Jimena Aranda era professora de Direito da PUCPR| Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

Acidente deixou 16 mortos e 33 feridos

Subiu para 16 o número de mortos do acidente com o ônibus que ia de Curitiba ao Rio de Janeiro e tombou na rodovia Régis Bittencourt (BR-116), na altura de São Lourenço da Serra, quilômetro 301, na madrugada deste domingo (22). O acidente deixou, ainda 33, feridos

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Ao menos 11 vítimas moravam em Curitiba e região

Ao menos 11 vítimas do acidente moravam em Curitiba e região. A lista com os nomes das vítimas do acidente foi divulgada pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP).

Veja a lista

É provável que a primeira grande matéria na imprensa paranaense sobre Jimena Aranda tenha sido publicada em maio de 2005. De lá em diante, nos mais diversos assuntos – mas principalmente em questões de direitos humanos – os jornalistas não deixaram de recorrer à mulher que se tornou uma das mais destacadas pesquisadoras da PUCPR e uma ativista respeitada.

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Em 2005, vale dizer, Jimena não chamou atenção por algum estudo em especial, mas por sua coragem e testemunho. Santista de nascimento, uma garota bonita da praia do Gonzaga, ela acabara "desobedecendo" os professores da faculdade de Direito e mergulhado no Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, fazendo dele seu observatório para o mundo. Fez mais do que isso. Mudou-se da ensolarada Santos para a fria Curitiba e assumiu uma casa de apoio para adolescentes, mantida pelo governo do estado, no bairro do Hugo Lange.

Do dia de sua posse em diante, o "sistema" nunca mais foi o mesmo. Dizia-se que todos os adolescentes que passavam pela triagem, na antiga Delegacia de Menores, pediam para morar na "casa da Jimena", na qual cabiam 25 meninos. Esse era o motivo da reportagem, publicada na editoria Paraná da Gazeta do Povo, com o título "Contra todas as previsões". O texto contava que o projeto das pequenas repúblicas fora extinto, mas que Jimena, e sua mãe, Neide Aranda – que lhe dava uma mão no serviço – praticamente adotaram um dos garotos mais impossíveis da casa, o hoje artista plástico Denílson Paião.

Para acolhê-lo, mãe e filha enfrentaram o condomínio, no Juvevê, e todos os que diziam de que aquela era uma causa perdida. O efeito sobre a sociedade da ação da Jimena e Neide foi imediata: embora o movimento dos meninos e meninos de rua tenha surgido na década de 1980, ainda prevalecia, nos anos 2000, a tese de que a drogadição e a vida nas ruas representavam um caminho sem volta. A dupla provou que não.

O fato é que todo mundo – dos jornalistas aos ativistas, passando aos alunos de Jimena na PUCPR, começaram a prestar mais atenção naquela moça esguia, de sorriso largo e orgulho das raízes andinas. Volta e meia, ficava-se sabendo de alguma ação inesperada da advogada. Uma das mais famosas foi a de ter conseguido tirar da Penitenciária do Ahú um detento artista, a quem ela muito admirava. Ao ver as telas que o homem pintava, confidenciou que aquele não podia ser um assassino. Num período de férias, reabriu os arquivos e encontrou o erro jurídico. O detento – que em outras ocasiões pediu para não ser identificado – tinha cumprido pena de 15 anos, por engano.

Colaborativa, Jimena também tinha por hábito revelar a grandeza dos seus alunos. Foi assim com ninguém menos do que o coronel da PM Roberson Bondaruck. Também em meados dos anos 2000, ela orientou um projeto de conclusão de curso daquele se viria a se tornar um dos maiores nomes da Polícia Militar do Paraná, autor de três livros sobre segurança pública que alcançariam lastro nacional. Pois foi Jimena quem o revelou. Procurou interlocutores, falou da importância do trabalho de Roberson para a causa da infância, sempre com aqueles detalhes que nunca deixava escapar. "Ele chegou a sentar no meio-fio, à paisana, para conversar com os meninos em situação de rua", confidenciou, para atestar a originalidade da pesquisa. Hoje, o coronel dispensa apresentações.

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No dia a dia, Jimena era a mais comum das mestras. Não chama atenção em meio à ruidosa turma do Direito. Chegava à sala dos professores na PUC sempre com uma garrafinha de água nas mãos. Mais ouvia do que falava. Sabia rir dos gracejos dos colegas e sempre demonstrava estar atenta aos que os outros faziam de bom. Quando saía da sala de aula, cercada de estudantes, no entanto, tinha feito dos seus alunos seres falantes, angariados para os direitos humanos, em especial para as causas da infância e da adolescência. Não escondiam o quanto a admiravam. Sabe-se que muitos desejaram ser como ela, ainda que Jimena, às vezes, parecesse um sonho.