A falta de água e de espaço na cadeia pública de Paranaguá, no litoral do estado, provocou duas tentativas de rebelião na madrugada de sábado e no início da tarde de ontem. A superpopulação carcerária obrigou os policiais a cobrir com lona plástica o pátio onde os presos tomam sol para ampliar a capacidade prisional.
Os detentos destruíram paredes e grades, e arrancaram uma porta de ferro que separa o interior do presídio e o corredor onde estão as salas dos delegados da 1.ª Subdivisão Policial (SDP). Os motins foram controlados pelos policiais civis com a ajuda da tropa de choque da Polícia Militar, mas o risco de uma nova rebelião é grande. "O estopim continua aceso lá dentro e vai explodir a qualquer momento", disse um delegado, que preferiu não ser identificado.
Construída na década de 50, a cadeia de Paranaguá abrigava ontem 206 pessoas detidas quase 700% a mais do que a capacidade do local, que é de 27 presos. Sem portas nas celas, já destruídas em rebeliões anteriores, os detentos ocupam três alas e os corredores da unidade. Além do pátio coberto com lona, onde estão detidas 16 mulheres, que têm contato direto, através das grades, com os presos do sexo masculino.
Segundo um delegado, com o excesso de presidiários, a sensação térmica no interior da cadeia chega a ser até 10°C superior à temperatura externa. "Sem água para se refrescarem, aquilo lá parece um inferno", disse, lembrando o motivo do primeiro motim. Ontem, oito presos foram transferidos para Curitiba.
Vizinhos da cadeia localizada no centro histórico da cidade também estão com medo e pedem a intervenção no presídio. "Isso é uma calamidade total e o retrato do descaso dos nossos governantes", afirmou uma senhora que reside em um edifício próximo, que também não quis ter seu nome revelado. Em frente à unidade prisional estão localizados um colégio e um asilo de idosos.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Segurança Pùblica (Sesp) informou ontem que já solicitou à Justiça a remoção de um número maior de detentos e que não há previsão de reformas na cadeia no momento. Segundo a Sesp, o problema só será solucionado com a entrega de novos presídios. No entanto, a secretaria informou que não há previsão para inauguração de novas unidades prisionais no litoral. Policiais revelaram que 80% dos detidos em Paranaguá são moradores do litoral.