Apesar da queda no número de contaminação e óbitos por leptospirose, a proliferação de ratos em Curitiba segue sendo um problema. Os roedores são os principais transmissores da doença, cujo contágio ocorre pelo contato com a água contaminada com a bactéria leptospira, expelida pela urina do animal.
De janeiro a novembro, o telefone 156 da prefeitura registrou 13.268 pedidos de desratização de residências média de 40 solicitações por dia. Dois bairros lideram a lista: a CIC, com 2.502 pedidos, e o Boqueirão, com 2.284.
A bióloga Simone do Rocio Ferreira, chefe do Serviço de Controle de Roedores da prefeitura, explica que dois fatores estimulam a procriação nesses bairros. Como algumas regiões tanto da CIC como do Boqueirão são de ocupações irregulares, boa parte da população é de catadores de papel. "Muitas vezes, junto com o material coletado, há resíduos de alimentos, e isso atrai os ratos", explica. No Boqueirão, outro agravante: a existência de cavas. "Os ratos se fixam onde há água pela questão de sobrevivência", aponta Simone.
O aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é a existência de quatro ratos por habitante. O serviço municipal não tem estatística sobre a população de ratos em Curitiba. Os roedores encontram tanto nas ruas quanto nas residências da cidade o ambiente propício para crescer. Aliadas à velocidade da procriação das duas principais espécies de ratos urbanos a ratazana (Rattus norvegicus) e o camundongo (Mus muscullus) , tais condições tornam-se um fator de risco.
A gestação da fêmea do camundongo é de 19 dias e ela gera em média oito filhotes. Com aproximadamente 45 dias de vida, o camundongo está adulto e pode procriar. Já a ratazana tem gestação de 22 dias e tem 12 filhotes em média. Entre 60 e 90 dias, a espécie é sexualmente ativa. Estima-se que um único casal gere 10 mil descendentes em um ano.
O professor de Sistemática Animal do curso de Biologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o naturalisa Estefano Jablonski, que há 33 anos tem os roedores como foco de estudo, diz que medidas simples podem evitar a proliferação. A primeira é não criar ambientes onde os ratos sobrevivam. "As pessoas devem evitar ao máximo o acúmulo de entulho, pois é onde vivem os ratos."
Jablonski também recomenda cuidados com alimentos, já que os roedores têm olfato aguçado a ratazana sente odores num raio de 50 metros e os camundongos num raio de seis metros. Qualquer tipo de comida deve ser protegida, evitando o acesso dos roedores. "O ideal é guardar em ambientes fechados, como latas." O lixo também merece atenção: os roedores sentem o cheiro dos restos de alimento mesmo quando ensacados. "Em vez das lixeiras tradicionais, as pessoas deveriam acondicionar o lixo em tambores com tampas."
Outra preocupação é com óleo de fritura. A prefeitura orienta as donas de casa, proprietários de bares, restaurantes e pipoqueiros a não jogar o óleo usado nos bueiros. "Agindo assim as pessoas alimentam os ratos", aponta Simone.