Por cima do muro, que separa o pátio de um presídio de João Pessoa (PB) de uma rua, trouxinhas de maconha são atiradas para os detentos. Em Rio Branco (AC), drogas estariam entrando numa penitenciária dentro de caminhões que levam alimentos para a cozinha da unidade. Esses são apenas dois dos muitos casos reunidos por promotores e juízes no ano passado durante vistorias em todo o país, que possibilitaram a elaboração de um levantamento inédito do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) sobre o sistema prisional. Concluído em 2013, o estudo constatou que só em 41% dos presídios brasileiros foi registrada a entrada de entorpecentes, apesar de os especialistas no assunto assegurarem que o uso de drogas está disseminado em praticamente todas as unidades do país.
Para o CNMP, a pesquisa comprova o que até então era apenas senso comum. "É sabido que as drogas estão presentes em mais de 90% das prisões brasileiras. Mas, como é algo ilegal, não se tem como mensurar com exatidão. O que o estudo mostrou é que, apesar de haver drogas em circulação na maioria esmagadora dos presídios, em apenas 41% deles houve registro de apreensão. Os números expõem a fragilidade dos mecanismos de controle de prisões brasileiras para coibir o tráfico de drogas", explica o procurador da República e um dos coordenadores da pesquisa Paulo Taubemblatt.
Em muitos casos, chama a atenção a forma rudimentar com que a droga ingressa nos estabelecimentos. Em outubro passado, horas antes da chegada do promotor Pedro Lino em um presídio de São Luís, no Maranhão, para a vistoria, uma bola de futebol havia sido atirada pelo muro para dentro da unidade, com uma arma dentro dela. Colocam até droga amarrada a gatos para passar pelo muro.
"Ainda não se inventou um equipamento capaz de rastrear com alta eficácia a entrada de drogas por pessoas. A revista, infelizmente, não dá 100% de garantia. Na maioria dos casos, a droga é levada para pagar dívidas do preso", diz um dos integrantes do Observatório Nacional do Sistema Prisional, da Universidade Federal de Minas Gerais, Claudio do Prado Amaral. Outro caminho de entrada são funcionários corruptos.