Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Índice cultural

Produção popular é discriminada

Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil | Reprodução
Detalhe da garrafa de whisky que foi vendida pelo equivalente a R$ 110 mil (Foto: Reprodução)

Os dados do IBGE mostram que a ajuda dos municípios à manutenção de grupos artísticos ainda é mais presente nas manifestações consideradas eruditas, como dança, teatro e orquestras. Para os grupos de tradição popular, essa ajuda cai para menos da metade. O estudo aponta que apenas duas cidades do Paraná têm como objetivo definido nas políticas públicas garantir a sobrevivência de tradições locais. O coral de afro-descendentes Sorriso Negro de Tibagi, nos Campos Gerais, tem autoridade para falar sobre falta de incentivo.

O grupo existe desde 2002 e é formado por 28 coristas, netos de escravos que viveram na região. A única ajuda que teve da prefeitura foi o transporte em três apresentações. A maestrina Jucélia Cristina Ribeiro e os demais participantes são voluntários. O grupo resgata canções tradicionais negras, produz as próprias roupas e não possui sede própria para as reuniões. "Já ensaiamos no salão paroquial da igreja e agora estamos em uma associação. Onde dá, a gente fica", conta Jucélia.

Danças, músicas e versos que compõem a apresentação são elementos trazidos pelos próprios integrantes. A confeiteira Perpétua Aparecida Batista Ferreira de Oliveira, 39 anos, interpreta, canta e recita versos como se toda apresentação fosse de gala. "Cresci com a minha avó cantando essas músicas para mim. Ela cantava pra tudo. Para pegar água no poço, ela cantava", lembra. Perpétua, o marido Antônio Carlos de Oliveira, 42 anos, e o tio, Leandro Mateus Martins Batista, 49 anos, o seu Nonô, falam que sentem muito orgulho em mostrar suas tradições. "Tem muita gente que tem vergonha da própria cultura. Eu não. É aqui no coral que eu quero ficar", diz Perpétua.

O grupo ajuda a manter as tradições locais e se preocupa com a transmissão para as novas gerações. "Pretendemos montar um grupo infantil e infanto-juvenil, porque os jovens já freqüentam nossos ensaios", conta. Seu Nonô diz que o caçula dos cinco filhos já tenta aprender os versos que ele recita. Segundo a maestrina, o projeto também prevê o retorno financeiro para os coristas que desenvolvem artesanatos para o grupo, além de apresentações em escolas para a formação de público. Mesmo sem subsídio governamental, o grupo faz apresentações em troca de transporte e alimentação para os coristas. "Meu sonho é conseguir apoio para esse projeto", diz Jucélia.

Os dados do IBGE mostram que dos 163 municípios do Paraná que possuem grupos de manifestação popular, apenas nove são mantidos pelo poder público municipal. Como a grande maioria das cidades paranaenses, Tibagi não possui uma secretaria exclusiva de cultura, mas, segundo o assessor administrativo do departamento de cultura e maestro Marco Aurélio Nadal, a cidade investe pesado na área. "A prefeitura mantém um conservatório municipal, com aulas gratuitas inclusive para pessoas da área rural da cidade, além de um grupo vocal e um coral municipal. Estamos formando uma orquestra de câmara e logo lançaremos um projeto de coral nas escolas municipais", conta Nadal. (GI)

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.