Uma procuradora de Justiça aposentada é acusada de agredir a filha adotiva de dois anos, no Rio. No último dia 15, logo após receber a denúncia, o Conselho Tutelar retirou a menina do apartamento onde morava com a mãe, em Ipanema, na Zona Sul. A polícia abriu um inquérito para investigar o caso e começou a ouvir as testemunhas nesta segunda (26).
Segundo o conselheiro, a criança estava no chão do terraço onde fica o cachorro da procuradora aposentada Vera Lúcia Gomes. De lá, a menina foi levada para um hospital. Com os olhos inchados, ela precisou passar três dias internada.
Na delegacia, o Conselho Tutelar registrou uma queixa de maus-tratos e apontou a procuradora como a única responsável pela violência. Uma gravação que teria sido feita dentro do apartamento da suspeita mostra um dos momentos de agressão. A voz seria da doutora. O choro seria da menina adotada por ela há pouco mais de um mês.
Uma empregada que trabalhou para a promotora, que não quis se identificar, afirmou que a doutora agredia a menina. "A doutora Vera acordava com a garota. Dava bom dia e ela não respondia, era motivo pra bater nela. Aí batia muito. Batia no rosto, na cara e puxava o cabelo".
Agressões
Abandonada pela mãe num abrigo, a menina de dois anos foi levada em março para o amplo apartamento de luxo da promotora, em Ipanema, onde ela teria sofrido agressões e humilhações. Segundo a empregada, a doutora batia na criança na frente dos outros funcionários da casa.
"Ela (promotora) levantou a garota pelo cabelo e dava mais, levou até o quarto dando tapa", afirmou uma babá que também trabalhava para a promotora.
Por causa da violência que dizem ter presenciado, as funcionárias abandonaram o emprego. Agora elas são as principais testemunhas do caso. A empregada contou que a menina não pedia ajuda: "Não pedia. Só chorava. Não tinha como pedir, porque ela não podia chegar perto da gente", completou a doméstica, que completou dizendo que não chamou a polícia por medo: "Ela sendo uma pessoa poderosa, a gente tinha medo mesmo".
"Dane-se", diz promotora
Por telefone, a promotora desqualificou a denúncia: "Meu senhor (riso) eu... sem resposta". Ao ser questionada sobre a denúncia, a doutora respondeu: "Meu senhor, dane-se! Azar, azar. Que tenha vinte."
O chefe da procuradora aposentada, Cláudio Lopes, também determinou a apuração da denúncia. "Em tese, você pode ter a caracterização de delito de maus tratos, pode ter uma simples lesão corporal, ou, dependendo das provas, pode até se caracterizar um delito de tortura", disse.
A juíza titular da Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro, Ivone Caetano, garante que a procuradora perdeu o direito de tentar novas adoções. "Ela já mostrou o perfil dela. Por que nós vamos colocar outra criança a mercê de uma criatura dessa natureza?".
A nova vida da garota fora do abrigo durou muito pouco. Depois de passar quase um mês na companhia da procuradora aposentada, ela foi levada de volta para a instituição pelo Conselho Tutelar.
"É feito um trabalho psicológico antes de se colocá-la para nova adoção, para que ela perca todo o trauma recebido por tal tratamento", completou a juíza.
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