Hidratação combate calor e faz tudo funcionar
De nada adianta caprichar no colorido do prato, organizar as porções adequadas de consumo calórico à idade e ao peso e relaxar na hidratação. O idoso perde água muito facilmente e tem mais dificuldade para repor. Os líquidos facilitam o trânsito intestinal, evitam a prisão de ventre e ajudam na absorção de fibras. "Cereais integrais, por exemplo, precisam de mais água para cumprir a função no organismo", diz a nutricionista Danielle Real.
Em condições normais de saúde, o idoso já tem em média 10% menos líquido no organismo do que um jovem de 20 anos. Só isso é razão suficiente para os mais velhos não descuidarem do consumo de água, chás e sucos. Mas o envelhecimento também afeta a fisiologia o mecanismo de sede, que é o alerta para a perda de hidratação, também fica alterado com o passar dos anos. "O idoso sente menos sede, não porque perde menos água do que o jovem. É a fisiologia dele que está alterada e ele demora mais para perceber a sensação de falta de água no organismo. Isso é um risco. Por isso existe a indicação de tomar água mesmo antes de a sede chegar", explica o clínico geral Carlos Augusto Sperandio, especialista em Geriatria, da Paraná Clínicas. A indicação é de 30 ml por quilo de peso ideal por dia. Uma pessoa de 70 quilos deve beber pouco mais de dois litros de água.
No fogão da costureira aposentada Joana Lambach não tem lugar para fritura. Aos 70 anos, ela reduz a quase zero a oferta de gordura no cardápio da família. Também diminuiu drasticamente o consumo de sal. Capricha nas saladas, pratos com fibras e nas frutas. Aprendeu a equilibrar a alimentação depois de um problema digestivo, há mais de 20 anos. "Não precisei nem de remédio. Controlei melhor minha comida e o problema acabou", conta.
Criada na roça, durante toda a juventude Joana consumiu muita coisa preparada na banha de porco. Ao longo dos anos, o organismo cobrou as consequências dos hábitos alimentares. Ela sentia enjoos e tinha dificuldade na digestão. "Os idosos costumam dizer que comeram determinado ingrediente a vida toda e que isso nunca fez mal. Mas tudo hoje é diferente: da composição dos alimentos industrializados ao ritmo de vida moderno e com menos atividade física. Isso altera também as necessidades nutricionais", explica a nutricionista Danielle Pazzetto Real, do Hospital Vita. Joana mudou a alimentação e, ao respeitar as limitações de digestão do organismo, conquistou mais qualidade de vida. "Tudo fica melhor: pele, cabelo, intestino, controle de peso", observa.
A qualidade da alimentação tem efeito cumulativo. Se o cuidado começa cedo, a chance de o indivíduo ter mais saúde na terceira idade é muito maior. "A terceira idade começa na infância. É preciso comer certo desde jovem para não haver impactos na saúde no futuro", explica o cirurgião coloprotologista Rached Hajad Traya, coordenador do pronto-socorro do Hospital do Trabalhador. O que é importante em qualquer idade pratos coloridos, com equilíbrio entre nutrientes é ainda mais para o idoso, com algumas particularidades.
Órgãos "enrugados"
O organismo envelhece de maneira sistêmica. "Coração, intestino, fígado e outros órgãos também enrugam. O metabolismo acaba alterado também. E isso afeta o processo digestivo", afirma Traya. Em indivíduos saudáveis, já é preciso ter atenção quanto ao tamanho das porções e consistência dos alimentos, pois há redução natural da salivação e o uso de próteses pode complicar a mastigação, provocando engasgos. O corpo do idoso precisa de todos os nutrientes e a alimentação equilibrada vai ajudar a evitar patologias ou diminuir a incidência de doenças como câncer de colo retal. A exclusão completa de determinado item deve ser orientada pelo médico. O mesmo ocorre com o uso de suplementos vitamínicos e alimentares. Eles só devem ser usados com orientação de profissional habilitado e após um exame detalhado das necessidades nutricionais. Pozinhos, cascas, folhas e preparos energéticos milagrosos são bons mesmo apenas para quem vende. "Só quem tem necessidade específica de determinado nutriente pode tomá-lo em complementação. O que determina isso é a capacidade do organismo em assimilar esse ou aquele ingrediente", observa Traya.
O envelhecimento altera a capacidade de absorção e síntese de alguns nutrientes, em especial as vitaminas e minerais. Depois dos 50 anos, a quantidade de vitamina D, por exemplo, precisa ser o dobro da consumida anteriormente. "O organismo perde a capacidade de síntese e o idoso fica menos exposto ao sol, um dos veículos de fixação da vitamina", explica. A ingestão de sódio e ferro deve ser reduzida. "Por causa da menopausa, as mulheres perdem menos ferro do que ocorre em período fértil, devido aos sangramentos menstruais", afirma o coloproctologista.
Quem tem doenças degenerativas ou comorbidades precisa prestar ainda mais atenção ao que coloca no prato. "Sal e gorduras podem agravar casos de doenças cardiovasculares. A diabete também precisa ter controle rigoroso na alimentação. É comum o paciente com dieta restritiva ter momentos de estresse e abuso justamente do item que precisa ser controlado. Isso prejudica o tratamento e a única consequência é para o próprio paciente", observa Traya.
Preparo
O segredo para driblar limitações do cardápio e manter o interesse do idoso em insistir em uma alimentação saudável está no preparo dos alimentos. Como a consistência é importante, o ideal é dar preferência aos alimentos cozidos. "Sempre com pouca água e pouco azeite. E reaproveitar a água, que tem grande parte dos nutrientes, para preparo de outro prato, como o arroz, o feijão e a carne", explica a nutricionista Danielle. Mas nada de misturar tudo na mesma panela. A apresentação é importante e estimula o paladar. O cuidador ou o próprio idoso deve investir na aparência do prato. "A digestão começa pelo olfato e visão, que estimulam reações bioquímicas que preparam o tubo digestivo. Com prato bonito e apetitoso, fica tudo mais fácil", observa Traya.
Danielle também dá dicas para substituir o sal sem deixar a comida insossa, reclamação de 10 entre 10 cardiopatas e hipertensos. "Condimentos como cebola, alho e ervas aromáticas dão outro sabor aos alimentos", ensina. Os hábitos alimentares também precisam de atenção. O ideal é não permitir longos intervalos em jejum e oferecer alimentos ao idoso a cada 3 ou 4 horas. As refeições noturnas devem ser leves, com alimentos de fácil digestão. "Cardápios pesados no jantar são receita de noite mal dormida. A qualidade do sono reflete na imunidade. Quem curte o jantar a madrugada inteira também pode sofrer com o refluxo, desconforto gástrico que provoca azia e enjoos", diz o médico.
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