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Investigação

Prisões são comemoradas com fogos

Parte dos pescadores e marisqueiras do Litoral do Paraná que depois de 13 anos de perdas e danos voltam a ter esperanças na Justiça | Jonathan Campos / Gazeta do Povo
Parte dos pescadores e marisqueiras do Litoral do Paraná que depois de 13 anos de perdas e danos voltam a ter esperanças na Justiça (Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo)
Afetados pelos acidentes da Petrobras ficaram oito meses sem poder trabalhar |

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Afetados pelos acidentes da Petrobras ficaram oito meses sem poder trabalhar

Pescadores do Litoral do Paraná receberam com risos e fogos de artifícios a notícia da prisão, na terça-feira, de oito acusados de desviar o dinheiro das indenizações de vítimas de acidentes causados pela Petrobras. Entre os presos estão um juiz e um dono de cartório que teriam montado um núcleo de fraudes na 1.ª Vara Cível de Paranaguá para lesar os pescadores e a Petrobras. As ações se referem a dois desastres ambientais que em 2001 deixaram seis mil pescadores, catadores de caranguejo e marisqueiros sem trabalhar durante oito meses.

Na terça-feira, o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Or­­ga­­nizado (Gaeco) cumpriu oito dos 16 mandados de prisão concedidos pela Justiça a pedido da 1.ª Promotoria de Justiça de Paranaguá. Foi uma festa no litoral. "Conseguimos dar um grito que estava preso na garganta há 13 anos. Nem quando era criança eu soltava foguete, mas quando vi a justiça sendo feita fui a uma loja e comprei uma caixa pra soltar com a minha comunidade, que está de alma lavada", disse Eduardo Polanski, um dos líderes dos pescadores da Ilha dos Valadares.

O drama de uma década dos pescadores começou a se tornar pública em abril, quando a Gazeta do Povo passou a publicar uma série de reportagens revelando o caso de 18 pescadores que tiveram o dinheiro de suas indenizações sacado do banco pelo escritório da advogada Cristiane Uliana, sem o conhecimento dos clientes. O fato desencadeou a investigação do Ministério Público do Paraná que resultou nas prisões e, até o momento, identificou 181 pescadores que tiveram suas indenizações desviadas.

Ilhas da alegria

Na sexta-feira, a reportagem percorreu as ilhas de Superagui, Medeiros, Almeida, Amparo, São Mi­­guel e Prainha Ponta de Ubá. "Estamos respirando um ar de justiça, estamos mais leves e agora conseguimos acreditar que em breve vamos receber o que nos é de direito. Nesse tempo de incerteza, não tiraram de nós somente o dinheiro, mas roubaram parte da nossa dignidade que agora foi recuperada", disse Maria Inês Miranda da Graça, da ilha de Superagui. Na comunidade de São Miguel, a alegria era tanta que os pescadores se reuniram em frente do trapiche e riam de si próprios contando piadas de pescador, contagiados pelo senso de humor do pescador Jaime do Rosário, o Jamico. No bairro de maior concentração de pescadores de Paranaguá, o Beira Rio, o pescador Romildo Alves disse que agora os pescadores esperam receber o dinheiro do "peixe morto". "Esse dinheiro vai mudar a vida de muita gente, que vai poder reformar o barco, reformar a casa e comprar um presente bom para os filhos", disse.

Para a Associação Caiçara de Desenvolvimento do Li­­toral, as comunidades tradicionais de pescadores artesanais podem finalmente comemorar a conquista depois de aguardar por mais de uma década os valores indenizatórios a que tinham direito. A associação acredita que, se perguntado a qualquer pescador do litoral se ele preferia receber indenizações ou ter o mar restaurado, em 100% dos casos se teria a escolha de um meio ambiente sadio, equilibrado e com vida abundante.

Paranaguá tem mudanças nas duas varas cíveis

As duas varas cíveis de Pa­­­ra­­­naguá, responsáveis pelas ações de indenização dos pescadores, passam por mudanças após as suspeitas de fraude.

O escrivão da 1.ª Cara Cí­vel, Ciro Antônio Taques, está preso acusado de ser o mentor intelectual do grupo que teria se formado em Paranaguá para lesar os pescadores e proibido por uma liminar da Justiça de entrar no cartório.

Já a 2.ª Vara Cível, local em que alguns processos dos pescadores eram retiradas em carga e não eram devolvidos há mais de três anos, conforme apuração feita pela reportagem, foi estatizado e está fechado há um mês.

Sem acesso

Dessa forma, os pescadores encontram dificuldades para ter acesso a informações dos processos. O fato de a advogada Cristiane Uliana ser investigada pelo Ministério Público traz mais incertezas aos pescadores.

A juíza Mércia do Nasci­­­mento Franchi informa que nos próximos dias o cartório da 2.ª Vara deve reabrir com todos os processos organizados por fases, o que vai facilitar as buscas.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná, Juliano Breda, acrescenta que os pescadores que tiverem dúvidas sobre a atuação de seus advogados podem procurar a instituição.

"Eles terão total apoio e atendimento da OAB para que eles tenham seus direitos inteiramente resguardados."

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