Solidariedade
Como professores, ex-alunos dão continuidade ao ciclo de voluntariado
Aos 36 anos, Marcelo Pinto da Rocha resolveu investir seu tempo e esforço estudando para entrar na universidade. Com pouco dinheiro e longe da escola há muitos anos, a conquista de uma vaga numa instituição pública seria improvável, não fosse a oportunidade de estudar no Cursinho Solidário.
Em 2006, depois de seis meses de aula, foi aprovado no curso de Tecnologia em Eletrotécnica, da UTFPR, se formou, e hoje, aos 43, coordena todo o processo seletivo do cursinho na condição de voluntário. "Eu me sinto honrado de trabalhar aqui. Sei que a educação é mesmo um elemento transformador, fez diferença na minha vida e faz diferença na vida de todo mundo", diz.
Seu colega de voluntariado, Danilo Fagundes Gomes, 22 anos, ainda não terminou a graduação em Engenharia Eletrotécnica, também na UTFPR, mas faz questão de dedicar, desde já, ao menos duas horas por semana ao curso, dando aulas de Física e Matemática. "Quando era aluno admirava muito os professores e queria fazer igual eles. Tem sido importante para mim retribuir de alguma forma", diz.
No próximo fim de semana, 48,3 mil estudantes farão o vestibular da Universidade Federal do Paraná. Em meio a essa multidão estarão os alunos do Cursinho Solidário, vinculado à ONG Formação Solidária, que há 11 anos dá perspectivas reais de aprovação a alunos de baixa renda em Curitiba. Apesar da relevância reconhecida pela comunidade, o projeto tem futuro incerto. A ONG está prestes a perder o maior dos espaços que utiliza atualmente, onde estudam 180 alunos.
O Colégio Estadual Professora Luíza Ross, no bairro Boqueirão, é a principal sede do cursinho desde 2010, quando o projeto se mudou do bairro Portão para lá. Mas o local, cedido pelo Núcleo Regional de Educação, foi solicitado de volta. No Luíza Ross, o cursinho usa um salão amplo, mas em condições de infraestrutura não muito adequadas, diz Maria Verônica da Silva, chefe do núcleo. Segundo ela, há problemas na fiação elétrica e na cobertura, e o local deve passar por uma reforma em breve. Depois dos reparos, passará a abrigar atividades extracurriculares para alunos do ensino médio. "Há vários programas institucionais que estão deixando de ocorrer por causa do empréstimo desse salão", explica Maria Verônica.
A coordenação do curso lamenta a decisão. "Dois terços dos nossos alunos são do Boqueirão e proximidades, e a comunidade vê nosso curso como um benefício para o bairro", diz Elias Gonçalves Bonfim, coordenador da ONG. O contrato de convênio com o curso vai até dezembro de 2014, afirma Bonfim, mas o pedido de retomada do espaço feito com seis meses de antecedência também é legitimado pelo documento, explica a chefe do núcleo.
Segundo Bonfim, a direção do colégio e o núcleo estão ignorando as manifestações da comunidade, que quer manter o cursinho no atual espaço. Para comprovar o apoio, um abaixo-assinado circula na internet. Até o fim da tarde da última sexta-feira, 749 assinaturas haviam sido coletadas.
Negociação
Embora não trabalhe com a possibilidade de manter o curso no Luíza Ross, o Núcleo de Educação informou que está ciente da importância social do projeto e se propôs a achar um novo local. A preferência pela região do Boqueirão, contudo, seria um obstáculo. "Oferecemos espaços alternativos, mas está claro que, para eles, só interessa a região do Luíza Ross. Acontece que nossas escolas próximas não têm salas ociosas", afirma Maria Verônica.
Ela informa que o núcleo estaria ajudando nas negociações com o Rotary Club, um dos parceiros da ONG, para que o cursinho passe a usar um espaço do clube próximo ao Terminal do Boqueirão, mas até o momento nada foi oficializado. O cursinho funciona ainda em uma segunda sede, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, mas a capacidade lá é limitada a 60 estudantes.
430 egressos da ONG entraram no ensino superior em 11 anos
Considerando o projeto piloto, realizado em 2002, o Cursinho Solidário já recebeu 1,4 mil alunos, dos quais 750 concluíram o curso. Desses, 430 foram aprovados no processo seletivo de alguma instituição de ensino superior, sendo que 233 conquistaram vagas em universidades federais e 197 obtiveram bolsas do Programa Universidade Para Todos (ProUni).
O time de professores voluntários é formado por 80 profissionais, dos quais 60 fazem revezamento na sala de aula e 20 ajudam na assistência, tirando dúvidas de alunos em horários específicos.
Só em 2012, o Cursinho Solidário recebeu cerca de 600 inscrições de interessados em frequentar suas aulas. O processo seletivo envolve uma prova objetiva na qual se cobra conteúdos do ensino médio e uma entrevista socioeconômica.
São pré-requisitos para participar a comprovação de que o candidato estudou todo o ensino médio em escola pública, ou na condição de bolsista integral numa escola particular, e que têm renda familiar de até um salário mínimo por pessoa.
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