Preso em dezembro de 2013 como um dos peças-chave do caso mansão cassino – esquema de jogo ilegal “estourado” em Curitiba –, o ex-delegado-geral da Polícia Civil, Marcus Vínicius Michelotto, vai assumir como delegado-titular do Instituto de Identificação do Paraná. O nome foi referendado nesta terça-feira (15), pelo Conselho da Policia Civil, que também definiu substituições em outras divisões policiais do estado, válidas a partir de semana que vem. As informações foram confirmadas pela Polícia Civil.
A nomeação marca o retorno de Michelotto à cúpula da Polícia Civil. Ela havia sido retirado da função de delegado-geral - o comando da corporação - em julho de 2013, após uma série de desgastes.
Micheloto foi preso no fim de 2013 durante uma operação deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) para prender policiais civis e militares suspeitos de envolvimento com o jogo ilegal no caso que ficou conhecido como “mansão cassino”.
Tratava-se de uma propriedade de luxo que foi invadida por policiais civis em janeiro de 2012 no bairro Parolin, em Curitiba, durante uma investigação sobre uso do local para a realização de jogos de azar. Havia suspeitas de que a casa também fosse usada para a exploração sexual. Na ocasião, três pessoas foram presas e 40 máquinas caça-níqueis foram apreendidas durante a ação, a qual o comando da Polícia Civil considerou com um “ato de milícia”.
Quase dois anos depois - em dezembro de 2013 - o Gaeco deflagrou a operação que terminou com a prisão de Michelotto, de outro delegado e três policiais. A ação penal que os acusava, no entanto, foi suspensa em agosto deste ano. A decisão foi da 2.ª Câmara Criminal de Curitiba do Tribunal de Justiça (TJ), tomada após um pedido de habeas corpus (HC) da defesa de Michelotto para suspender a ação por “ausência de justa causa”.
Segundo fontes ouvidas pela Gazeta do Povo, o nome de Michelotto foi indicado sem, aparentemente, ter o aval do governador Beto Richa (PSDB-PR). Isso porque o Conselho da Polícia Civil tem autonomia para fazer as escolhas dos comandos.
Por meio de nota, a Polícia Civil disse que Michelotto havia retornado aos seus exercícios na instituição “após o Tribunal de Justiça decidir por unanimidade, que não haviam indícios mínimos de autoria e materialidade no caso”. A corporação destaca ainda que o Instituto de Identificação não é considerado uma unidade de direção da Polícia Civil.
Operação Vortex
O nome do novo delegado-titular do Instituto de Identificação do Paraná também foi citado no caso de corrupção apurado durante a operação Vortex, do Gaeco, meses antes do anúncio da suspeita de envolvimento dele na “mansão-cassino”. Na ocasião, ele ocupava o posto de delegado-geral da Polícia Civil e chegou a prestar depoimento no caso.
A operação Vortex apurou indícios de uma quadrilha teria sido articulada dentro da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos para extorsão de comerciantes do setor de autopeças. Michelotto foi mencionado pelo Gaeco por conta de ligações telefônicas interceptadas com autorização da Justiça. Alguns telefonemas do delegado Gérson Machado – um dos denunciados – sugeriam o envolvimento da cúpula da Polícia Civil na rede de corrupção. O ex-delegado-geral, no entanto, afirmou, na época, que Machado o citou nas conversas com a intenção de incriminá-lo.
A reportagem tentou contato com Marcus Vínicius Michelotto durante a manhã, mas não obteve sucesso. Procurada, a assessoria de imprensa da Polícia Civil disse que ele prefere não se manifestar sobre a nomeação.
“Polícia Fora da Lei”
Enquanto era delegado-geral da Policia Civil, Michelotto teve que contornar outra crise. A série de reportagens “Polícia Fora da Lei”, publicada pela Gazeta do Povo, mostrou que a cúpula da corporação fazia uso pessoal de viaturas descaracterizadas, usando os veículos para levar filhos em escola, fazer compras e até para ir ao bordel. Além disso, as reportagens apontaram que dinheiro do fundo-rotativo - verba destinada a manutenção de delegacias - não chegava a unidades do interior do estado.
Outras mudanças
A entrada de Michelotto no Instituto de Identificação do Paraná retira do cargo o delegado Alcimar de Almeida Garrett, que vai assumir a Divisão de Polícia Metropolitana (DpMetro).
Hamilton Cordeiro da Paz Junior, atual delegado-titular da DpMetro, será delegado adjunto da Divisão de Polícia Especializada, que ficará sob o comando de Paulo Ernesto Cunha. Luis Fernando Viana Artigas e Cristiano Quintas assumirão, respectivamente, como delegados titular e adjunto do Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre).
As mudanças definidas nesta terça contemplam ainda Pedro Felipe de Andrade, que será delegado operacional da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR); Newton Tadeu Rocha, que vai assumir o Grupo Auxiliar de Planejamento; Osmar Dechiche, como delegado adjunto da Escola Superior da Polícia Civil, e Silvanei Gomes, como titular da Delegacia do Adolescente (DA).
A assessoria de imprensa da Polícia Civil disse que os novos cargos serão assumidos no início da próxima semana, mas ainda sem conseguir precisar o dia específico.