A oferta do exame de sequenciamento genético no Sistema Único de Saúde (SUS) para pacientes com alto risco de câncer poderia contribuir para prevenir a doença e reduzir custos decorrentes do tratamento. No entanto, a rede pública não oferece o teste e tampouco dispõe de estrutura e laboratórios especializados para fazer o mapeamento.
O assunto ganhou repercussão após a atriz Angelina Jolie ter se submetido a uma adenomastectomia retirada das mamas como prevenção ao câncer. O teste genético revelou que ela tinha um risco de 87% de desenvolver câncer da mama e de 50% de ter um tumor nos ovários. Desde então, clínicas médicas e hospitais de todo o país receberam uma avalanche de pacientes em busca de informações sobre o exame e a cirurgia preventiva.
Para os médicos, a oferta do exame genético pelo SUS significaria uma redução nos custos com tratamento. "Há estudos que mostram que arcar com os testes genéticos é muito mais eficaz que arcar com os tratamentos de câncer. Hoje um paciente com câncer não custa menos de R$ 500 mil ao sistema de saúde, porque é preciso fazer cirurgia, internações, exames, quimioterapia, radioterapia e cuidados paliativos", diz o médico oncogeneticista do Hospital Erasto Gaertner José Claúdio Casali da Rocha. Hoje, segundo ele, o exame feito pela atriz custa cerca de R$ 4 mil.
Na rede privada, a obrigatoriedade de os convênios pagarem o teste genético só começou a valer no ano passado, a partir da Resolução Normativa n.º 262. No entanto, o procedimento só é válido se for solicitado por um geneticista e nem todos os planos fazem a cobertura.
Cautela
Os médicos recomendam cautela às mulheres que pensam em fazer o teste e a cirurgia porque a mutação encontrada em Jolie atinge menos de 1% da população. As pacientes com indicação para fazer o acompanhamento genético e a adenomastectomia precisam se enquadrar no grupo de alto risco.
O médico do Setor de Ginecologia e Mama do Hospital Erasto Gaertner, Sérgio Hatshbach, diz que o fato de o procedimento não estar disponível no SUS não é preocupante, porque existem outras formas de monitorar e prevenir o câncer, como a mamografia e a ecografia. "Se você fizer as consultas e exames pode controlar perfeitamente sem o teste de sequenciamento genético."
A mastologista Marília Takimoto, de Foz do Iguaçu, ressalta a importância da prevenção. Ela diz que apesar das campanhas, muitas mulheres ainda chegam aos consultórios com tumores em estado avançado. "Para a população que não é paciente de risco rastreamos a doença pela mamografia", explica.
Paranaense fez o teste de graça na Inglaterra
Na Inglaterra, o teste de DNA é oferecido pela rede pública de saúde. Foi lá que a paranaense Cristiane Lourenço, 30 anos, descobriu ter uma anomalia no gene BRCA1, o mesmo da atriz Angelina Jolie. O exame foi feito por orientação dos médicos após a mãe de Cristiane ter enfrentado dois cânceres. O primeiro, aos 32 anos, em uma das mamas. Na época, Cristiane tinha 10 anos. Após fazer o tratamento e superar a doença, a mãe dela foi acometida pelo câncer novamente, na outra mama, em 2009.
Em 2011, Cristiane foi morar na Inglaterra por questões profissionais ela trabalha com sustentabilidade em uma multinacional em São Paulo. Em Londres, fez o cadastro na unidade de saúde do bairro um serviço similar ao prestado pelos médicos da família no Brasil e recebeu uma série de recomendações para prevenção do câncer. Também soube que o teste de DNA, para quem tinha câncer na família, era gratuito e resolveu fazer. "Minha médica falava: pense em 50% que você tem e 50% que você não têm. Assim você vai ficar mais preparada para a notícia. Mesmo assim, foi um baque grande", conta.