O mentor do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Roraima comanda a facção de dentro de um presídio do Paraná, de acordo com documentos e conversas interceptadas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF). As investigações, de 2014, apontam que Ozélio de Oliveira - conhecido como Sumô - capitaneia a organização em Roraima diretamente da Casa de Custódia de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba.
Na última sexta-feira (6), 33 presos foram mortos em uma chacina em Boa Vista. O massacre é atribuído ao PCC e visto como um desdobramento da disputa entre a facção paulista e o Comando Vermelho que resultou na morte de 56 detentos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, o Compaj, em Manaus.
Após chacina em presídio, Roraima pede envio da Força Nacional
Leia a matéria completaSegundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp), Sumô atualmente está preso na Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP). À frente do comando da facção em Roraima, ele atua ao lado de Diego Mendes de Andrade, o Taylor, que cuida do aliciamento de novos integrantes e da divulgação da doutrina enquanto cumpre pena na Penitenciária Federal de Mato Grosso do Sul.
Celular muito caro
Uma das conversas interceptadas pela PF e pelo MPF, Sumô fala com Wax Nunes de Lima, um “salveiro” do PCC, responsável pela transcrição, transmissão e salvaguarda dos “salves” emitidos pelo comando da facção. Os dois falam sobre como conseguir celulares nas prisões. Sumô comenta a facilidade para se conseguir telefone nos presídios de Roraima e diz que onde está preso, no Paraná, são “somente” dois celulares por galeria.
“Eu morro de inveja de vocês aí que todo mundo tem um, isso aqui custa 5 mil real (sic) um aqui dentro moleque”, explica Sumô. “Caro que só né! Padrinho, aqui 5 mil é que nós paga pro cara comprar pra nós aparelho”, responde Wax. A conversa é de 2014.
Em nota, a Sesp informou que os procedimentos de revistas são constantes e ocorrem diariamente nos presídios do Paraná. Segundo o órgão, em 2015 foram apreendidos cerca de 7 mil aparelhos celulares nas 33 penitenciárias do estado. Em 2016 foram 6,4 mil.
Em maio do mesmo ano, as duas lideranças do PCC participaram de um conferência com outros traficantes interceptada pela PF. Na conversa, Sumô faz uma explanação sobre a situação do sistema prisional em Roraima e conta o início da facção e um episódio de quando o PCC começou a “pregar” a sua “ideologia”. Naquele momento, diz Sumô, os detentos de outras facções tiveram o “direito” de pular o muro da Monte Cristo. Segundo o criminoso, em 40 dias foram 145 fugas.
Outra conversa de maio, de um integrante da facção criminosa apontado como “Vandrinho”, revelou a negociação de armas de dentro da cadeia. Segundo a PF, o traficante usa os termos “abacaxi” e “canetas” para se referir a granada e pistolas, respectivamente.
Na mesma interceptação, Vandrinho afirma que a facção criminosa precisa medir forças com a polícia. “Porque parceiro nós tem de somar contra a opressão, contra esses bota preta aí parceiro (sic)”, afirma o traficante.
Weak Link
O nome da operação da Polícia Federal e Ministério Público contra o PCC em Roraima faz referência ao termo em inglês que significa elo fraco. A escolha faz alusão ao objetivo da operação que, segundo a PF, era evitar que outros criminosos entrassem para a organização e servissem de sustentação de sua estrutura, como elo mais fraco.
Investigadores de combate ao crime organizado acompanham o crescimento do PCC em Roraima há pelo menos cinco anos.
Entre os alvos da operação à época, 75 atuavam de dentro dos presídios e apenas 17 tiveram de ser detidos fora do sistema. A operação também detectou a expulsão de integrantes de outras facções da Penitenciária Agrícola Monte Cristo, promovida pelo PCC.
Pedido de transferência
De acordo com a Sesp, Sumô está preso na PEP desde 2011. A unidade é destinada a presos que fazem parte de facções criminosas. A secretaria informou que ele divide uma cela comum com outros presos porque não há unidades penais no Paraná com Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). O Departamento Penitenciário do Paraná (Depen) já solicitou a transferência de Sumô para o sistema prisional federal em 2015, mas o pedido ainda não foi atendido.
Segundo a Sesp, o pedido de transferência foi feito depois que Sumô foi um dos indiciados da Operação Alexandria, em 2015. A investigação começou depois que a polícia apreendeu diversos cadernos com anotações e detalhes da atuação do PCC no Paraná.
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