre os brasileiros que disseram fumar, 15,1% se identificaram como fumantes diários e 2,1% como ocasionais (que não fumam todo dia). Entre os 24,6 milhões de fumantes do Brasil, 14,8 milhões eram homens (21,6% da população masculina) e 9,8 milhões eram mulheres (13,1% das mulheres).

Perfil

A Petab traça um perfil do fumante brasileiro: predominantemente, ele tem entre 45 e 64 anos (22,7% do total), ganha menos de um salário mínimo (56,5%), mora na cidade (81%) e não tem instrução ou estudou no máximo um ano (25,7%). A maioria (31,9%) começou a fumar entre 17 e 19 anos; 33,9% fumam entre 15 e 24 cigarros por dia, e 39,3% dão suas primeiras tragadas 6 a 30 minutos depois de acordar. A idade predominante em que os usuários se tornaram fumantes diários foi entre 17 e 19 anos (31,9%). O gasto mensal do fumante brasileiro com cigarros é de R$ 78,43, valor que na Região Sul sobe para R$ 98,99.

Entre os que pensam em parar, 33,5% não pretendem largar o vício em 12 meses, 11,4% pretendem parar no prazo de um ano e só 7,3% disseram que tinham a intenção de deixar o cigarro no mês seguinte à realização da pesquisa. Entre os ex-fumantes, 57,3% afirmaram que deixaram de fumar há mais de dez anos. No Paraná, o índice dos fumantes que pretendem deixar as baforadas era de 48,8%, abaixo da média nacional, de 52,1%.

Vencer o vício é difícil para o trabalhador da construção civil João José de Oliveira, 53 anos. Tão difícil que ele já teve duas recaídas. "Fiquei um ano sem fumar, depois voltei. Fiquei mais três meses, mas fui a uma festa e voltei a fumar", afirma. "Agora, não penso mais em parar. Tem de ter muita vontade. Só se o médico mandar." O cunhado dele, José dos Santos Estevão, 65 anos, reclama da fumaça. "Eu não tusso, ele tosse. O que ele gasta por mês em cigarro (cerca de R$ 100) eu gasto em comida", comenta. "Eu nunca fumei, nem quero que me ofereçam."

Recaída

As recaídas são uma constante na vida dos fumantes com maior grau de dependência (o nível é medido pelo Teste de Fagerström, disponível no quadro ao lado). Segundo o médico sanitarista João Alberto Lopes Rodrigues, coordenador do Programa de Controle do Tabagismo de Curitiba, da prefeitura, 65% voltam ao vício. "É uma droga com um grande potencial de recaída, superior ao álcool e igual a drogas pesadas, como a cocaína e a morfina", explica. "Nos programas de cessação, a cada 100 fumantes, se 35 pararem, é um grande sucesso."

A psicóloga Sonia Alice Felde Maia, coordenadora estadual Antidrogas, diz que o alvo prioritário da Coordenadoria (órgão ligado à Secretaria de Estado da Justiça) são as drogas lícitas. "Vivemos uma pandemia do crack e o crack mata, mas o álcool e o tabaco matam mais em números absolutos", diz. Ela avalia que a sociedade está no caminho certo ao restringir o uso do tacabo. "Não existe lei que pegue se a sociedade não comprar a ideia. Acho que a sociedade está comprando a ideia, hoje existe uma postura totalmente diferente da que existia há 20 anos."

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