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Linguagem na cadeia

Presos são tatuados de acordo com o crime que cometem, aponta estudioso

Jorge Luiz Werzbitzki estuda tatuagens de presos há cerca de dez anos | Patricia Pereira / Gazeta do Povo
Jorge Luiz Werzbitzki estuda tatuagens de presos há cerca de dez anos (Foto: Patricia Pereira / Gazeta do Povo)

O crime cometido por um homem preso também fica registrado na pele dele. É isso o que defende o perito da Polícia Científica, Jorge Luiz Werzbitzki, que há dez anos estuda a linguagem usada nas cadeias - em especial a tatuagem – para publicar um livro. Segundo ele, os detentos são marcados de acordo com o delito que cometeram e os desenhos são ferramentas para determinar quem tem mais poder dentro da prisão.

Werzbitzki é um dos responsáveis pela elaboração de retratos-falados e aprendeu, ao longo dos 28 anos de trabalho, que cada sinal é importante para a identificação do suspeito procurado, seja o porte físico, o corte de cabelo, uma cicatriz ou uma tatuagem. E foi assim que ele decidiu se aprofundar no assunto e procurou a Escola Penitenciária de São Paulo, por onde começou sua pesquisa. "Eles já tinham um levantamento sobre tatuagens de presos e começamos a trocar informações. Depois disso, passei a analisar as tatuagens daqui de Curitiba", contou.

A figura de um crânio é a tatuagem feita pelos responsáveis por homicídios e a quantidade de caveiras é o número de vítimas que teria assassinado, conta o pesquisador.

Segundo ele, os estupradores são marcados, quase sempre à força, com desenhos como coração cortado por flecha, sereia e borboleta. "Os outros presos fazem a tatuagem para que o estuprador seja reconhecido em qualquer lugar", disse.

Os presos que delataram membros do seu grupo são marcados com uma cobra. Os que mataram policiais comumente têm um revólver tatuado na cintura ou uma caveira com uma faca cravada. Pedófilos são marcados com triângulos. "Linhas grossas significam que as vítimas dele são adolescentes e linhas finas que as vítimas são crianças mais novas".

As tatuagens são produzidas dentro da cadeia com uma máquina improvisada ou com um aparelho de barbear e tinta plástica, e, dessa forma, o traço do desenho é imperfeito. "Nem todas as pessoas que tem uma caveira tatuada são homicidas. As pessoas precisam observar que a tatuagem de cadeia é muito diferente daquela feita em estúdio".

Além dos desenhos, os presos são marcados por pontos na mão ou no rosto, conforme o crime que cometeram. Um único ponto tatuado no rosto quer dizer que o preso cometeu um estupro. Dois pontos na mão indicam atentado violento ao pudor, enquanto três pontos mostram que o preso é traficante. Quem recebe quatro pontos foi responsável por furto e cinco, por roubo. O detento com seis pontos formando uma cruz é homicida e se houver um círculo ao redor, ele é também chefe de quadrilha, como conta Jorge.

O perito também explica que os símbolos têm o mesmo significado dentro das cadeias de todo o Brasil. "Cada país tem o seu código, mas alguns desenhos são mundiais, é o caso da suástica em skin heads", afirmou.

O livro vai se chamar "Linguagem de Cadeia" e ainda não tem data para ser publicado. Além de tatuagens, vai falar sobre os meios que os presos se comunicam, com linguagem de sinais, gírias e espelhos para passar mensagens.

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