Tempo ruim
Em 2010, vários municípios do Paraná sofreram com vendavais, tempestades e alagamentos:
13 e 14 de dezembro A chuva provocou prejuízos em pelo menos 14 cidades. Mais de 12,5 mil pessoas foram afetadas.
9 de novembro Vendaval afetou mais de 2,1 mil pessoas em 18 municípios do Noroeste, do litoral e do Sul.
29 de outubro Ventos, tempestades e chuva de granizo atingiram 15 municípios do Oeste, do Centro e do Norte do estado, afetando 5 mil pessoas.
7 a 9 de setembro Um temporal provocou estragos em 58 cidades. Mais de 3,8 mil casas foram destelhadas.
21 de abril Chuvas, vendavais e alagamentos deixaram mais de mil desabrigados em União da Vitória e Rio Negro.
29 de janeiro a 3 de fevereiro Temporais, deslizamentos e alagamentos afetaram 33 municípios, deixando 1,2 mil desabrigados e 4,7 mil desalojados em 14 cidades.
Ministro quer programa para prevenir desastres
O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, quer desenvolver um "grande programa de previsão de catástrofes naturais". Segundo ele, mais de 60% dos desastres naturais do país hoje são enchentes e desmoronamentos de encostas. "Estimamos aproximadamente 500 áreas de risco e mais ou menos 5 milhões de pessoas expostas", afirmou ontem o ministro, em visita ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos (SP).
Foz do Iguaçu - Mesmo com a crescente demanda por obras de prevenção a desastres naturais, o Paraná e outros 13 estados ficaram de fora das contas do governo federal para esse tipo de ação. O orçamento da União para 2011 sofreu um corte de R$ 30,5 milhões nessa área, o equivalente a 18% em relação à previsão inicial de 2010. Agora, a ampliação desses recursos, distribuídos com base em convênios com os estados, dependerá da intensidade das chuvas e das consequentes catástrofes ambientais. Sem recursos, estados e municípios têm de arcar com os investimentos emergenciais.
As mais de 800 ocorrências registradas no ano passado pela Secretaria Nacional de Defesa Civil, que resultaram na morte de 473 pessoas e mais de 7,8 milhões de desabrigados no país, não convenceram governo e legisladores a reservar mais verbas para prevenção. Em 2010, a previsão inicial foi de R$ 168 milhões, chegou a R$ 442,5 milhões, mas só R$ 167,5 milhões foram pagos. Para este ano estão reservados R$ 137,5 milhões.
Desde 2006, o Paraná teve verbas para obras preventivas somente no ano passado, quando a reserva orçamentária foi de R$ 900 mil. A atenção, no entanto, parou por aí. Do montante orçado, R$ 400 mil foram autorizados e nada chegou a ser pago. Em contrapartida, no ano passado, cerca de R$ 25 milhões para obras de recuperação, socorro a vítimas e transferência de moradores tiveram de ser repassadas a 37 cidades do estado, todas prejudicadas por alagamentos, deslizamentos e vendavais.
"Falta visão estratégica", diz o diretor do Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Renato Lima. "No final, aquilo que se julgava desnecessário acaba tendo um custo muito maior com socorro e assistência às vítimas e recuperação do patrimônio afetado. Isso sem falarmos nas mortes que poderiam ser evitadas."
Um exemplo é a redução de recursos (a maior de 2011) para o item "apoio a obras preventivas de desastres", do Programa de Prevenção e Preparo para Desastres. Em 2010, o total previsto para essas obras era de R$ 157,8 milhões. Para este ano estão programados R$ 97 milhões. As emendas no orçamento elevaram a previsão do ano passado para R$ 414,8 milhões, mas, com o excesso de formalidades, só R$ 145 milhões chegaram aos municípios.
Socorro e emergência
Segundo o site Contas Abertas, a assistência a vítimas e a recuperação das áreas devastadas consumiram R$ 2,3 bilhões dos pouco mais de R$ 3 bilhões orçados para 2010. Os gastos com o socorro foram quase 14 vezes maiores que os aplicados em prevenção. Diferentemente das situações de emergência, o repasse para a prevenção depende da aprovação de projetos e de convênios com os estados.
A burocracia e as brechas na legislação também ditam as regras para a divisão dos recursos. Ao longo do ano, a previsão orçamentária ganha volume com os créditos adicionais aprovados pelo Legislativo e por meio de medidas provisórias editadas pelo Poder Executivo para a autorização de repasses em caráter emergencial, como prevê a Constituição Federal.
"Se todo ano é assim, já passou da hora de mudar e se antecipar", diz Renato Lima. "Mesmo com a previsão sendo ampliada, é apenas uma previsão. Existe pouca agilidade para atender as demandas. Até o dinheiro chegar, as prioridades podem ter mudado e perdido importância." Ele destaca que a distribuição dos recursos não obedece apenas critérios técnicos, mas políticos. "O recurso que já é pouco nem sempre é utilizado onde e quando necessário."
O assessor do Ministério da Integração Nacional e futuro Secretário Nacional de Defesa Civil, Humberto Vianna, concorda que os recursos são insuficientes, mas diz que mais verbas poderão ser liberadas. "Existem outras formas de ampliar o orçamento: as emendas parlamentares, as medidas provisórias e a inclusão dos projetos no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]."
Medidas simples
Entre as ações preventivas estão medidas consideradas simples. Famílias localizadas em áreas de risco deviam ser realocadas; obras de infraestrutura, como a construção de muros de contenção de encostas, drenagem, canalização e desassoreamento de rios são outras soluções. Outro projeto importante, mas que ainda não saiu do papel, é a reestruturação do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad).
Funcionando precariamente desde 2005, o departamento é responsável pelo monitoramento das ocorrências no país. Com essas informações, o Cenad pode apontar as áreas de risco. Orçado em 2010 em R$ 1,5 milhão, também viu os recursos serem transferidos para outras áreas. "Sem um mapeamento das áreas e situações de risco é impossível planejar e promover qualquer ação", diz o geólogo do Cenad Paulo Santos.
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