O sistema de distribuição de aulas na rede estadual de ensino, que registrou vários problemas desde quarta-feira (1º), fez que com professores ficassem em filas de até 20 horas de espera. Há também muitos relatos de professores concursados que não conseguiram aulas e outros que precisaram montar a grade horária se “dividindo” em vários locais para conseguir completar a carga de trabalho.
É o caso Rudimar Gomes Bertotti. Professor de História, ele trabalha na rede estadual desde 2009 e passou no concurso em 2012. Até o ano passado, participava de um convênio com a prefeitura de Curitiba, que foi rompido. Ao voltar para a rede de ensino, descobriu que teria de fazer “mágica” para conseguir cumprir o padrão de 20 horas: precisará dar aulas em cinco colégios, de bairros diferentes – Taboão, Barreirinha, Jardim Social, Santa Felicidade e Cachoeira.
Na última sexta-feira (3), ele foi ao Colégio Estadual de Educação Profissional do Paraná (CEEP), no Boqueirão, que concentrou a distribuição de aulas em Curitiba para as disciplinas de História, Geografia, Filosofia e Sociologia. Chegou às 8 horas da manhã e só conseguiu ser atendido quase 20 horas depois, às 3h30 da madrugada de sábado (4). Quando chegou a sua vez, descobriu que não havia nenhuma escola na região Norte de Curitiba, onde mora, com a quantidade suficiente de aulas para fechar a carga de trabalho em apenas um lugar.
Para completar a grade, pegou aulas “picadas” em cinco locais e não sabe como fará para se desdobrar, principalmente se tiver compromissos em horários próximos, em colégios diferentes. Pela manhã, ele dá aulas no sistema municipal e nas tardes de quarta-feira vai ao doutorado. Montar o horário de trabalho será um pesadelo para diretores – que precisarão combinar uma série de fatores, para que os professores consigam chegar a tempo de dar aula. “Essa situação é incomum, desumana e praticamente impossível”, comenta Rudimar. Além do desgaste físico e de todas as complicações logísticas, ele também destaca que acabará gastando bem mais tempo e combustível para ir trabalhar.
Entenda o caso
A distribuição de aulas para os professores da rede estadual de ensino começou no dia 1.º de fevereiro e vai até o dia 10, mas é escalonado de acordo com a situação funcional dos docentes. De acordo com a Secretaria de Estado da Educação (Seed), parte do sistema era preenchido manualmente até o ano passado. A Celepar, órgão governamental, desenvolveu um sistema para automatizar todo o processo. A Seed reconhece que ocorreram alguns problemas na operação do programa e também instabilidades de conexão, devido à sobrecarga do acesso. A pasta disse também que “foram os próprios participantes da distribuição de aulas que optaram por seguir até tarde na sexta-feira” e que a demora ocorreu também devido “ao tempo que cada profissional levou para escolher suas aulas”.
Outro ponto conturbou a distribuição: a iniciativa do governo estadual de reduzir a hora-atividade fez com que os professores tivessem de se encaixar em mais tempo em sala de aula. Assim, um docente 20 horas, que antes dava 13 aulas, agora precisa ministrar 15 (ou 16, dependendo da disciplina) aulas em sala.
De acordo com o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão, a entidade vinha alertando o governo estadual há vários dias que a distribuição de aulas daria problema. Ele conta que a categoria está buscando na Justiça, e também em negociações com o governo, para suspender os efeitos da resolução 113, que reduziu a hora-atividade. Além disso, o sindicato reclama da estrutura oferecida. “O programa virtual é precário, com dificuldade de conexão. O sistema cai e precisa ficar reiniciando”, diz Leão. Uma assembleia está marcada para o dia 11, em Maringá, para que a categoria debata ações que serão tomadas.