As comemorações dos 46 anos do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), durante a semana, foram marcadas por reivindicações do diretor-geral do HC, Giovanni Loddo, que pede melhorias para que a administração consiga vencer a crise econômica que vem enfrentando.
Loddo assumiu a diretoria no fim de 2001 e, mesmo estando aposentado, diz preferir se manter no hospital porque tem uma ligação afetiva muito grande com o HC. "Quando cheguei a Curitiba, na década de 60, a república dos alunos ficava em frente ao hospital. Fiz curso de Medicina aqui e depois passei a lecionar. Os meus seis anos de hora-extra como diretor também exerci com muito prazer", diz. Ele é um dos poucos funcionários com cargo de confiança (indicado pelo reitor da UFPR) que continua trabalhando mesmo com a troca da reitoria. "Entrei indicado pela oposição e continuo com a situação. Poucos, como no meu caso, permaneceram."
No fim de julho, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba (Sinditest) chegou a pedir ao reitor, por meio de carta, que Loddo fosse afastado do cargo. Ele é criticado por defender a criação de uma fundação estatal para gerenciar o hospital e por ter aberto processos administrativos contra servidores do HC que continuaram em greve.
Em meio a tanta polêmica, Loddo afirma que, se depender apenas da vontade dele, permanece trabalhando ainda por tempo indeterminado. "O HC está acima de qualquer fofoca política."
Os servidores técnico-administrativos do HC deixaram o movimento grevista no dia 22 de junho, depois de 26 dias sem trabalhar. Qual foi o impacto da greve para o hospital?Tivemos um prejuízo estimado em R$ 1,5 milhão por causa da greve. É uma perda que vamos sentir ao longo do semestre. Ficamos um mês com o centro cirúrgico parado, quase não fizemos cirurgias de alta complexidade. Mas, para os servidores, o desgaste também foi grande. O Sinditest pediu para eu ser afastado do cargo, mas existem algumas questões a serem esclarecidas. Eu defendo novas ferramentas de governabilidade, não importa o nome que dão a isso. Em relação aos processos administrativos instaurados contra os servidores que, na época, não voltaram ao trabalho, conforme exigência de uma liminar expedida pela Justiça Federal, eu não tenho nenhuma responsabilidade. Não fui eu quem abriu os processos, foi o reitor. E ele fez isso porque havia uma ordem judicial que deveria ser cumprida.
O senhor diz que o hospital tem seu lado positivo e negativo. Qual é a parte negativa? Não temos orçamento determinado para um planejamento estratégico objetivo. Nós sabemos o que trabalhamos, o que produzimos e o quanto valeria nosso trabalho, mas não sabemos o que vamos receber, quando e como. Na questão de recursos humanos (RH) é a mesma coisa. Não temos no RH um processo de substituição para os funcionários aposentados ou afastados. Deveríamos ter uma auditoria correta e clara para fazer este dimensionamento.
Quais mudanças seriam necessárias para acabar com a crise do HC?A primeira coisa é que o estado brasileiro (governo federal) deveria dizer o que ele espera dos hospitais universitários (HUs) de ensino, vinculados às universidades federais. Deveria ser uma regra bem clara: qual seria a nossa missão? Em função disso, eles deveriam dimensionar recursos humanos necessários para nós desempenharmos tal missão. Assim como recursos financeiros para que permanentemente pudéssemos acompanhar as mudanças tecnológicas e recebêssemos uma manutenção efetiva no hospital. Feito este pacto, ele deveria ser revisto periodicamente para sua sustentabilidade. Precisamos, por exemplo, de um orçamento mensal que hoje não existe. Atualmente sobrevivemos dos recursos da previdência (onde 50% são gastos em folha de pagamento), de projetos individualizados, emendas parlamentares, doações da comunidade, das várias associações que colaboram com o hospital, das secretarias municipal e estadual de saúde. São coisas pontuais e não um projeto com recursos determinados para que possamos manter nosso parque tecnológico atualizado.
O que motivou esta crise?Foi a mudança na legislação e no tratamento dado aos hospitais universitários. Na fase inicial, os HUs, especialmente o nosso, eram vinculados à antiga Faculdade de Medicina. Corresponderia ao que chamaríamos de laboratório de aulas práticas dos alunos de Medicina. Não existia o SUS (Sistema Único de Saúde). Quando o hospital foi criado, a nossa clientela era os indigentes. Hoje o perfil do nosso paciente mudou. Se antigamente ele vinha com a idéia do agradecimento pelo tratamento que recebeu, atualmente ele é um cidadão que vem em busca de um direito. Tudo isto também está ligado à questão financeira. O hospital antigamente era subvencionado pelo Ministério da Educação (MEC). Nessa época, o hospital tinha uma idéia com o que contava para o ano inteiro. Independia da sua produção. Hoje tudo isto está invertido. Não temos mais o financiamento do MEC. Isto aconteceu quando o hospital passou a atender a previdência: primeiro foi o Inamps (Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social), depois o Suds (Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde) e hoje o SUS. O MEC deixou de subsidiar o HC assim que apareceram os recursos provenientes da prestação de serviços à previdência. O problema é que estes recursos não cobrem a folha de pagamento dos fucionários atuais.
Qual o balanço que o senhor faz dos 46 anos do hospital?Positivo. Apesar de todas as crises que o hospital passou e vem enfrentando, o HC continuou sendo um centro de referência na área da saúde, na formação de recursos humanos, de atendimento em áreas estratégicas, inclusive sendo pioneiro em várias áreas. Acho que não perdemos a nossa qualidade e continuamos lutando para realmente sermos incorporadores de novas tecnologias.