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Principal entrave é falta de qualidade nas instituições privadas, diz pesquisador

Cássio Rolim: formação precária nas instituições superiores. | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Cássio Rolim: formação precária nas instituições superiores. (Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo)

O economista Cássio Rolim, professor da UFPR e coordenador do projeto “Apoio das Instituições de Ensino Superior ao Desenvolvimento Regional”, realizado em parceria com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), aponta vários problemas na interação entre universidades públicas e o setor privado. Mas ele ressalta que o principal problema é outro: a baixa qualidade dos cursos das instituições de ensino (IES) privadas. “Mais de 75% da força de trabalho brasileira é formada em IES privadas e recebem uma formação bastante precária em função de uma série de problemas”, afirma. Segundo ele, não há nenhuma política dirigida à melhoria da qualidade de ensino nessas IES. “Esse é o verdadeiro calcanhar de Aquiles do crescimento da produtividade no Brasil”, completa.

O projeto com apoio da OCDE foi realizado em duas fases, em 2006 e em 2011. Veja a seguir trechos da entrevista feita com o professor Rolim por e-mail.

Avaliação do projeto OCDE

“Tínhamos a esperança de conseguir transformações difíceis de serem executadas em um prazo médio buscando ampliar o diálogo entre as universidades e os seus usuários e criar um fórum permanente de discussão. De alguma forma esse fórum existe. No entanto muito disso deve-se muito mais às pessoas atualmente nesses postos e menos a um relacionamento institucionalizado. O projeto sempre foi pensado tendo em vista todo o sistema universitário paranaense, público, privado, federal e estadual. Apesar de todo o empenho, as IES privadas se recusaram a participar. A única a participar foi a PUCPR. No entanto, pior do que isso foi que após dois relatórios elaborados pelos maiores especialistas mundiais, tudo aquilo foi muito pouco discutido e menos ainda implementado.”

“Mais ainda, os novos dirigentes do ensino superior estadual retomaram a velha prática de considerar o sistema federal como um mundo à parte do estadual. Ou seja, cada sistema –federal, estadual, privado – considera-se um mundo à parte.”

Execução

“Em setembro de 2011 promovemos um grande seminário sobre a implementação dos relatórios. Também estiveram presentes três autoridades mundiais sobre o assunto. A ideia era colocar frente a frente os representantes dos empresários e os das universidades. As empresas diriam o que desejam das universidades e as universidades o que poderiam oferecer. Como as empresas não souberam dizer exatamente o que queriam, as universidades ficaram à vontade para também fazer um discurso geral do quão espetaculares elas eram.”

Empreendedorismo

“Há uma grande demanda por ‘pessoas empreendedoras e criativas’. Muitas vezes a resposta a essa demanda é o oferecimento de cursos de empreendedorismo. Ora, isso é coisa que não se aprende em cursos. Tal como no passado, quando os governos militares queriam nos tornar bons brasileiros com a disciplina Moral e Cívica, agora querem que todo mundo seja empreendedor com a disciplina de empreendedorismo. A obrigatoriedade poderá até criar ojeriza a isso.”

Evolução

“O que permaneceu dos relatórios OCDE? Na minha opinião ele serviu como um grande despertar para os problemas, tanto para algumas universidades como para os usuários, particularmente a FIEP e o Sebrae, e alguns órgãos de governo. No entanto, a implementação das propostas exige um esforço muito maior de ambas as partes, mais do que uma iniciativa desses parceiros ela teria de ser uma política pública de desenvolvimento. Essas coisas estão desarticuladas tanto no nível federal como no estadual. Por exemplo: o Ministério da Ciência e Tecnologia é o responsável pela política de inovação. No entanto essa política só inclui as universidades na perspectiva das pesquisas científicas quando a maioria da literatura mundial considera que a maior contribuição das universidades ao desenvolvimento e à inovação são as pessoas que ela forma. A maioria absoluta dos formandos irão desempenhar funções em empresas, fazendas, escritórios e governos. Serão essas pessoas as grandes usuárias de tecnologias e as grandes inovadoras. “

IES privadas

“Mais de 75% da força de trabalho brasileira é formada em IES privadas e recebem uma formação bastante precária em função de uma série de problemas. No entanto não há nenhuma política dirigida à melhoria da qualidade de ensino nessas IES. Esse é o verdadeiro calcanhar de Aquiles do crescimento da produtividade no Brasil. É preciso cobrar o seu bom funcionamento sabendo claramente o que se quer delas.”

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