Mesmo com o fim do prazo da segunda notificação extrajudicial expedida a favor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o grupo de cerca de 150 alunos que ocupa a reitoria da instituição desde o dia 31 de agosto afirmou, nesta sexta-feira (11), que não deixará o prédio. Os estudantes reiteram que pretendem permanecer no local por tempo indeterminado, até que a administração universitária atenda às exigências estudantis e dos professores e técnicos administrativos da UFPR – que também paralisaram as atividades reivindicando itens como reversão nos cortes dos orçamentos e garantia de investimentos.
A universidade, por sua vez, mantém a postura de retomar as negociações apenas após a saída dos alunos, o que gera um impasse.
De acordo com a assessoria de imprensa da instituição, embora os estudantes tenham decidido permanecer na reitoria, a UFPR não deve ingressar imediatamente com medidas “mais graves”, como pedido de reintegração de posse. A intenção é “usar todas as alternativas para resolver essa situação por diálogo”, afirma.
A ação que teve o prazo finalizado nesta quinta-feira (10) foi enviada ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior do Paraná (Sinditest) e à Associação dos Professores da UFPR (Apuf). A UFPR entende que diretores destas organizações sindicais estão participando da ocupação. Os sindicatos dizem que apoiam o movimento, mas que a decisão de permanecer na reitoria é exclusiva dos estudantes.
Na sexta-feira passada (4), o comando da greve dos alunos já havia recebido a mesma notificação. Para eles, o documento não tem, no entanto, validade oficial.
“Eles não chegaram a conversar com a gente. Deram esse prazo pra gente deixar a reitoria por eles mesmos. Por isso, para nós, essa notificação extrajudicial não tem, teoricamente, validade”, replicou a estudante Graziela Oliveira, que participa do movimento.
A estudante informou ainda que os sindicatos notificados pela UFPR não têm relação com a ocupação mantida pelos alunos. “A greve é unificada, mas a ocupação é dos estudantes”, declarou.
Na manhã desta sexta, um grupo de alunos que apoia a ocupação da reitoria realizou um ato em frente ao prédio histórico da universidade, na Praça Santos Andrade. A tentativa era pressionar a UFPR a retomar as negociações e exigir o pagamento das bolsas e dos salários atrasados de funcionário da instituição.
A UFPR culpa o movimento dos alunos pelos atrasos nos pagamentos, que, segundo nota emitida pela própria universidade, afeta fornecedores e prestadores de serviços terceirizados, como vigilância, limpeza e manutenção, além dos repasses de bolsas e verbas e auxílios para apresentação de trabalhos e participação em eventos científicos.
As refeições nos Restaurantes Universitário foram suspensas desde o jantar desta quinta-feira porque os funcionários da limpeza pararam os serviço com o atraso nos salários.
Na nota, a administração da universidade explica que o repasse de verbas do Ministério da Educação foi feito no primeiro dia de setembro, mas que “as etapas e rotinas administrativas não puderam ser executadas” por causa da “falta de acesso a documentos, programas, tokens e sistemas operacionais e financeiros certificados pelo Governo Federal”, que teriam acesso apenas nas salas da reitoria.
Os estudantes, por sua vez, informaram que liberaram nesta quinta-feira o acesso de funcionários às salas do prédio. Em resposta, a universidade informou que até esta manhã nenhum servidor havia conseguido entrar no local, porque as portas continuavam fechadas.
A greve paralela de estudantes, professores e servidores técnico-administrativos gerou uma pauta comum para as três categorias. Em reunião no último dia 2, os grevistas decidiram definir cinco itens que representam reivindicações conjuntas da categoria. Antes, cada um dos grupos tinha seus próprios objetivos com a paralisação.
Agora, segundo o Sinditest, os grevistas levantam bandeira pela abertura das contas da UFPR, pela iluminação adequada nos campi, pela não criminalização do movimento grevista; pela revogação da contratação da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) e também pela manutenção da assistência estudantil sem corte de bolsas. Segundo os estudantes, recentemente, houve o corte de 56 bolsas de incentivo à pesquisa na universidade.