A procuradora de Justiça aposentada Vera Lúcia de SantAnna Gomes, acusada de maus-tratos a uma menina de 2 anos, foi indiciada nesta quinta-feira (29) pelos crimes de tortura qualificada e racismo. A informação é da delegada Monique Vidal, titular da 13ª DP (Copacabana), onde a procuradora prestou depoimento por quase três horas.
As penas para os crimes são de dois a oito anos e de um a três anos de prisão. Segundo a polícia, a procuradora nega as acusações.
De acordo com a delegada, o laudo complementar que ela pediu ao IML mostra que a criança sofreu multiplicidade de lesões, em dias diferentes, e por meio cruel.
Já o crime de racismo, segundo a delegada, foi configurado pela forma como a procuradora se referia aos seus empregados.
Ela chegou à delegacia por volta das 14h45, acompanhada de seu advogado, Jair Leite, sem falar com a imprensa. Ao deixar o local, por volta das 17h30, a procuradora foi agredida por cerca de 30 pessoas que faziam um protesto na porta da delegacia. Em meio ao tumulto, ela foi xingada e chegou a ser agredida com um guarda-chuva nas costas.
Denúncia foi feita por empregadas
A denúncia foi feita por empregadas da casa. Vera Lúcia pode responder por tortura qualificada. A polícia vai pedir ao Instituto Médico Legal um laudo complementar para saber se a menina sofreu todas as lesões no mesmo dia ou se era vítima de agressões constantes. Três testemunhas já foram ouvidas no inquérito.
"O importante é a gente colher mais provas possíveis na tentativa de a gente provar a existência do crime e indiciar essa pessoa", disse o diretor de polícia da capital, Ronaldo Oliveira. "Sei que o temperamento dela é forte, mas não chega as raias da agressividade. Ela nega a agressão", rebateu o advogado de Vera, Jair Leite.
Danos morais
O Ministério Público do Rio (MP-RJ), por meio das promotorias de Infância e Juventude da capital, propôs na quarta-feira (28) uma ação contra a procuradora, que sustenta que a acusada infringiu um artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente, que estabelece a pena de multa para o descumprimento dos deveres inerentes ao poder familiar ou decorrentes de tutela ou guarda.
Nos próximos dias, de acordo com o MP, as promotorias de Infância e Juventude da Capital pretendem entrar, também, com ação de indenização por danos morais contra a procuradora aposentada, considerando as humilhações e ofensas que a criança foi submetida enquanto estava sob a sua guarda provisória.
Conselho tutelar
Na delegacia, no último dia 15, o Conselho Tutelar registrou queixa de maus-tratos e apontou a procuradora como a única responsável pela violência. Uma gravação que teria sido feita dentro do apartamento da suspeita mostra um dos momentos de agressão. A voz seria da procuradora e o choro seria da menina adotada por ela há pouco mais de um mês.
Segundo o Conselho, a criança foi encontrada no chão do terraço onde fica o cachorro da procuradora. De lá, a menina foi levada para um hospital. Com os olhos inchados, ela precisou passar três dias internada. As marcas seriam, aparentemente, consequência de pancadas na cabeça, mas o laudo do IML apontou lesão corporal leve.
Depois de passar quase um mês na companhia da procuradora aposentada, a menina foi levada de volta para um abrigo pelo Conselho Tutelar.
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