Maior produtor de cigarros do Paraguai, o presidente Horacio Cartes será alvo de uma interpelação internacional por causa do produto que ele fabrica e entra como contrabando em vários países da América Latina. O estado colombiano de Bolívar prepara uma demanda judicial contra a Tabacalera del Este (Tabesa), de propriedade de Cartes. A decisão é um reflexo da reportagem "Império das cinzas", publicada há três semanas pela Gazeta do Povo junto com o jornal El Tiempo, da Colômbia.
O cigarro paraguaio responde por 46% do mercado desse produto em Bolívar. Banhado pelo mar do Caribe, o estado tornou-se rota do cigarro pirata que sai do Paraguai e entra na Colômbia depois de uma triangulação com Aruba e Curaçao. As marcas da Tabesa não estão registradas no país. Por isso, o governador de Bolívar, Juan Carlos Gossaín, decidiu liderar uma demanda internacional contra a Tabesa.
A Federação Nacional dos Estados estuda unir-se à ação em nome de outros governadores colombianos afetados pelo cigarro pirata. As perdas em impostos com o contrabando do produto chegam a US$ 209 milhões por ano na Colômbia. O cigarro paraguaio chega ao país por meio de Aruba e Curaçao à zona especial do estado de La Guajira.
Em entrevista ao jornal El Tiempo, o diretor executivo da Federação Nacional dos Estados, Germán Chica, salienta que as marcas da Tabesa não estão registradas legalmente na Colômbia e que a tabacalera é muito flexível sobre os requisitos internacionais para comercializar cigarros. "Não se pode ignorar o destino final de sua mercadoria com a escusa de que não exportam para a Colômbia."
Agentes holandeses da RST (Special Policial Taskforce) estão trocando informações e provas com autoridades colombianas sobre o contrabando e a lavagem de dinheiro usando o cigarro da Tabesa. A Polícia Fiscal e Aduaneira indiciou um comerciante da cidade de Maicao, no estado de La Guajira, por lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito.
Interceptações telefônicas revelam a ligação entre as Farc e a máfia do contrabando de cigarros. O fisco colombiano indaga 18 empresas importadoras de cigarros e licores vinculadas a dois irmãos e a um comerciante de La Guajira, que estão conectados com as empresas investigadas pela RST.