Crime no pátio de escola em Tamandaré: violência antecipa fim de ano letivo| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

Tranqüilidade facilitou crime

De acordo com a coordenadora estadual operacional da Patrulha Escolar, Margareth Maria Lemes, a escola fica em uma região afastada e tranqüila, onde a comunidade não espera por esse tipo de coisa. "Provavelmente é por isso que a servente abriu o portão para o motoqueiro entrar. Talvez se isso ocorresse em uma região considerada mais perigosa, os funcionários teriam mais medo e a história seria outra", diz.

A patrulha escolar não mantém um programa permanente de segurança na Antônio Prado porque ela oferece ensino até a quarta série e ele é destinado às escolas que atendam a partir da quinta série. "Isso não significa que o local não receba a patrulha quando necessário – inclusive acabou em novembro o programa de palestras de segurança e prevenção a drogas na escola", explica o major Antônio Carlos de Camargo. Segundo ele, a escola nunca registrou nenhuma ocorrência.

Para Margareth, o crime foi um caso isolado. "Poderia ter acontecido lá, em um mercado ou outro local público. Mesmo que tivesse guarda municipal na porta da escola, por exemplo, ele não poderia ter impedido", comenta.

Nas palestras dadas no colégio, os funcionários recebem orientações sobre segurança, assim como sobre o controle de quem entra e sai. A Secretaria Municipal da Educação vai receber o apoio e acompanhamento da Patrulha Escolar para ajudar alunos, pais e professores a se recuperarem do trauma. (AS)

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A professora Sílvia Regin da Silva, de 42 anos, foi morta a tiros na frente dos alunos, no pátio da Escola Municipal Antônio Prado, na Colônia Antônio Prado, em Almirante Tamandaré (Grande Curitiba), por um motoqueiro que entrou à sua procura. Ela começou a dar aula na escola no início do ano para as disciplinas de Artes e Educação Física e depois assumiu a quarta série.

De acordo com a professora responsável pela escola, que não tem diretor, Vilma Moreira de Figueiredo, por volta das 11 horas Sílvia recebeu uma ligação no celular e respondeu que aguardava o interlocutor na escola às 11h30. Nesse horário uma moto azul com dois homens parou na frente da instituição de ensino. O motociclista entrou e perguntou por Sílvia. A servente o deixou entrar. Ele foi até um bebedouro, tomou água e se dirigiu ao pátio onde Sílvia – que usava um gorro de Papai Noel – brincava com oito crianças, na faixa dos 9 e 10 anos, e segurava uma delas pela mão quando foi baleada.

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O tenente da Polícia Militar Dalton Perovano, que chegou ao local um hora depois do crime, conta que a professora vendia produtos da Avon e a servente pensou que o motoqueiro ia pegar uma entrega. Os alunos disseram ter ouvido pelo menos cinco tiros. As aulas foram encerradas até o fim do ano.

Depois da PM, a Polícia Civil e peritos do Instituto Médico-Legal (IML) foram ao local. Por volta das 13h30, o corpo foi levado ao IML. Segundo o laudo da Criminalística, havia nove perfurações e nenhuma cápsula foi encontrada no local.

Suspeito

De acordo com a Secretaria da Segurança Pública do Paraná, o ex-marido da professora, Daniel Angelo Silva, é o principal suspeito. Ele teria deixado o local de trabalho às 11 horas e até o fim do dia não retornou. A polícia o procura para que preste depoimento.

Sílvia saiu da casa em que vivia com Daniel havia pouco mais de um mês. Mas, de acordo com parentes, eles estavam separados há três anos e mantinham uma relação conflituosa. Ele esteve na escola após o crime, entrou e saiu correndo. O casal tem três filhas, de 21, 17 e 4 anos, que moravam com a mãe desde que ela comprou uma casa e deixou a que dividia com o ex-marido. Abaladas, elas estavam em estado de choque. Segundo uma amiga da filha mais velha, Daniel também passou na casa de Sílvia rapidamente depois que deixou a escola.

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Perfil

Considerada boa professora e uma pessoa calma, Sílvia era querida por amigos e parentes, inclusive pela família do ex-marido. Esforçada e trabalhadora, lutou para comprar sozinha a casa em que morava com as filhas.

Freqüentava uma igreja evangélica, onde tocava na orquestra. Dava aulas pela manhã e nos outros períodos fazia bicos para ajudar no orçamento da família. Perdeu o pai há muitos anos e a mãe morrera em 2006.

Luciana Lisboa, uma de suas amigas mais antigas, diz que um dos lazeres preferidos de Sílvia era passear em chácaras. "Ela dizia que não queria casar mais", conta. "Estava se dedicando às filhas e à casa nova. Ela estava comprando os móveis aos poucos."

Laura Lisboa, amiga da vítima há 12 anos, conta que ela tinha a tutela de um dos irmãos, portador de deficiência mental. "Era muito responsável e boa mãe", garante. "Não tinha inimigos nem briga com ninguém."

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