“A rua São José dos Pinhais é a Sapucaí do Paraná!”, gritava animado o líder comunitário e radialista Gentil Cardoso. Sem dúvidas, a comparação é um pouco exagerada. Mas a verdade é que o Sítio Cercado foi palco, neste sábado (30), de um carnaval pra lá de animado. O desfile de pré-carnaval dos Garibaldis e Sacis agitou a comunidade e levou bebês de colo, crianças, jovens e vovós para sambar na rua.
Para quem está acostumado com o bloco nos pré-carnavais do Largo da Ordem e, posteriormente, da Marechal Deodoro, a diferença é visível. As músicas são as mesmas, mas no bairro a festa é da comunidade local, principalmente famílias com crianças fantasiadas correndo e brincando atrás do bloco – e os pais pouco se importam com o conteúdo, digamos, politicamente incorreto das velhas marchinhas de carnaval.
Para Itaércio Rocha, integrante do bloco, essa mudança de ares enriqueceu a experiência do bloco – que desfila no Sítio Cercado desde 2014. “O bairro tem outra vida, outra forma de troca, outro espírito. O bloco ganha muito com isso”, diz. De acordo com ele, há a vontade de desfilar também em outros bairros da cidade. “Essa é uma ideia dos próprios Garibaldis, descentralizar, ir para os bairros. A gente já pensou Bairro Alto, Pinheirinho.”
Isso não significa, porém, sair de cena no pré-carnaval do centro da cidade. Neste domingo (31), às 15h, o bloco faz sua última participação antes do carnaval na Avenida Marechal Deodoro, no Centro. Será o famoso baile dos invertidos – com homens vestidos de mulher e mulheres vestidas de homem. No carnaval, o bloco vai desfilar na cidade da Lapa.
Além do Garibaldis e Sacis, a escola de samba do Sítio Cercado, Imperatriz da Liberdade, também participou da festa. A escola é relativamente nova, tem apenas três anos, e busca neste carnaval subir ao grupo especial das escolas de samba de Curitiba. “Toda comunidade precisa de lazer, cultura, festa popular. Isso deixa o povo um pouco mais feliz. Se todo bairro tivesse uma festa popular assim, seria muito bacana”, afirma o presidente da escola, Jefferson Pires.
No sábado, eles apresentaram seu samba-enredo para o carnaval neste ano e emendaram uma sequência de clássicos da Sapucaí. Eles fizeram, ainda, um protesto político, cantando um samba que relembra os episódios de violência da Polícia Militar contra manifestantes no fatídico 29 de abril.
A festa de rua levou cerca de quatro mil pessoas para a rua São José dos Pinhais. Em sua imensa maioria, moradores da região, como o militar Jessé Borges, que levou o pai e seus três filhos – um deles com poucos meses de vida – para se divertir. “A gente tá gostando muito, né? Tudo o que é bagunça a gente gosta”, dizia.
E como em todo carnaval, sobraram figuraças na passarela. Um deles era o Seu Madruga. O vendedor Orivan Guedes chama a atenção por sua semelhança com o cultuado anti-herói do programa de televisão “Chaves”. “Lá perto de casa, se perguntam meu nome de verdade, ninguém sabe”, conta, aos risos. Já que quem tá na chuva é para se molhar, ele botou o famoso chapéu jeans, saiu do Uberaba e foi curtir a festa no Sítio Cercado.
Para Rocha, a edição deste ano foi especial, com um público mais alto e mais animado do que em edições anteriores. “Esse ano tem mais gente, mais família, mais criança e mais fantasia. É uma coisa muito bonita de ver”, resumiu.