Se fosse preciso traçar o perfil do cidadão paranaense, as chances de chegar a um consenso seriam quase zero: enquanto 42% dos curitibanos acompanham o campeonato paranaense de futebol, a ponto de parte da torcida quebrar um estádio inteiro se o time cair para a segunda divisão, os que vivem no interior do estado não estão nem aí para a bola que rola no campeonato daqui apenas 22% se interessam pela competição. Também é difícil chegar a uma conclusão sobre o prato típico do Paraná: o churrasco, que é popularmente gaúcho, é o mais votado tanto pela população da capital como pela do interior. Mas em segundo lugar, o prato eleito costuma variar conforme a tradição das regiões : 17% da população do interior fica com o porco no rolete, enquanto os curitibanos e os moradores do litoral elegeram o barreado.Não há consenso, ainda, sobre o humor do paranaense: na capital, região metropolitana e litoral, apenas metade da população diz ser extrovertida; no interior o índice chega a 75%. Os dados são resultado de uma pesquisa encomendada pela Gazeta do Povo ao Instituto Paraná Pesquisas.A explicação para opiniões tão diversas está no modo como o Paraná foi colonizado. A historiadora Roseli Boschilia, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), dividiria o estado em pelo menos três territórios distintos que vivem quase que de maneira autônoma, o que quer dizer que todos são paranaenses, mas cultivam um estilo de vida bem diferente. A primeira ocupação é a do Paraná tradicional (Curitiba e litoral): são paulistanos que desceram a região de São Vicente (SP) e passaram a ocupar o primeiro planalto. "Eles trouxeram e cultivaram um tipo de vida por aqui. Depois vem o pessoal do Sul (Rio Grande do Sul) com o caminho das tropas. Eles têm um modo de falar, de se vestir e de se alimentar totalmente diferente dos outros e se estabeleceram na região da Lapa e Campos Gerais", explica Roseli. Uma terceira ocupação acontece por volta dos anos 40 e 50, no Oeste: são os gaúchos que migram por conta da estrutura fundiária. Há ainda uma quarta ocupação que os historiadores chamam de Norte Pioneiro novo: foi a região "tomada" por fazendeiros de São Paulo. "Até os anos 60, o Paraná não tinha todo o território ocupado. Por isso é difícil criar uma identidade cultural entre um parnanguara e um cidadão que nasceu em Marechal Cândido Rondon. Isso demanda tempo, e nós temos um longo caminho a percorrer", diz Roseli. GastronomiaNo interior do Paraná, por exemplo, a historiadora lembra que o barreado já foi imaginado como um prato feito à base de peixe, por ser típico do litoral. "Eles não conhecem mesmo. O processo de identificação está vinculado com as raízes e, no Paraná, são muitos paulistas e gaúchos", diz.
O porco no rolete é um dos pratos mais lembrados na região de Toledo porque foi criado na década de 70 nesta cidade. A festa que homenageia a iguaria , em um único dia, serve 350 porcos inteiros e assados. A fama do porco paranaense já chegou a ganhar destaque na Marquês de Sapucaí, quando a Escola Unidos da Ponte homenageou o Paraná em um dos desfiles de samba do Rio de Janeiro a escola apresentou o prato toledano em uma das alas.
Já em Curitiba, o Disk Costelas de Ricardo Bortolan é um exemplo de como o churrasco é um prato que concorre fortemente com a tradição do barreado. O costelão funciona a todo vapor a partir de quinta-feira à noite até domingo, vendendo no balcão carnes sob encomenda. "Eu não abro mão do churrasco. É estranho dizer: vamos lá em casa fazer uma festa e comer barreado", explica o produtor de vídeos Marcos Ferreira, cliente do Disk Costelas. Ferreira é paranaense e acredita que o barreado deveria ser o prato típico por causa do regionalismo. Ele não nega, porém, que o churrasco é a preferência geral.