José Cezar Duarte Carlos, de 34 anos, com a noiva Valquiria Mendes Xavier; eles marcariam a data do casamento na semana em que o mineiro foi preso| Foto: Arquivo pessoal/Valquiria Xavier
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“Falaram que iam pegá-lo no pátio da cadeia e que ele ia morrer!”, revela a advogada Valquiria Mendes Xavier, ao denunciar ameaças sofridas pelo noivo José Cezar Duarte dentro da Penitenciária de Contagem, em Minas Gerais. O homem de 34 anos sofre de transtorno afetivo bipolar e teria entrado em surto psicótico após ser ameaçado.

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Segundo a defesa, um pedido de revogação da prisão foi protocolado no início deste mês, e a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou avaliação pela Junta Médica da penitenciária para analisar o quadro clínico do réu. O laudo solicitado foi encaminhado nessa segunda-feira (22) e aponta que o homem deve ser tratado “próximo à sua residência”, com “apoio familiar”.

De acordo com Valquiria, esse laudo evidencia que a situação de saúde de José é “extremamente delicada” e que o homem não tem condições de permanecer na prisão. Por isso, “assim que o ministro Alexandre de Moraes abrir prazo para acusação e defesa se manifestarem, entraremos novamente com pedido para revogação da prisão”, informa.

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Enquanto aguarda, José segue em uma cela na enfermaria da Penitenciária Nelson Hungria por ter sofrido o surto psicótico no dia seguinte à prisão. Ele foi levado à cadeia durante a operação de 6 de junho, que encarcerou mais de 200 réus do 8 de janeiro por suposto risco de fuga.

“Só que o José estava em casa e tem uma filha de 11 anos [foto abaixo] que depende dele, então não tinha intenção nenhuma de fugir”, afirma a noiva, explicando que o mineiro ainda se recuperava de outro surto grave sofrido no início do ano. “Ele estava tomando medicação, recebendo acompanhamento e melhorando. Inclusive, íamos marcar a data do nosso casamento no cartório na semana em que foi preso”, lamenta Valquiria.

Segundo ela, Duarte seguia todas as medidas cautelares, e ficou surpreso com a “visita” dos policiais federais, que o encaminharam à penitenciária. “Lá ficou inicialmente em uma ala provisória, uma espécie de triagem, onde tinham outros presos nas celas da frente e ao lado que começaram a ameaçá-lo”, relata a mulher, informando que visitou José Cezar no dia seguinte à prisão e percebeu seu estado de saúde.

“Os surtos que ele tem são desencadeados por estresse, e eu vi que que ele estava totalmente desorientado e fora da realidade, então, na hora, chamei os guardas para que o levassem para tratamento urgente com medicação de crise”, recorda, pontuando que viu o homem ser conduzido à enfermaria, mas sem receber atendimento “Era sexta-feira à tarde, e a equipe já tinha ido embora porque não têm plantão no fim de semana”.

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Ainda segundo a mulher, os policiais penais tentaram dar o medicamento, mas Duarte estava “fora de si” e não aceitou. “Acabou passando o fim de semana sem seus remédios e, como estava totalmente delirante, se recusou a comer, beber ou realizar higiene pessoal”, lamenta Valquiria.

A Gazeta do Povo entrou em contato com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública para tratar do caso, e foi informadaque detalhes “sobre estado de saúde de presos não são repassados em função da Lei Geral de Proteção de Dados”.

O que a pasta informou, no entanto, é que José Cezar está em cela individual, na enfermaria e que "essa situação se deve ao fato de ele já chegar à penitenciária, em 6 de junho, apresentando quadro de confusão mental, pois já fazia acompanhamento psiquiátrico anterior à prisão".

A secretaria ressaltou ainda "que o preso se recusou a tomar os medicamentos nos dias seguintes à prisão, culminando para que no dia 9 de junho fosse encaminhado para uma unidade de saúde da rede pública, onde foi medicado e retornou para a penitenciária".

A reportagem também perguntou a respeito das ameaças que o preso teria sofrido, e a direção da penitenciária afirmou que “apurará administrativamente”.

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Defesa alerta que os surtos podem causar demência permanente

No pedido de revogação de prisão apresentado pela defesa ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes, a advogada Bruna Cavalcante afirma que o réu toma remédio controlado desde 2020 e que já precisou ficar internado devido a episódios de surto.

Inclusive, “em uma das consultas, já no ano de 2024, o médico alertou para o perigo de crises psicóticas reiteradas e não tratadas, pois podem queimar neurônios de forma permanente, sendo capaz de provocar demência”, explicou a advogada no documento.

Por isso, ela pontua que a prisão domiciliar do acusado é uma “questão humanitária”, já que ele precisa de acompanhamento médico periódico. Inclusive, cita que o acusado foi preso no dia 8 de janeiro de 2023 e solto cerca de 10 dias depois, “justamente pelo seu quadro grave de saúde mental”.

Agora, no entanto, o homem segue na prisão há mais de 45 dias, apesar de Moraes já ter concedido liberdade em casos semelhantes, como de uma presa do 8 de janeiro com quadro de epilepsia.

Quem é José Cezar Duarte Carlos?

Natural de Viçosa, em Minas Gerais, José Cezar é formado em Educação Física. Ele trabalhava como personal trainer e também como motoboy. Seu único irmão, Júlio César Duarte, de 37 anos, afirma que José “é uma pessoa maravilhosa, calma, amorosa e o melhor irmão que Deus poderia me presentear”.

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Ele cita ainda que José é muito trabalhador e que sempre realizou suas atividades normalmente, “com acompanhamento médico e medicação em dia”. No entanto, “está sendo privado de sua liberdade, injustamente”.

Segundo ele, o homem esteve nas manifestações do 8 de janeiro de forma pacífica, e não há nenhum indício de participação nas depredações. “Ele está sendo acusado de crimes que não teve participação”, lamenta o pedagogo, citando que o irmão foi condenado a 17 anos de prisão “simplesmente por estar dentro do Palácio do Planalto”.

“E, infelizmente, meu irmão toma remédios controlados, e estar preso, ainda mais sofrendo ameaças, pode piorar o estado mental dele”, alerta, com esperança de que a justiça será feita. “Deus vai abençoar, e meu irmão será solto para ter a presença efetiva da família e da filha dele também”, finaliza.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]