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Legalidade

Prefeitura de SP diz que alvará de Memorial estava vencido

Peritos da Defesa Civil de São Paulo vão fazer fazer uma vistoria neste sábado (30) para avaliar se a estrutura do auditório Simon Bolívar, do Memorial da América Latina, que foi atingido por um incêndio na tarde desta sexta-feira (30), foi danificada pelo fogo. Segundo técnicos da Defesa Civil, há rachaduras no topo do prédio. Segundo a Secretaria Municipal de Licenciamentos, da Prefeitura de São Paulo, o Memorial da América Latina, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, não renovava o alvará de funcionamento do auditório desde 1993. Pelo menos 25 pessoas ficaram feridas, entre brigadistas e bombeiros.

O trabalho de rescaldo no Memorial durou toda a madrugada e continua nesta manhã. De acordo com informações do Corpo de Bombeiros ainda estão no local 11 viaturas, com mais de 30 homens para evitar que as chamas recomecem. O local está interditado. O fogo foi controlado apenas na noite de sexta-feira. O Corpo de Bombeiros atuou em três frentes, com 88 profissionais, para combater as chamas.

Segundo João Batista de Andrade, presidente da Fundação Memorial da América Latina, o incêndio começou na ala B do auditório Simón Bolívar, com capacidade para 1.679 pessoas, e se espalhou por todo o auditório. Neste auditório, entre as alas B (que pegou fogo) e A, havia uma obra de arte, uma enorme tapeçaria (sem nome) da artista plástica Tomie Ohtake, que ocupa toda a parede do auditório, com 800 metros quadrados. Ainda não se sabe se ela foi ou não danificada. Não havia funcionários e nenhum evento era realizado no local.

O major Mauro Lopes, porta-voz do Corpo de Bombeiros, explicou as razões pelas quais os bombeiros, que inicialmente não correm risco de vida, se feriram: "O local tem um pé direito muito alto. Houve um acúmulo excessivo de gases inflamáveis no teto do auditório e uma queima lenta pelo pouco oxigênio no ambiente. Quando os bombeiros entraram, esse gás, quente, encontra o oxigênio e acontece o que chamamos de flash over, comum em alguns incêndios", disse o major.

O incêndio começou por volta das 15h e foi provavelmente causado por um curto-circuito das lâmpadas de emergência do teto da platéia B. Teria havido uma queda de luz antes do fogo começar. Mas, segundo João Batista, as causas reais do incêndio só serão conhecidas após a realização de perícia. "Houve um problema de queda de energia e um gerador foi ligado. Houve algo relacionado a isso. Agora, o objetivo é dominar o incêndio até para saber o que foi perdido", disse João Batista.

O painel "Tiradentes" (1949) é uma das obras mais importantes do pintor Candido Portinari e está exposto no Salão de Atos, espaço que fica a cerca de 200 metros do incêndio, do outro lado de uma passarela que liga diferentes prédios do complexo que compõe o Memorial da América Latina.

"Tiradentes" é uma pintura composta por três telas justapostas, com 3 metros de altura por 17 metros de comprimento, que começou a ser pintada em 1948 e que mostra a morte do inconfidente Joaquim José da Silva Xavier. É um obra que sempre foi desejada pelos mineiros, mas que está em São Paulo há décadas.

Com 84 mil m² de área, o memorial foi inaugurado em 1989 e tombado em 1997. O Memorial foi projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e idealizado pelo antropólogo Darcy Ribeiro. O local foi concebido para ser um espaço de integração e informação dos países latino-americanos, e acolhe, também, a sede do Parlamento Latino-Americano (Parlatino). Na Praça Cívica, encontra-se a famosa escultura em concreto, também de Niemeyer, representando uma mão aberta, em posição vertical, com o mapa da América Latina pintado em vermelho na palma.

O local abriga um pavilhão de exposições, onde a produção artesanal do continente encontra-se permanentemente exposta; uma biblioteca com livros, jornais, revistas, vídeos, filmes e gravações sonoras sobre a história da América Latina; um salão para exposição. "Acredito que o painel "Tiradentes" esteja bem", diz João Candido Portinari, filho do pintor. "Ele fica a uma distância razoável do foco do incêndio, abrigado no Salão de Atos. Há pouco tempo o painel passou por uma restauração em Cataguazes, Minas Gerais, e estava muito bonito. Não há um mineiro que não lamente que essa obra tenha deixado seu estado e esteja hoje em São Paulo."

Além de "Tiradentes" e da tapeçaria de Tomie Othake, integram o acervo do Memorial da América Latina azulejos de Poty e Carybé e esculturas de Alfredo Ceschiatti, Franz Weissmann e Bruno Giorgi.

No Memorial já se apresentaram artistas como Mercedes Sosa, Caetano Veloso e Tom Jobim - além do Balé Nacional de Cuba e da Orquestra Filarmônica de Israel. Uma característica diferencial do auditório era de que o seu palco ficava no meio da plateia, dividindo-a em dois.

O local já abrigou diversos eventos do Parlatino por meio do projeto "Presidentes da América Latina", instituído em 2006. Já estiveram presentes no espaço, entre outros, nomes como o ex-presidente russo Mikhail Gorbachev, o ex-presidente americano Bill Clinton, o líder cubano Fidel Castro, além do venezuelano Hugo Chávez. Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva estão entre os que recepcionaram esses líderes mundiais.

A tapeçaria de Tomie Ohtake foi inagurada em 1990 e foi tecida em quatro cores. A artista contou, em depoimento ao livro "Integração das artes", que o próprio Oscar Niemeyer a convidou para criar o painel que ocuparia toda a parede lateral do auditório.

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