Entre os meses de julho e setembro, o medo de ser infectada pelo vírus da gripe A (H1N1) levou a população a uma mudança de hábitos, principalmente em relação à higiene. O fim do inverno e a diminuição no número de casos confirmados da chamada gripe suína, entretanto, tem levado as pessoas a se descuidar da prevenção. As vendas do álcool gel são um bom termômetro dessa mudança de comportamento.
Em Curitiba, as vendas do produto, que tem ação antisséptica e é utilizado para higienizar mãos e evitar a transmissão do vírus, tiveram um aumento de até 1.000% no mercado e fizeram os preços dispararem até 900% entre junho e agosto deste ano. Mas de lá para cá o consumo apenas caiu e, em dezembro, embora os preços ainda sejam mais altos que os praticados no início do ano, chegam a registrar queda de até 60% em relação ao auge da gripe suína.
Em agosto, a rede de farmácias Nissei, por falta do produto industrializado, vendia o álcool gel manipulado, sob encomenda, por R$ 50 o litro. Em dezembro, o mesmo produto sai por R$ 20. A assessoria de imprensa da empresa explica que o aumento no preço está diretamente ligado à quantidade de vendas, já que, diferente da indústria, por não conseguir produzir em grande escala, a farmácia precisa se utilizar da mudança nos valores para "controlar a demanda".
Mas os preços dos produtos industrializados também tiveram oscilação no mesmo período. Em três supermercados consultados pela Gazeta do Povo, é possível encontrar um litro do álcool gel da marca curitibana Vedis, com hidratante, aroma aloe vera e válvula dosadora, por cerca de R$ 18. No mês de agosto, segundo pesquisa da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa ao Consumidor (Procon), o mesmo produto no mercado curitibano era vendido, em média, por R$ 25,23, sendo que o item chegou a ser encontrado por até R$ 28 o menor preço era R$ 19,90.
O diretor comercial da Vedis,Fábio Francisco Baptista de Queiroz, afirma, entretanto, que a fábrica não chegou a alterar o preço do produto para os revendedores desde junho. "O que houve foi um crescimento muito grande na procura, que fez com que tivéssemos que recusar diversos pedidos", conta. "Por falta do produto no mercado, as próprias revendedoras controlaram os preços", diz. Segundo Queiroz, a quantidade de pedidos de álcool gel na Vedis chegou a ter aumento de 1.000% durante o mês de agosto. "Para se ter uma ideia, criamos um turno extra e tivemos de importar matéria-prima, porque o mercado nacional não deu conta", relata. "Agora, a quantidade de vendas é 10% do que registramos em agosto".
A gerente de marketing da rede de supermercados Condor, Elaine Munhoz, explica que até junho a empresa comprava o álcool gel com descontos de 14% de alguns fabricantes, que eram oferecidos para impulsionar as vendas. "Em julho, os fornecedores suspenderam o desconto e o preço consequentemente subiu. Para o consumidor houve alta, mas não se tratou de um aumento real no produto, foi apenas o repasse da suspensão do desconto", justifica.
Segundo ela, as vendas de álcool gel no Condor aumentaram 80% entre junho, antes do surto da gripe, e julho. E triplicaram na relação entre agosto e julho. Ela lembra que as lojas da rede chegaram a registrar falta do produto. "Mas a partir de setembro, o consumo começou a cair e voltar aos patamares anteriores", afirma. A tendência também foi observada nas farmácias Nissei, que registraram uma redução de 70% na venda de álcool gel no mês de outubro em relação ao mês de setembro. Em novembro, houve nova queda, de 27%, em relação a outubro.