Marta Azevedo deixou a presidência da Funai alegando falta de tempo para realizar tratamento médico| Foto: Marcello Casal Jr/ABr

Conflito

Índios invadem fazenda na Bahia em protesto contra governo

Folhapress

Cerca de 30 índios tupinambás invadiram ontem uma fazenda em Ilhéus, no Sul da Bahia, em protesto contra a política de demarcações do governo federal. Os índios reivindicam uma área na região de cerca de 47 mil hectares – área equivalente a quase 300 parques Ibirapuera (SP).

Segundo o cacique Sival Tupinambá, o grupo chegou a ser cercado por dez pistoleiros. O dono da fazenda Estrela do Mar, Paulo César Oliveira, diz que eram funcionários e ajudantes, armados "apenas com facões e coisas menores".

O processo de demarcação das terras dura 13 anos. A Funai estima haver outras 12 fazendas invadidas na região. A Polícia Federal já foi notificada sobre o caso.

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Em meio à crise indígena do governo Dilma Rousseff, a presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marta Azevedo, deixou o cargo na tarde de ontem.

Segundo a assessoria da Funai, ela entregou seu pedido de exoneração ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, dizendo que precisa de tempo para fazer um tratamento médico, "incompatível com a agenda de presidenta".

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Em abril, antes de a crise começar, Marta começou a pedir sucessivas licenças médicas. Porém, independentemente do problema de saúde, setores do governo estavam descontentes com a atuação da Funai nos últimos meses. Informações de bastidores, porém, dão conta de que a saída da dirigente teve como causa a morte do índio Oziel, o atentado a tiros contra outro terena – Josiel Gabriel – e a resistência dos indígenas de várias etnias contrários à construção de hidrelétricas na Amazônia. Uma nota será divulgada em breve pelo governo para oficializar a mudança no comando do órgão.

A atual diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável, Maria Augusta Assirati, assume interinamente a Funai a partir da próxima segunda-feira. Ela é uma das favoritas para o assumir o posto definitivamente. "Maria Augusta e os demais diretores darão continuidade à missão da instituição na promoção e proteção dos direitos dos povos indígenas, com o compromisso de fortalecimento da Funai", diz nota da assessoria da Funai.

Marta deixa o cargo oito dias depois de um índio terena morrer durante reintegração de posse coordenada pela Polícia Federal e motivada por uma decisão judicial anterior. A ação aconteceu na Fazenda Buriti, em Sidrolândia, em Mato Grosso do Sul.

Após os confrontos, cerca de 110 homens da Força Nacional viajaram para atuar na região a pedido do governador do estado, André Puccinelli (PMDB).

Na quinta-feira, o governo anunciou a criação de um fórum de negociação para resolver o conflito, que contará com índios, fazendeiros, integrantes do governo, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público.

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Nos últimos meses, índios de diferentes etnias também protestaram e ocuparam o canteiro de obra da usina hidrelétrica Belo Monte.

Antropóloga e professora da Unicamp, Marta Azevedo foi a primeira mulher a presidir a Funai. Ela assumiu o cargo no primeiro semestre de 2012.

Em maio, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, chegou a criticar publicamente a política de demarcação de terras indígenas promovida pela Funai. na manhã de ontem, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que o governo está "preocupado em "fortalecer" a Funai.