Transplantes no Paraná| Foto:

Verdades e mitos

A doação de órgãos ainda gera dúvidas. Confira algumas delas e o que os especialistas dizem a respeito.

Se eu for identificado como doador de órgãos, posso estar correndo o risco de os médicos não se esforçarem para me salvar?

Se você está doente ou ferido e foi admitido no hospital, a prioridade é salvar a sua vida. A doação de órgãos somente será considerada após a confirmação da sua morte e após o consentimento de sua família.

Preciso deixar por escrito uma declaração de que quero ser doador?

Não há necessidade de qualquer documento ou registro. É muito importante informar a família sobre a vontade de ser doador.

Posso estar muito velho para ser doador?

Pessoas de todas as idades e históricos médicos podem ser consideradas potenciais doadoras. A condição médica no momento da morte vai determinar quais órgãos e tecidos poderão ser aproveitados.

Depois da doação o corpo ficará deformado?

Os órgãos doados são removidos cirurgicamente, numa operação de rotina. No caso dos ossos, eles são retirados de locais que são escondidos pela roupa, nas pernas, por exemplo. Além disso, próteses são colocadas no local.

Podem retirar meus órgãos se eu estiver em coma por erro médico?

Quando o paciente está em coma ele ainda está vivo e é um processo reversível. A morte encefálica é a interrupção definitiva de todas as atividades cerebrais, significa a morte da pessoa e é irreversível.

Fontes: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos e especialistas consultados.

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Enterro de Miguel reúne família, amigos, vizinhos, professores, funcionários de escola e até desconhecidos.
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O caso do menino Miguel Gutbier, de 8 anos, que morreu na tarde de quinta-feira aguardando um transplante de coração, expôs a situação de milhares de pessoas que contam com a solidariedade para sobreviver. Desde 2005, o número de transplantes de órgãos e córneas tem aumentado, mas não o suficiente para acabar com qualquer fila. Só no Paraná, mais de 4,6 mil pessoas terminaram o ano passado à espera de um doador. O transplante renal é o que apresenta mais pacientes à espera, são 2,5 mil pessoas.

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De acordo com o médico e professor de anatomia da Universidade Federal do Paraná, Eduardo Brommelstroet Ramos, membro da equipe de transplante hepático do Hospital de Clínicas, a fila de espera por doadores é muito grande e a cada dia ganha novos pacientes. Para reverter a situação, ele aponta alguns problemas a serem resolvidos. "Existe a falha na área médica, que peca em não avisar imediatamente a Central de Transplantes quando há um potencial doador. Há também a abordagem com a família, que pode ser ineficiente, e a falta de conhecimento da população, que não sabe que pode ser doadora", diz. Em cada hospital com mais de 80 leitos, a responsabilidade de entrar em contato com a família de um possível doador é da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes. Ela é formada por membros do próprio hospital, treinados para esclarecer todas as dúvidas dos familiares. (Conheça mais sobre o processo da doação em quadro nesta página.)

Embora existam campanhas nacionais pela doação de órgãos, especialistas afirmam que elas não surtem o efeito necessário. O principal motivo seria a falta de continuidade na divulgação das campanhas, que ocorrem esporadicamente. De acordo com a médica Fabiana Loss de Carvalho Contieri, coordenadora da unidade de transplante renal do Hospital Evangélico, mesmo com o Brasil ocupando a segunda posição entre os países que mais realizam transplantes, ainda há muito o que fazer para concretizar a cultura da doação no país. "O que temos hoje são casos pontuais de doações de órgãos. Após a mídia divulgar casos como o da menina Eloá Pimentel, que teve seus órgãos doados em São Paulo, temos um acréscimo nas doações. Mas assim que o caso é deixado de lado, os números caem novamente", afirma.

Prevenção

A melhor maneira de tentar acabar com a fila de espera é diminuir o número de pessoas que necessitam de novos órgãos. Em alguns casos, a medicina preventiva é o caminho para cuidar da saúde e tentar se manter longe dos transplantes. Segundo Fabiana, falta conscientização das pessoas a respeito dos cuidados com a saúde. "Há vários exames que podem ser feitos para evitar problemas graves no futuro. Mas essa consciência depende das condições do paciente e da proximidade que ele tem com unidades de saúde. No caso das doenças renais, muitos chegam ao pronto-socorro já com insuficiencia renal terminal. Aí há pouco para ser feito", diz.

Ramos lembra que alguns cuidados com a saúde também contribuem para evitar maiores problemas. "Deve-se evitar a ingestão de bebidas alcoólicas, tomar as vacinas necessárias, como a contra a hepatite B, controlar da hipertensão arterial e sempre fazer os exames de rotina", afirma. Ele ressalta que, mesmo que a pessoa tenha tido vários problemas de saúde, ainda há chances de se tornar um doador após a morte. "Cabe a equipe médica avaliar e direcionar o que puder ser aproveitado", diz. A doação de órgãos feita por doadores cadáveres só é considerada após ser constatada a morte encefálica. No caso de doadores vivos, a doação pode ser feita para parentes de até 4° grau, ou com autorização judicial, no caso de não parentes.

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Interatividade

Você ainda tem dúvidas se quer ser doador? Já conversou com a sua família sobre a doação de órgãos?

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As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

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