Máquinas do tempo
Enterrar cápsulas do tempo não é novidade em Curitiba Apesar da comoção envolvendo as garrafas enterradas na cidade, a prática não é tão rara quanto se pensa. É o que explica a pesquisadora da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Aparecida Bahls. Segundo ela, já na segunda metade do século 19, quando a Praça Osório ainda era uma área pantanosa, uma cápsula foi escondida quando a pedra fundamental das obras foi lançada.Na década de 1960, quando foi urbanizada a Praça 29 de Março, o prefeito da época, Ivo Arzua, lançou uma campanha entre as escolas da cidade para que os alunos escrevessem um texto sobre o futuro. A obra do vencedor seria enterrada com uma urna com objetos da época. O texto escolhido foi o do ex-prefeito Rafael Greca, com 9 anos na época. "A cápsula deveria ser aberta nos anos 2000, mas não foi encontrada. Só foi possível ler o texto porque havia uma cópia na posse de Arzua", revela Aparecida.Mais recentemente, em 1993, foi enterrada a pedra fundamental da obra do Memorial de Curitiba, no Largo da Ordem, que foi acompanhada de uma urna. "Mensagens, fotografias e objetos como fichas telefônicas e disquetes foram colocados ali. Essa cápsula deve ser aberta em 2043", diz.
A caça ao tesouro que começou com a descoberta de uma garrafa com manuscritos na Praça Tiradentes foi encerrada, informou a Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Segundo a instituição, já se sabe quais documentos estão enterrados na base da estátua de Tiradentes, o que não justificaria o trabalho de remover a cápsula do tempo.
"Há o risco de danificar os papéis que estão preservados, então a cápsula vai continuar cumprindo sua função de permanecer parada no tempo", acrescenta o diretor de patrimônio da FCC, Mauro Tietz.
Depois que uma equipe da Fundação retirou a estátua de bronze feita pelo artista paranaense João Turin (1878 - 1949) de seu lugar na Praça Tiradentes para restaurá-la, no fim de julho, foi encontrada uma garrafa com manuscritos. Aberta em agosto, ela revelou um texto que apontava a existência de outra cápsula do tempo enterrada na base da escultura. Dentro dela, estariam uma ata, moedas de níquel e cobre e a primeira página do "Jornal do Dia", de 21 de abril de 1927. O próprio prefeito chegou a autorizar a retirada da segunda garrafa.
Tietz conta que tudo o que está escondido na cápsula pode ser acessado sem que ela seja desenterrada. "Há arquivo da página do jornal e há uma cópia da ata, oferecida a nós por um senhor de 84 anos que é neto de alguém que a assinou na época", comenta. De acordo com ele, o documento foi assinado por pessoas proeminentes da época, como Turin e o prefeito Coronel Joaquim Pereira de Macedo, o que afasta a possibilidade de que o conteúdo da cápsula seja outro.
O diretor de patrimônio da fundação adianta, no entanto, que há planos para devolver a garrafa com os manuscritos ao local de origem e que está sendo negociada a possibilidade de incluir uma nova cápsula do tempo ali. "A ideia seria montar uma cápsula com materiais do nosso tempo que seria aberta apenas no futuro", ressalta.
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