Construir estações de trem era um desafio para a engenharia do final do século 19, e elas acabaram erguidas com base na arquitetura europeia. Mas no Paraná do século 21 a rampa de acesso à plataforma, onde ficavam os passageiros, ganhou um aviso de "não ande pela calçada" pelo serralheiro que montou uma pequena oficina em frente da estação de trem de Piraí do Sul, nos Campos Gerais. A bela estação de madeira, construída em 1900, está se deteriorando. O teto tem infiltrações e o piso está afundando.

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O soldador José Geraldo Laureano da Rosa diz que o aviso foi colocado pelo patrão para impedir que as pessoas se machuquem com os equipamentos da oficina. Antes, o trabalho era feito no barracão da antiga estação, que tem piso de concreto, mas com o desligamento da luz a oficina foi transferida para a plataforma. "Não dá pra mexer com a máquina dentro da estação porque o piso é de madeira e pode pegar fogo", justifica. O teto foi consertado há oito anos, mas parte das telhas já está caindo. O lugar virou depósito da serralheria e moradia de pombas. A ALL se desfez do prédio em 2004. Hoje, nem a União nem a prefeitura têm projetos para o espaço.

Em Jacarezinho, no Norte do estado, a estação está parcialmente destruída. O prédio, construído em 1935, abriga usuários de drogas de dia e prostitutas à noite. Quem passa pelo local não imagina que por aquela estação passou boa parte da história da primeira metade do século 20 no Norte Pioneiro, quando a região vivia os tempos áureos da produção de café. O teto do salão onde funcionavam os guichês veio abaixo e as telhas foram roubadas. Um dos salões da estação foi incendiado e os sanitários foram destruídos.

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A prefeitura tentou resgatar o que sobrou da velha estação, mas o projeto esbarrou na burocracia e processos judiciais. A Secretaria de Turismo de Jacarezinho tinha a ideia de recuperar o prédio e construir um centro cultural, mas o Ministério Público Federal alertou sobre os problemas. "Ficamos sem opção, pelo menos por enquanto", diz a secretária de Turismo Nádia Consolin. Segundo a ALL, a estação foi devolvida à União em 2004, mas há projeto de restauração.

Em Andirá, Norte Pioneiro, parte da antiga estação deu lugar ao escritório de um lava-rápido. O restante do prédio está abandonado. No terreno estão instaladas barracas de ambulantes e um pequeno mercado. A ocupação é ilegal. Já no povoado da Platina, em Santo Antônio da Platina, uma família de trabalhadores rurais vive há quase cinco anos no que restou da estação ferroviária. Dividem o espaço de pouco mais de 10 metros quadrados com peças antigas, cabos, dormentes e trilhos.