Mais três crianças do PR podem ter morrido em rituais
Além do caso de Giovanna dos Reis Costa, foram registradas no Paraná pelo menos outras três mortes de crianças que podem ter ocorrido em rituais de magia negra. A história mais famosa é a do menino Evandro Ramos Caetano, que teria sido vítima dos bruxos de Guaratuba, no litoral. Há também Leandro Bossi, desaparecido há 15 anos, na época em que a vidente Valentina de Andrade, da seita Lineamento Universal Superior (LUS), hospedou-se no hotel em que a mãe do garoto trabalhava, também em Guaratuba. E tem ainda a menina Suelen Kath, 4 anos. Ela foi sacrificada há cerca de 13 anos, em Colombo, em circunstâncias semelhantes à Giovanna.
Segundo o promotor Paulo Sérgio Markowicz Lima, que atua no Tribunal do Júri de Curitiba, o Caso Giovanna é o mais grave e repugnante a partir de 2000. "O fato é tão grave que a Polícia Federal se interessou pela investigação, por causa da violação de Direitos Humanos", informou.
O delegado federal Flúvio Cardinelle confirmou que recebeu orientação de Brasília (DF) para acompanhar a investigação. No entanto, ele disse que a Polícia Civil trabalhou muito bem. "Em função do que já foi feito, eu tentaria apenas localizar os foragidos no Brasil", afirmou o delegado.
O uso de crianças em rituais de magia negra no Paraná é investigado pela Polícia Federal, a pedido da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, há cerca de quatro anos, desde o julgamento da vidente Valentina de Andrade, acusada de tortura, castração e morte de cinco crianças no estado do Pará, na Região Norte do país. Ela foi absolvida e não chegou a ser julgada pela morte de Leandro Bossi, que não foi esclarecida até hoje.
Os passos da morte de Giovanna são parecidos com o assassinato de Suelen, uma menina sacrificada na localidade de Santa Gema, área rural de Colombo, no dia 29 de junho de 1994. O crime ocorreu na chácara de Braz Pedro Sambulski, que foi preso e confessou o delito. Ele foi condenado por lesões corporais, homicídio qualificado e ocultação de cadáver, a pena de 18 anos e sete meses de reclusão.
Segundo decisão do Tribunal de Justiça, o ritual da menina Suelen teve por base a leitura de um livro místico antigo, que mandava colher o sangue de uma menina virgem, asfixiando-a, para buscar prosperidade. Teria sido assim que Giovanna morreu.
O advogado Marcello Trajano da Rocha, defensor dos ciganos, alega que eles são inocentes. "Eles estão sendo acusados porque são ciganos e porque é conveniente para a Justiça. No entanto, o processo não tem prova documental, testemunhal e pericial", disse.
Caso Evandro
No caso Evandro Caetano, dos sete acusados de matar o menino num ritual de magia negra em Guaratuba, três foram condenados a penas médias de 18 anos de reclusão. Entre os demais, dois foram absolvidos. Já Celina e Beatriz Abagge, as supostas interessadas no ritual, aguardam uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Elas foram absolvidas num Júri popular, mas o Ministério Público recorreu e o Tribunal de Justiça marcou um novo júri. Como a defesa recorreu, o processo subiu para o STJ.
João Natal Bertotti
Os ciganos acusados de participação no ritual de magia negra que teria levado à morte Giovanna dos Reis Costa, 9 anos, no dia 10 de abril de 2006, em Quatro Barras, região metropolitana de Curitiba (RMC), estão presos. A cartomante Vera Petrovitch, 54 anos, suposta autora intelectual do crime, e seu filho, Pero Petrovitch Theodoro Vichi, 19 anos, que teria executado o ritual, foram detidos na residência de uma sobrinha de Vera, em Araçatuba, a 545 quilômetros de São Paulo, na quinta-feira. Eles eram procurados pela Polícia Civil do Paraná desde o ano passado. O crime, que teve requintes de crueldade, chocou os paranaenses e ganhou repercussão nacional.
A dupla foi presa por acaso, quando a polícia de Araçatuba recebeu denúncia de que na casa da sobrinha, situada no Jardim Dona Amélia, existiam armas e drogas. Uma equipe se deslocou até ao local e prendeu Vera e Pero, depois que uma menina tentou esconder jornais com notícias sobre a morte de Giovanna. "Além dos jornais com a foto da menininha e dos acusados, foram encontradas várias mechas de cabelo humano, velas e bonecas. Os policiais suspeitaram da situação e prenderam a dupla", disse a delegada responsável pelo caso, Margareth Alferes de Oliveira Mota, por meio de informações colhidas juntas ao delegado Marcelo Curi, titular da delegacia de Araçatuba.
Na delegacia, foi constatado que Pero e Vera eram foragidos da Justiça. Contra eles existem dois mandados de prisão pela morte de Giovanna, expedidos pela juíza Paula Priscila Figueira, de Campina Grande do Sul, na RMC. O rapaz já havia sido preso por falsidade ideológica, mas foi liberado porque, na época, não havia provas contra em ele em relação à morte de Giovanna.
Os ciganos foram trazidos ontem para Curitiba e desembarcaram no Aeroporto do Bacacheri, às 19 horas. Ambos foram para uma sala onde deram entrevistas para a imprensa e se disseram inocentes. "Vou provar para todo mundo a minha inocência. Não existiu ritual nenhum. Eu jamais seria capaz de fazer isso. Não matamos ninguém", disse Pero, bastante exaltado. Vera também se defendeu. "Nós nos escondemos em Araçatuba porque disseram que iam nos linchar em Quatro Barras. Também sou mãe e avó, jamais faria uma coisa dessas. Foi o Cláudio que armou para mim", afirmou.
Cláudio Domingos Iovanovictch, acusado por Vera, é presidente da Associação Nacional de Preservação da Cultura Cigana. "Ela tem todo o direito de se defender da maneira que quiser, mas nunca foi bem vista pela nossa colônia em Curitba. Meu medo é que o fato de eles serem ciganos prejudique nossa comunidade. Somos em 600 mil ciganos-monges e já tive notícias de que muitas tendas foram apedrejadas por conta desse caso horrível. Se existe esse tipo de ritual, ele não faz parte da cultura cigana", se defendeu.
Outros casos
A delegada disse que há a possibilidade dos acusados terem participação em outros crimes. "Vamos ajudar a polícia de outros estados a descobrir outros casos que envolvem desaparecimento de crianças", relatou. A polícia de Araçatuba começou a investigar se uma menina de 7 anos, da cidade vizinha de Birigüi, que está desaparecida, pode ter sido vítima de Vera e Pero.
Ontem, a dupla foi conduzida para a Delegacia de Vigilâncias e Capturas. Vera será transferida para o Centro de Triagem, em Curitiba, e Pero vai para o Centro de Triagem II, em Piraquara, na RMC. Ainda estão foragidos a companheira de Pero, uma adolescente de 16 anos, e o pai da jovem, o vendedor autônomo Renato Michel, 38 anos.
Angústia
Após um ano e dois meses de sofrimento, a família de Giovanna teve pela primeira vez um sentimento de alívio. "Hoje, sim, eu consegui dar um sorriso depois de tanto tempo sofrendo", disse Cristina Aparecida Costa, 32 anos, mãe da menina.
Toda a rotina da família foi alterada. Eles se mudaram da antiga casa onde moravam, foram para outro bairro, mas não saíram de Quatro Barras. Cristina disse que sentiu, nos últimos dias, a presença da filha. "Ontem e hoje eu senti a presença dela comigo. Rezei muito para Deus e essa prisão nos conforta de uma certa forma. Nada trará minha filhinha de volta, mas é um sentimento de alívio. Foi a melhor notícia do ano. Agora espero que os outros sejam presos também."
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