Antonina está longe de ser a única delegacia com problemas no litoral. Em Pontal do Paraná, a carceragem chegou a ser fechada por decisão judicial. Atualmente ela passa por reformas e quem é preso no município é levado para Matinhos. À época da vistoria da OAB, a situação era caótica. A delegacia não tinha rede de esgoto, apenas fossas. Devido ao grande número de presos (44 num ambiente em que caberiam 18) e às chuvas, as fossas entupiram. "Era um mau-cheiro terrível. Presos e policiais tinham ânsia de vômito e tontura. Ratos e baratas eram coisas comuns de se ver."
Sem ventilação suficiente, a temperatura no local beirava os 40°C em dias de calor. A comida resumia-se a arroz e polenta no almoço. Café da manhã não era servido e para o jantar havia uma sopa rala, de acordo com relatório da OAB.
As reformas da carceragem de Pontal complicaram ainda mais a situação na delegacia de Matinhos. "Temos de negociar diariamente com os presos. Eu recebi os presos de Pontal. Por outro lado, subir com algum detido para Curitiba é muito difícil", diz o delegado José Tadeu Bello.
Na delegacia, há detidos há mais de um ano, ainda esperando julgamento. Segundo Bello, são comuns histórias das famílias de presos que fazem um pagamento adiantado para um advogado que visita o detento uma vez e depois o abandona. "Eu tenho vários casos aqui assim. Os advogados pegam o dinheiro e somem, deixam de prestar qualquer tipo de assistência jurídica."
Em Guaratuba, a situação é parecida. O delegado Messias da Rosa afirma que usa de sua experiência para manter a cadeia sob controle. "Está cheio. Os presos reclamam. Mas eu não sou delegado de gabinete. Entro no xadrez todo dia e argumento com eles. Tentamos deixar a situação boa. A comida é boa. A gente colabora para eles colaborarem."
Apesar do "acordo branco", Messias já enfrentou duas tentativas de rebelião desde que assumiu a delegacia, há dois meses. Em março, 27 presos fugiram. Atualmente, são 71 detentos que ocupam um espaço destinado para 24. As reclamações são praticamente as mesmas em todas as cidades. Os presos reclamam de advogados omissos e ausentes. Da superlotação e do mau-cheiro. Queixam-se da morosidade da Justiça e da falta de alimentação e remédios. Os policiais, por sua vez, pedem a aceleração na transferência dos presos, o aumento no contigente e a melhora na estrutura para atendimento dos detentos.
Procurada pela reportagem da Gazeta do Povo, a assessoria da Secretaria de Segurança Pública limitou-se a dizer que já foi definido um local para a construção do cadeião de Paranaguá, que receberia os presos que hoje aguardam decisão judicial nas delegacias do litoral. A área em que será construída a prisão tem 4 mil metros quadrados e fica próxima à rodovia Alexandra-Matinhos.