Vídeo| Foto: Reprodução RPC TV

Maioria só aprende depois de errar

O universitário Gabriel Brum Graça, de 23 anos, precisou ser assaltado para só então começar a tomar cuidado. Em novembro, ele foi rendido quando chegava em casa com a namorada, no Jardim das Américas, em Curitiba, por volta das 20h30. Foram abordados no portão por quatro pessoas armadas. "Ficamos de joelhos sob a mira de um revólver enquanto reviravam tudo", recorda. Levaram computador, vídeo-game e o carro, recuperado no dia seguinte.

Gabriel diz que olhou ao redor antes de estacionar o veículo, mas não viu nada. "Agora, não só olho com atenção como dou uma volta na quadra antes de parar." Para ele, muitas vezes as pessoas que não passaram por uma situação semelhante não adotam comportamentos que garantam segurança. "A pessoa que não sofreu isso não fica tão alerta."

"As pessoas sempre pensam que não vai acontecer com elas. É preciso sempre pensar que será o próximo", diz o presidente da União dos Conselhos de Segurança do Paraná (Uniconseg), Sérgio Skiba. Casos iguais ao de Gabriel já se tornaram comuns. "Já houve até o caso de um policial militar que teve o carro roubado porque não olhou em volta na hora de estacionar", afirma.

Segundo Skiba, a própria polícia fala que 75% dos assaltos ocorrem por descuido. "Em nossas reuniões sempre repetimos algumas dicas: não lave o carro na rua, não deixe o portão aberto, não deixe a chave no carro, olhe para os lados antes de entrar e sair."

O presidente do Conseg do Bacacheri, José Augusto Soavinski, dá outro conselho: deve-se tomar cuidado ao falar pelo telefone. "Tem vários golpes em que pedem os números do RG e do CPF e o endereço". Outra dica: ao viajar, deve-se deixar o mínimo possível de vestígios de que a casa está vazia.

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É possível sim driblar a criminalidade. Atitudes simples, que muitas vezes passam despercebidas no cotidiano, podem evitar grandes prejuízos e até salvar vidas. Para isso, a população precisa adotar estratégias para não ficar exposta à bandidagem. Segundo as polícias Civil e Militar, pessoas precavidas têm até 90% menos chances de serem vítimas de assaltos, roubos, seqüestros e outros crimes. No entanto, para ser mais um nesta estatística positiva é preciso disciplina e alguns cuidados básicos ao andar na rua, parar o carro no semáforo ou sacar dinheiro no caixa eletrônico, por exemplo.

A pouca conscientização sobre segurança tem chamado a atenção da PM, que desenvolve trabalho de orientação à comunidade. "A prevenção responde por 90% do comportamento de segurança, 5% são sorte e 5% reação (reagir de maneira adequada e com calma diante da ocorrência)", afirma o major Douglas Sabatini Dabul, chefe do setor de Planejamento do Comando do Policiamento da Capital. "Uma pessoa distraída pode ser facilmente rendida por um marginal. Se a pessoa reduz essa oportunidade, reduz também a possibilidade de ação do bandido. O marginal não quer se expor, não quer locais iluminados ou com um grande número de pessoas."

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Dabul cita o exemplo da própria PM para ressaltar a importância de medidas preventivas. Segundo ele, em áreas que recebem mais policiais para um trabalho de prevenção são verificadas quedas de até 40% no número de ocorrências. "Avaliamos a prevenção a cada operação que fazemos com base nos dados do sistema de geoprocessamento (mapeamento dos locais com mais ocorrências de crime). Quando incrementamos o policiamento em uma determinada região, a redução no número de ocorrências varia de 30% a 40%", diz.

Para o major, toda a comunidade deve contribuir para a segurança, e não apenas a polícia. "Curitiba e região têm cerca de 1,8 milhão de habitantes. Se cada um cuidar mais do que é seu, certamente os números de criminalidade diminuirão." Dabul tem dado palestras sobre o tema em escolas e conselhos comunitários de segurança.

O delegado Rubens Recalcatti, titular da Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba, tem opinião semelhante. Grande parte das ocorrências, diz ele, poderia ser evitada se houvesse mais atenção da população. "Em muitos casos, notamos que há um descuido por parte das pessoas, que não procuram se informar. Jornais e rádios sempre estão dando orientações. As pessoas precisam entender que a prevenção pode não ser tudo, mas é fundamental. Segundo ele, quem toma cuidado reduz em 90% as chances de ser assaltado. Um exemplo claro de descuido é deixar bolsa e outros objetos de valor no banco do passageiro do carro.

Mentalidade

Para Jorge Fernandes, da empresa de vigilância e segurança patrimonial PoliService, de Curitiba, ainda falta uma mentalidade de segurança no Brasil, o que leva muitas pessoas e empresas a achar que não vale a pena investir em prevenção. "Há resistência, muitos empresários acham que sistemas de segurança não vão impedir roubos". Muitos só mudam de opinião quando ocorre o dano.

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Na avaliação de Fernandes, a vinda de multinacionais tende a aumentar o grau de conscientização sobre segurança. "Essas empresas sabem que estão investindo num país em que os níveis de criminalidade são altos e que aqui as pessoas não respeitam muros baixos ou casas sem cerca", afirma. Ele cita um exemplo simples do que chama de mentalidade de segurança. "Nas empresas brasileiras, as portas abrem para dentro; já nas empresas alemãs, a portas abrem para fora. Ou seja, não tem como alguém arrombar a porta."

O especialista destaca que não é preciso desenvolver uma "neurose" em relação à segurança, mas avaliar bem cada situação – tanto na hora de investir em equipamentos (momento em que deve se procurar a orientação de um profissional) quanto ao andar na rua ou de carro, por exemplo. "O ladrão é oportunista, ele vive de oportunidade. E quem vai dar essa oportunidade somos nós."