O Paraná originalmente tinha mais de 80% de seu território coberto por florestas. Mas, durante décadas, elas foram sendo derrubadas para abrir espaço à agropecuária ou para a extração da madeira, em nome do progresso. Atualmente, pouco mais de 20% do estado tem algum tipo de cobertura vegetal, em diversos estágios de conservação. E só mais recentemente começou-se a perceber que o desflorestamento causava sérios problemas ambientais e que era preciso recuperar a vegetação derrubada. Mas, diante de tamanha devastação, por onde começar o replantio?

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Autoridades e especialistas de meio ambiente não têm dúvidas com relação a essa resposta: as matas de margens de rios, conhecidas como matas ciliares, devem ser prioridade absoluta. No Dia da Árvore, comemorado hoje, a Gazeta do Povo traz um mapa com os locais que mais precisam do replantio de árvores no Paraná, elaborado a partir de entrevistas com representantes da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e da Sanepar e do setor de energia elétrica. Em praticamente todo o Paraná há problemas de falta de matas ciliares.

"A mata ciliar é como um cílio, que protege o olho. Ela é a proteção do rio", diz a coordenadora de recursos hídricos e atmosféricos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Tânia Lúcia Graf de Miranda. A cobertura vegetal das margens impede que o solo levado pela enxurrada entre no rio e cause o seu assoreamento, diz Tânia. Além disso, a vegetação ajuda a reter a água da chuva, o que contribui para que os rios, durante os temporais, não encham demasiadamente, causando risco de enchentes, sobretudo em áreas urbanas. Do mesmo modo, a retenção da água pela mata, em momentos de estiagem, contribui para que os rios não sequem de forma tão rápida.

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A ausência de matas ciliares também prejudica o abastecimento de água nas cidades, diz o gerente de recursos hídricos da Sanepar, Erivelto Luiz Silveira. A cobertura florestal impede que agrotóxicos utilizados pelos agricultores cheguem ao rio e provoquem a poluição da água. Além disso, sem a barreira vegetal, a água barrenta e com sujeira das enxurradas entra diretamente no rio sem passar pela filtragem natural proporcionada pelo solo, o que aconteceria caso houvesse matas. E a sujeira piora a qualidade da água captada para o tratamento. "Às vezes a água vem com tanta matéria em suspensão que não tem como torná-la potável", afirma Silveira.

A água barrenta também é uma preocupação para as hidrelétricas. Primeiramente, a sujeira pode prejudicar o funcionamento das turbinas e dos sistemas de operação da usina. Além disso, o barro também tende a se depositar no fundo dos reservatórios, assoreando-os e diminuindo a vida útil da própria hidrelétrica. A Usina de Itaipu, por exemplo, recebe todos os anos 3 milhões toneladas de solo e de nutrientes despejados pelos rios que deságuam no reservatório. Para evitar isso, a Itaipu Binacional desenvolve o programa Cultivando Água Boa, por meio do qual os agricultores desses rios são orientados e estimulados a promover a recuperação da mata ciliar.