Acusado pela morte de policial federal é principal negociador dos presos
Alessandro Meneghel, ex-presidente da Sociedade Rural do Oeste (SRO), também foi acusado de ordenar um ataque contra sem-terra que haviam ocupado uma fazenda. Ele foi escolhido por conta da facilidade de comunicação.
Perfil
Penitenciária Estadual de Cascavel
Inauguração: 2007
Tipo de preso: Condenados do sexo masculino
Regime penal: fechado
Área construída: 9.970 m²
Capacidade: 1.116 detentos
Presos (antes das transferências): 1.040 detentos
Fonte: Secretaria de Justiça do Paraná (Seju)
PR teve ao menos 18 revoltas de presos nos últimos 12 meses
Nos últimos 12 meses, o Paraná já registrou pelo menos 18 casos de revolta de presos em penitenciárias, presídios e cadeias do estado. A mais recente é a que começou neste domingo, na Penitenciária Estadual de Cascavel (PCE), no Oeste do estado, onde, a princípio, dois presos foram mortos e há dezenas de feridos no local, segundo a Polícia Militar. Este é o primeiro caso com mortes no estado no mesmo período.
Última rebelião com mortos no Paraná foi em 2010
Há quatro anos e meio o Paraná não enfrentava uma rebelião em presídios estaduais em que houvesse mortes. A última aconteceu em janeiro de 2010. Cinco presos foram assassinados pelos detentos rebelados na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba (RMC). Na época, o motim de 1,5 mil presos durou 18 horas e terminou com 90% das celas destruídas.
Depois de um acordo ter sido encaminhado para pôr fim à rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC) durante a tarde, presos rebelados do local passaram a ser transferidos para outros complexos penais do estado. O primeiro grupo, de 150 pessoas, saiu no início da noite desta segunda-feira (25), por volta das 19 horas. Viaturas, ônibus e carros fechados do Departamento de Execuções Penais (Depen-PR) deixavam o local a todo momento com presos.
Veja fotos da rebelião em Cascavel
Até as 23 horas, ao menos 250 já tinham sido levados para presídios de Foz do Iguaçu, Curitiba e Guarapuava. Havia, no mesmo horário, pelo menos 400 a serem transportados e a previsão era de que a rebelião entrasse madrugada a dentro. Isso porque os presos rebelados prometeram soltar os agentes mantidos reféns apenas depois que todas as transferências acordadas entre detentos e negociadores fossem concretizadas.
Durante cerca de uma hora, das 20 às 21 horas, as transferências chegaram a ser suspensas pela PM por questão de segurança. O fato gerou protesto dos presos, que queimaram colchões e fizeram gestos em protesto para demonstrar que estavam insatisfeitos com o "descumprimento do acordo". O transporte de presos foi reiniciado às 21h e a situação voltou a ficar como estava antes da interrupção.
Houve denúncias, durante esse período, de que presos teriam fugido pelo esgoto do presídio. A informação, no entanto, não foi confirmada oficialmente.
O porta-voz dos presos na rebelião de Cascavel, o detento Alessandro Meneghel, disse em entrevista à Rádio CBN Cascavel, por volta das 21 horas, que os presos temem uma invasão. Ele garantiu que são quatro mortos dentro do presídio e desmentiu a informação de que o número de óbitos poderia ultrapassar os 20. Meneghel, no entanto, disse que o comando da rebelião ameaça matar presos condenados por estupro, caso a PM invada o prédio.
"É uma mentira deslavada [o número de mortes maior que quatro], eu não tenho porque estar aqui mentindo. Morreram quatro presos até agora, quatro estupradores. A ordem foi do pessoal do comando. Como a PM tentou entrar, estava desacreditando da rebelião, o comando fez", diz Meneghel.
O ruralista citou que o comando da rebelião é do "irmão do comando Whashington de Oliveira". Segundo o porta-voz dos presos, Oliveira garantiu a integridade física dos presos, desde que a penitenciária não seja invadida. "Quero deixar muito bem claro que se acontecer alguma coisa hoje, se morrer mais algum preso, ou se acontecer de morrer agentes, responsabilidade vai ser da Seju e da PM."
Além das transferências, os presos tentam convencer os negociadores a fornecer alimentos e ligar a luz e a água do prédio. "A penitenciária está tomada. A negociação está muito dura, a gente pede para ligar luz, não liga. Pede para comida, não veio, está todo mundo passando fome. Ficam querendo entrar, invadir a penitenciária, entram até uma altura e recuam. Nossa preocupação é que não haja mais tragédia do que já aconteceu aqui."
A tenente Márcia, que é quem passa as informações dos negociadores à imprensa, negou que haja qualquer intenção da PM de invadir a penitenciária.
Acordo
Os presos rebelados na Penitenciária Estadual de Cascavel (PEC) encaminharam um acordo, por volta das 16h30, para colocar fim na rebelião - mas o movimento continua. Entre os termos acertados está a transferência de presos para outros complexos penais. A informação foi confirmada pela Secretaria Estadual de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju).
Caso o acordo seja mantido, estima-se que entre 150 e 300 presos devam permanecer na unidade prisional. Isso porque o espaço ficou deteriorado com o motim. Das 24 galerias, 20 estão danificadas. Calcula-se que cerca de 800 presos serão transferidos.
No domingo, cerca de 145 presos que não aderiram à rebelião, e eram ameaçados pelos rebelados, foram transferidos, sendo que 77 deles foram para a Penitenciária Industrial de Cascavel (PIC), que fica no mesmo complexo que a Penitenciária Estadual. O restante foi encaminhado para a Penitenciária de Francisco Beltrão.
Segundo informações da Ordem dos Advogados do Brasil Subseção de Cascavel, os presos transferidos estavam na ala "seguro", onde ficam os condenados por estupro, e foram feitos refém dos rebelados durante o motim de domingo. Segundo informações oficiais, a unidade possui capacidade para 1.116 detentos e, no momento do motim, havia 1.040 presos.
Mortos
De acordo com Paulo Damas, juiz da Vara de Execuções Penais (VEP) de Cascavel, o número de mortos pode ser bem maior do que o divulgado pela Seju. "Pela maneira que eles tratavam os presos e pelo forte cheiro de cadáver queimado, sinto que é pouco provável que tenhamos esse total de mortos [quatro]. Eu vi quatro cadáveres, mas a fumaça dos corpos queimados estava muito intensa e o cheiro era forte", disse.
PCC
Os rebelados, que usam capuzes para esconder os rostos, voltaram a atear fogo em algumas galerias da penitenciária. Alguns deles, que ocupam o telhado da unidade penitenciária, usam identificações da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). O abastecimento de energia elétrica e de água permanece cortado no presídio nesta segunda.
O motivo da revolta dos presos deve-se a pelo menos quatro fatores. Eles exigem o fim das agressões sofridas dentro do presídio e dos abusos nas revistas das visitas, melhoria da comida e na estrutura física do local. Informações não oficiais dão conta de que a rebelião teria sido planejada e seria uma disputa de grupos rivais.
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