O sargento do Exército acusado de atirar em um jovem homossexual no Arpoador, na Zona Sul do Rio, no ano passado, foi preso na noite desta quinta-feira (28). Ele responde por tentativa de homicídio e teve a prisão preventiva decretada. O episódio ocorreu há oito meses e desde então o carioca Douglas Igor Marques, agora com 20 anos, não conseguiu superar o que aconteceu.
"Eu tô um pouco mais aliviado. Um pouco, não completamente, porque tudo isso foi um choque pra mim, foi difícil", afirmou Douglas.
Em outro processo, na Justiça Militar, o sargento e um ex-sargento foram condenados por abandono de posto. A pena é de oito meses de prisão, com direito à suspensão condicional, ou seja, eles podem ficar em liberdade e ainda podem recorrer.
Em novembro do ano passado, os militares deixaram o Forte de Copacabana, na Zona Sul do Rio, e abordaram no parque ao lado jovens que tinham saído da Parada Gay .
Segundo os rapazes, os militares xingaram e disseram que eles eram uma "raça desgraçada". O sargento foi reconhecido por Douglas e confessou o crime.
Além do julgamento militar, o sargento responde a um processo na Justiça comum, porque ele deixou o serviço para abordar as vítimas e estava fora da área militar. Ele é acusado de tentativa de homicídio, duplamente qualificado, por motivo torpe ou banal e sem possibilidade de defesa da vítima.
Nesta quinta-feira (28), a Justiça comum expediu o mandado de prisão preventiva contra o sargento.
"Este caso infelizmente houve um acidente com arma, mas não há homofobia envolvendo este caso", afirmou o advogado de defesa do sargento, Breno Costa.
A informação da decretação da prisão do militar foi publicada na coluna do Ancelmo Gois, do jornal O Globo, nesta quinta-feira. O juiz Murilo André Kieling, da 3ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, decidiu pela prisão preventiva do militar na segunda-feira (25). A ordem pública e a integridade das testemunhas estavam entre os motivos citados no processo.
Relembre o caso
O caso aconteceu no dia 14 de novembro de 2010, no Arpoador, na Zona Sul do Rio. Douglas tinha saído da 15ª Parada do Orgulho Gay e estava na companhia de amigos quando teria sido abordado por preconceito. O jovem foi socorrido e internado no Hospital Miguel Couto.
Com medo de represálias, ele se mudou para longe da casa dos pais, após uma decisão com a família. Atualmente, Douglas, que trabalha como assistente social, atende pessoas que sofreram com homofobia.
"Me prejudicou um pouco estar longe dos meus pais. O problema é à noite, fico com muito medo. Não saio mais à noite sozinho, tenho medo. Passei a ter receios de lidar com homens heterossexuais, o que eu nunca tive", contou.
Polícia
Na ocasião, o delegado da 14ª DP (Leblon) que ouviu os três militares envolvidos no crime afirmou que o autor do disparo preferiu não se pronunciar. O sargento, que tem 20 anos de Exército, havia alegado que não percebeu quando fez o disparo.
O sargento foi indiciado por tentativa de homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e sem possibilidade de defesa da vítima, com dolo eventual.
Segundo a polícia, o autor do disparo alegou que manuseava a arma apenas para intimidar o jovem. Além da polícia, o Exército fez uma investigação paralela do caso para analisar as armas e os vestígios de pólvora nas mãos dos militares. Mas como o episódio foi fora da área militar, o caso saiu da Justiça Militar.