Mesmo contra a vontade de moradores, a prefeitura de Curitiba iniciou ontem o corte de 62 árvores e a retirada de uma área de lazer na Rua Teffé, no bairro Bom Retiro, para a implantação do Anel Viário. O projeto visa desviar o trânsito do centro da cidade, facilitando o deslocamento dos veículos. Outras 13 árvores deverão ser derrubadas nos próximos dias.O "sinal verde" para as obras foi dado pelo Ministério Público Estadual, que havia solicitado informações à prefeitura sobre a derrubada das árvores, adiando por uma semana o início dos trabalhos no local. Para o promotor de Justiça Edson Luiz Peters, que recebeu um abaixo-assinado no fim do mês passado com 80 assinaturas de moradores, não há irregularidades no projeto. Depois de analisar documentos com dados técnicos, operacionais e de impacto ambiental entregues pela prefeitura, o promotor afirma que não procede a alegação dos moradores de que eles não tiveram informações suficientes sobre o projeto. "Foram feitas duas audiências públicas. Até prova em contrário, é uma obra lícita."
No entanto, o aposentado Antun Luiz Antun, 70 anos, que mora há 32 anos na Teffé, acredita que a intervenção no bairro é grave. Além da retirada das árvores, que levaram 35 anos para crescer, a área de lazer que fica no cruzamento das ruas Teffé e Coronel João Guilherme Guimarães será destruída. "Essa obra não se justifica", diz. Para o professor universitário Eugênio Vinci de Moraes, 48 anos, o impacto será muito maior do que se imagina. "Haverá uma deteriorização urbana com a mudança do perfil do bairro, que hoje é calmo e ecológico", afirma.
Em contrapartida à retirada das árvores de espécie exótica, a prefeitura de Curitiba se responsabilizou em plantar 142 novas árvores nativas dentro de um projeto paisagístico do pacote de obras do Anel Viário. Ao final da obra, o trecho da Teffé entre as Ruas Dom Alberto Gonçalves e Roberto Barrozo terá 142 árvores, segundo a prefeitura.
Outro lado
Para o coordenador do projeto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, José Álvaro Twardowski, a Rua Teffé é a única entre as 23 vias delimitadas pelo pacote de obras que ainda não tem asfalto definitivo. Ele diz que a construção da praça no cruzamento com a Coronel João Guilherme Guimarães foi autorizada pela prefeitura há 35 anos, por causa de problemas de segurança do cruzamento. Mas, na época, ficou acordado que o bloqueio poderia ser desfeito a qualquer momento caso fosse necessário.
Especialistas em trânsito afirmam que o Anel Viário é importante, mas os impactos dela são difíceis de mensurar por enquanto. Para o urbanista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Carlos Hardt, a obra vai melhorar a circulação viária. Sobre a polêmica, ele diz acreditar que o poder público tende a priorizar mais o trânsito por causa do crescimento acelerado da cidade. Já o professor em segurança no trânsito, Aldo Luiz Teixeira Budel, vê com bons olhos o projeto. "A melhoria sempre é superior ao transtorno", opina.
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