O calor do verão parece minar a resistência física. É comum as pessoas reclamarem de mal estar, com moleza e sonolência. Isso porque, para equilibrar a temperatura do corpo com a do ambiente, o organismo produz mais suor e gasta mais energia. Se a temperatura externa está acima dos 36ºC, maior do que do corpo humano, é mais difícil estabelecer esse equilíbrio e a sensação de desconforto aumenta.
No entanto, é preciso ficar atento ao cansaço e o sono durante o dia em outras estações. Excesso de sonolência pode ser sintoma de diferentes doenças, entre elas apnéia, hipotireoidismo, narcolepsia, síndrome das pernas inquietas ou até mesmo alguns casos de insônia.
De acordo com a especialista e vice-presidente da Sociedade Brasileira do Sono (SBS), Gisele Minhoto, é preciso saber diferenciar o cansaço proveniente da privação de sono por causas externas daquele provocado por algum distúrbio. Para auxiliar no diagnóstico, o paciente deve ter a qualidade do sono avaliada por meio de um exame chamado polissonografia. "O paciente passa a noite no laboratório, onde é analisado o número de vezes em que acorda, o tempo que demora para dormir, como ele respira", explica.
O presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Mauro Zamboni, alerta que a respiração inadequada prejudica muito a qualidade do sono. A causa mais comum da sonolência diurna é a apnéia, que se caracteriza pela oclusão das vias respiratórias causando paradas rápidas na respiração. "É mais freqüente em homens e pessoas obesas e é associada ao ronco", diz. A interrupção contínua do sono acaba em esgotamento no dia seguinte.
Zamboni explica que em muitos casos o paciente tem o sono interrompido e não percebe. "Ele até pode achar que dorme bem e não entende a causa do sono durante o dia", afirma. Para tratar o problema o paciente pode ser aconselhado a perder peso, dormir de lado, utilizar aparelhos odontológicos durante o sono ou dormir com um aparelho chamado CPAP, em que o ar passa através de uma máscara nasal para a faringe.
As disfunções da tireóide glândula que produz hormônios essenciais para o bom funcionamento do organismo também podem ser a causa do excesso de sono durante o dia. De acordo com o endocrinologista Hans Graf, chefe da Unidade de Tireóide do Serviço de Endocrinologia e Metabologia da UFPR, os hormônios tireoidianos são responsáveis por ativar uma série de reações em diferentes tecidos do corpo, inclusive para o sistema nervoso central. A produção insuficiente desses hormônios, caracterizada pelo hipotireoidismo, acarreta numa desaceleração do metabolismo que tem como uma das manifestações a sonolência. O problema é tratado com a reposição do hormônio.
Outro distúrbio relacionado à sonolência é a síndrome das pernas inquietas (SPI). Assim como a apnéia, a SPI, que acomete 5% da população, ocasiona despertares durante o sono, resultando em insônia, irritabilidade e cansaço mental. O estudante Felipe Borges dos Reis, 22, teve diagnóstico de SPI há quatro anos. "Eu despertava até 10 vezes por hora durante a noite. Passava o dia irritado, não conseguia me concentrar direito", lembra.
A bordadeira Maria José Vaccarelli, 39 anos, sofre de narcolepsia, um distúrbio caracterizado por um quadro de ataques súbitos de sonolência. Maria José conta que cansou de ser chamada de preguiçosa e irresponsável. Ela já dormiu durante o vestibular, furou os dedos enquanto bordava e já foi parar em outra cidade quando viajava de ônibus e perdeu a rodoviária em que deveria descer. "As pessoas não entendem que não faço de propósito. Meu pai não acreditava e chegou a ir no médico junto comigo. Na verdade eu mesma demorei a buscar ajuda porque achava que esse era o meu jeito, não imaginava que pudesse ser uma doença", afirma. Maria José sofre também de cataplexia, situação em que o paciente tem uma perda abrupta da força e do controle muscular, ficando paralisado e podendo cair. Tanto no caso da SIP como da narcolepsia, o tratamento é feito por meio de medicação.
