Especialistas sugerem cautela nas festas
Eventos realizados em abrigos exigem cautela para que as crianças não acabem sendo prejudicadas, afirmam especialistas. "Elas convivem num lugar de muita passagem de pessoas muda funcionário, entra e sai criança. As festas podem reforçar esse trânsito quando, na verdade, o que o abrigado precisa é de vínculos", explica a psicóloga Bárbara Snizek, que pesquisou adoção e abrigamento. Em sua avaliação, as pessoas interessadas em ajudar devem visitar as instituições com assiduidade.
Os convidados foram chegando cautelosos à festa de 29 anos do vendedor Jaison Urlian Klug. A situação era estranha para os amigos do aniversariante, assumidamente um fã de cervejinha gelada. Desta vez, só refrigerante, brigadeiro, bolo, algodão doce, palhaços e cama elástica, numa tarde de chuva. E já na entrada, pequenos desconhecidos faziam a recepção. Meninos e meninas de 2 a 6 anos, donos da casa, cercavam cada visitante. Meio sem jeito, todos procuravam logo um lugar para deixar os presentes. "Tio, colo!", "Tia, colo!", pediam os moradores do abrigo para crianças em risco social. Faltavam braços.
Em vez de chamar os amigos para um bar, Klug resolveu levar sua festa de aniversário para a casa Amor Real, no São Braz, em Curitiba. Aos convidados, pediu que os presentes fossem para as crianças. Não era preciso comprar brinquedo. Podia ser fralda, roupa, alimento, o que estivesse em falta. O principal não custava nada: disposição para brincar ou simplesmente atenção aos 32 internos 90% prontos para adoção.
Os filhos dos convidados logo mostraram o caminho aos mais desajeitados. Misturaram-se às crianças do abrigo sem fazer cerimônia. Dividiram os brinquedos instalados para a festa e fizeram amizade em instantes. Quem imaginava que o aniversariante fosse coordenar a comemoração, ficou esperando. Como uma criança, brincou a tarde toda, com peruca colorida e nariz de palhaço: "É a melhor festa de aniversário da minha vida!", dizia, emocionado.
As crianças tinham passado a semana ansiosas. "Contamos para elas que haveria uma festa de aniversário com brinquedos e palhaços e os mais grandinhos se encarregaram de criar a expectativa", relatou a presidente e fundadora do Amor Real, Tatiana Meira. "Eles contaram os dias e as horas." A instituição é formada por três casas comuns, com sala, cozinha, banheiro e quartos lotados de berços.
Foi a primeira vez que a casa, que completa dez anos dia 29, abriu as portas para uma festa de aniversário de adulto. "Achamos estranho. Não era Natal nem Dia das Crianças ou Páscoa. Em geral as pessoas lembram dos abrigos nessas datas", disse Tatiana. Em sua avaliação, as visitas são "muito positivas". "A gente vive em campanha. As crianças precisam tanto de doações como de atenção."
Klug conta que decidiu fazer a festa depois de um ano bom em vendas e por considerar que "os anjinhos merecem coisas boas para lembrar." A ideia teve aprovação de sua esposa, Alessandra, e das duas filhas, Giovanna e Stefany, de 5 e 11 anos, que passaram a ajudar nos preparativos. O primeiro passo foi escolher a instituição, listada no site da prefeitura. A festa foi no sábado dia 9, um dia após o aniversário dele.
As crianças do abrigo disseram ter gostado principalmente de brincar com os visitantes. Os menores que ainda não falam ficaram no colo a maior parte do tempo. Curiosamente, nenhum pacote de presente foi aberto até o fim da festa. Não havia tempo a desperdiçar.
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