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Uma análise nos resultados dos últimos três vestibulares da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – período de vigência do sistema de cotas na instituição – pode ter dois efeitos: um balde de água fria sobre os afrodescendentes interessados em ingressar na universidade pública e nos simpatizantes da causa, e um combustível aos opositores do sistema.

No último vestibular, por exemplo, sobraram quase 500 vagas destinadas a afrodescendentes na UFPR: foram aprovados 320 vestibulandos com essas características, enquanto os postos disponíveis eram 822. Os calouros negros e pardos representaram assim 7,23% do total de aprovados, proporção que vem caindo desde o processo seletivo de 2005, quando foram inauguradas as políticas afirmativas. Naquele ano, os aprovados em cotas raciais foram 13,7% do total, e no concurso do ano passado, 8,2%. Lembrando que 20% das vagas são reservadas aos afrodescendentes na segunda fase (e outros 20% para alunos oriundos de escolas públicas, que preencheram todas as vagas disponíveis nos três anos).

Entretanto, para o professor Pablo Gentili, coordenador do laboratório de políticas públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a primeira do país a implementar o sistema de cotas, em 2002, é errada a percepção de que as cotas raciais teriam fracassado. "Estaríamos desperdiçando uma oportunidade importante e uma iniciativa promissora de democratização do acesso ao ensino superior, e desvalorizando uma decisão corajosa da UFPR, que foi uma das primeiras federais a adotar o sistema", considera.

Para Gentili, ninguém pode descartar uma política pública assim, em tão pouco tempo e com dados tão precários. "Precisamos ter muito cuidado com essas conclusões, e analisar as informações num sentido bem mais amplo", observa. "Por enquanto, não há no Brasil um acúmulo de dados ou estatísticas que permitam definir um quadro completo do sistema de cotas. Só neste ano vai se formar a primeira turma de alunos cotistas do país, aqui na Uerj."

Resultados

Gentili manifestou ainda a preocupação de que esses resultados acabem levando as instituições a abandonar ou desfigurar a iniciativa. "Na política econômica todo mundo concorda que uma solução pode levar décadas até começar a dar frutos; mas quando o assunto é educação, onde naturalmente os processos são muito mais lentos, as pessoas querem ver os resultados na hora", compara. De acordo com o professor, os países que tiveram bons resultados nas suas práticas educacionais se envolveram em processos muito mais duradouros, sem mudar as políticas a cada dois ou três anos. "É preciso acabar com essa vocação reformista na educação brasileira, de reinventar a roda toda hora".

Ele lembra ainda que na Uerj o índice de reprovação por faltas é muito menor entre os alunos cotistas. "Isso indica um grau de esforço e dedicação muito grande, que esses alunos quando conseguem entrar na universidade demonstram a capacidade de superar barreiras que pareciam intransponíveis", avalia.

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